O sonho de Eike Batista
08/02/12 00:14“É fácil estar diante de um projeto e vaticinar que não vai dar certo”, diz o maior empresário brasileiro, Eike Batista, no seu livro “O X da Questão”.
Ele tem, é claro, muitas histórias de sucesso para contar –e tudo deu certo até agora. Mas, para este modesto aplicador de dinheiro em fundos que não dão trabalho nem trazem risco, o livro de Eike Batista desperta mais preocupação do que entusiasmo.
O estilo é objetivo, seco, germânico (o nome dele, como de seus irmãos, vem da origem alemã por parte de mãe). Frases curtíssimas, pouca atenção à anedota e ao detalhe, conferem aparência de sobriedade ao relato.
Só que os lances de êxito contados por Eike Batista, em que pese toda a sua capacidade empresarial, parecem terrivelmente fundados na pura sorte.
“Acredito na sorte. As circunstâncias externas, alheias ao negócio, aquelas que escapam até mesmo a uma visão abrangente, me favoreceram em momentos-chave,” diz ele. E continua:
“Não me vejo diminuído em nada ao admitir os bons ventos como aliados. Um bom exemplo foi minha ‘vitória pessoal’ contra a malária. [Eike negociava in loco com os garimpeiros de Alta Floresta, norte do Mato Grosso]. Meus cuidados se resumiam a não pescar na beira do rio por volta das quatro ou cinco horas da tarde e tomar um gole de cachaça com alho. Eu rompia com a lógica de relaxar com a pescaria depois de um dia de trabalho. Ao contrário dos demais, me escondia numa casa que havia cercado de telas. E tomava lá meu gole de cachaça com alho.”
Isso é confiar um bocado na própria sorte.
A fortuna de Eike começou com sua confiança no potencial da mina de Alta Floresta; ele apostou, com muita pesquisa sem dúvida, na possibilidade de tirar ouro de lá com mecanizando o garimpo. Deu certo; mas era uma aposta altíssima, “com as bênçãos de Cortés e Pizarro”, como diz um capítulo do livro.
Outra aposta foi numa mina do Chile, “de grande potencial, cercada de toda sorte de entraves”. Havia um rolo jurídico que, segundo especialistas, demoraria dez anos para ser resolvido. Era preciso trazer água de uma distância de 150 km. Era loucura, mas deu certo.
O fato de ter dado certo, e continuar dando certo até agora, não significa que possa dar daqui para a frente. Para um Eike Batista, outros cem, talvez tão trabalhadores e inteligentes, quebraram a cara. A sorte, ou a estatística, confere a uma pessoa o sucesso que as demais não obtiveram.
Volto à frase inicial. Muita gente não acreditava nos projetos de Eike Batista, diz ele. Mas “no instante em que o dinheiro se misturou ao sonho, as pessoas se encantaram… Todos ficaram boquiabertos quando a Anglo American desembolsou U$ 7 bilhões em participações da MMX… O valor de mercado da companhia alcançou cerca de US$ 10 bilhões. Em apenas um ano e meia, a MMX havia se valorizado mais de seis meses.”
Eike conclui: “é o que chamo monetizar um sonho”.
Monetizar um sonho? O termo é interessante, mas não me considerarão muito espírito de porco, espero, se observar que “monetizar um sonho” é exatamente o que faz todo especulador, quando sobram dólares para investir.
Os filhos de Eerinice, Dirceu, Lula, Renan, Sarney… fututamente farão o mesmo: escrever livro mais para zombar dos otários.