Mau gosto de Nava
25/02/12 13:25Falei do convencionalismo e do mau gosto presente em vários trechos das memórias de Pedro Nava, cujos dois primeiros volumes resenhei para a “Ilustrada” de hoje.
Um aspecto que prejudica bastante “Baú de Ossos”, além do detalhismo da genealogia, é o esforço, em última análise puramente verbal, de imaginar cenas da vida de antepassados, sem outro recurso para isso do que o lugar comum.
Veja-se isto, na página 50 da nova edição da Companhia das Letras.
Como se terão entrevisto meu avô e minha avó? Nas ruas de areia branca, só cortadas pelos carros do negociante português Carneiro e do coronel José Albano? (…) Nas missas dominicais a que as senhoras e donzelas abastadas e as mulheres do povo compareciam de saia balão ou rodada(…)? Nos passeios das famílias às praias, em noites de luar, quando a teoria das moças em flor seguia rente ao mar, todas se segurando à cinta e cantando? Ainda à luz da lua nas rodas cheias de riso que se formavam na porta das casas, as cadeiras na areia da rua?
É uma espécie de “evocação” do tempo dos lampiões de gás e dos bilboquês, mas –especialmente problemático num livro de memórias—sem nada de vivido.
Marcelo, quando li os primeiros volumes de memórias do Nava gostei muito das memórias dele no internato, da descrição de uma viagem de trem Rio-Vitória e, sobretudo, de uma feijoada que me provocou uma fome desmedida.
Quando tentei ler as memórias do Nava, me pareceram uma tentativa banal de imitar o Proust, mas Proust só existirá um. A investigação que o escritor Eno Theodoro Wanke fez sobre o próprio passado é bem mais interessante.
Acabei de ler no livro Minhas Histórias dos Outros, de Zuenir Ventura, um relato sobre o suicídio de Nava, uma história que envolve Otto Lara Resende, Artur Xexéo e José Castello, maiores detalhes só lendo o livro de Ventura.