Saquinhos plásticos
08/02/12 21:46Um trecho do artigo publicado hoje na “Ilustrada“.
O velho saquinho gratuito não deixa saudades. Quantas vezes não se rompeu, esparramando molho de tomate e xampu no chão do elevador? Uma fissura mínima naquela pele esbranquiçada se alargava em menos de um minuto; desventrava-se o conteúdo. Pior se o saco plástico estivesse carregando o lixo da cozinha.
Vale lembrar uma diferença com o sistema alemão. Da primeira vez em que fui ao supermercado, agi como brasileiro, isto é, com inocência. Ainda assim a inocência me favorecia, o que também é comum com os brasileiros. Ou seja, não sabia que cobravam pelos saquinhos. Estavam espalhados, como aqui, no balcão do caixa, e peguei os de que precisava.
Ninguém reclamou. Ninguém me disse que era preciso pagar. O preço não vinha incluído no papelzinho do caixa.
Do mesmo modo, nos Estados Unidos, costuma-se pegar o jornal numa caixa de plástico e deixar o pagamento ali mesmo, sem ninguém para verificar se o consumidor é ladrão ou não é.
Na biblioteca do Instituto Goethe, onde eu fazia um curso, também não havia funcionário para ver que livro eu tinha retirado, e quando iria devolvê-lo. O professor, um jovem alemão politicamente correto, explicou o sistema para a classe heterogênea em que eu estava matriculado.
“Confiamos em vocês”, disse para aquele grupo de turcos, gregos, paquistaneses, brasileiros, italianos e filipinos. “Peguem os livros que quiserem e devolvam depois de uma semana.”
Ele não tinha lido, provavelmente, os últimos artigos sobre a essência canalha, animal, egoísta e cruel do ser humano. Naquela época não estavam tão em moda.
De qualquer maneira, o sistema dava certo; ou porque os mais desonestos não se interessavam pelos livros da biblioteca, ou porque a tão vilipendiada “natureza humana” costuma reagir bem quando é bem tratada.