Os Descendentes
08/02/12 22:12 “Os Descendentes” ganhou cinco indicações para o Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor montagem, melhor roteiro adaptado e melhor ator (George Clooney).
Não torço a favor. Todos os atores de “Os Descendentes” mereceriam ganhar o Oscar; todos, menos George Clooney. Na verdade, ele parece desperdiçar as chances de uma boa atuação no papel do pai de família angustiado, tentando se relacionar com as duas filhas enquanto a mulher está em coma no hospital.
A ideia é que ele tem de se comportar como um tipo decente, enquanto todos os coadjuvantes fazem coisas desagradáveis e se mostram insensíveis. Grandes coadjuvantes, de fato: a filha mais velha, evoluindo da revolta para a cumplicidade (Shailene Woodley); o namorado da moça, um garoto retardado emocionalmente, ou apenas capaz de dizer todas as cretinices das quais nos arrependemos mais tarde na vida (Nick Krause); o sogro, velhote de maus bofes e com inveja da riqueza de Clooney (Robert Forster); até o médico que dá as más notícias sobre a mulher de Clooney é excelente.
Todos sustentam a ideia mais simpática do filme, que é a de mostrar que mesmo pessoas capazes de atos muito agressivos e estúpidos são capazes de mostrar, com a mesma sinceridade, afeição bonita pelo próximo.
A ideia é um pouco melosa, reconheço, e a direção de Alexander Payne resolveu acentuar isso ao máximo, com uma incansável guitarra havaiana pontuando a inexpressividade de Clooney enquanto o mundo desaba e se reconstrói à sua volta.
O problema é que enquanto a “mensagem” do filme tende para o sentimental, cada episódio da história não resiste a ter toques (aliás bem bons) de comédia. Os qüiproquós, os mal-entendidos e as respostinhas dos personagens são irônicos e bem-sacados. Cada personagem, tirado do filme, teria um ótimo papel numa comédia, mas o filme não quer ser uma comédia.
A continuada agoniada da mulher de Clooney no hospital (tudo poderia ter sido mais coerente se ela tivesse morrido no começo do filme) contradiz o tipo “comédia familiar”, no gênero “Papai Sabe Tudo”, a que o filme, e o próprio Clooney, estariam mais adaptados.
Clooney não pode ser engraçado, mas não pode tampouco ser desastrado e rude como os demais personagens. Ele é boa pessoa e está sofrendo. Em diversas cenas, podemos imaginar uma quantidade de pensamentos e emoções contraditórias tomando conta do personagem. No meio das contradições, Clooney fica paralisado, com a mesma cara de George Clooney de sempre.
“Os Descendentes” sofre de uma desorientação total quanto ao que pretende ser –e se houvesse um anti-Oscar de direção, Alexander Payne seria o meu palpite de barbada.
Eu discordo totalmente. Os Descendentes é um grande filme.
Este filme ser premiado, seria na verdade uma premiação a mediocridade contemporânea, sobretudo as familias decadentes que perderam completamente seu papel no mundo do consumo.
Caro Marcelo, curiosamente, assisti ao filme ontem à noite e, ao acessar a rede agora, dou de cara com seu texto. Penso que a tensão entre a situação dramática e a maneira cômica de “narrá-la” responde pelo melhor do filme, porque cria certa atmosfera de estranhamento, que costumamos encontrar em literatura fantástica, mas não em filmes. Gostei bastante!
O que mais gosto das discussões é perceber que não há unanimidade. Cinema é antes de tudo entretenimento e vi um roteiro fluente de uma história a ser contada. Não me interessa ser ganhará o Oscar, pois os ganhadores nem sempre serão os bons filmes que gostarei de rever no futuro.
Ah, pode parecer que não, mas gostei do texto!
Que maldade, George Clooney é um gato… Gostaria de acescentar a pior personagem desse longa: a monga casada com o corretor de imóveis adúltero. A performance dela no quarto do hospital dá de dez nas cenas do retardadinho amigo da filha.
Grande performance de Judy Greer, a “monga”… Monga?