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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
10/04/12 18:44

Algumas crônicas recentes, ou nem tanto, publicadas no “Agora”.

ASSIM NÃO DÁ

Sujeira. Maracutaia. Corrupção.
É o clima de Brasília.
O dr. Severiano se espantava.
–Como? O Demóstenes metido nisso?
Sérias denúncias contra um senador.
–Ele era tão firme na luta contra a corrupção…
A secretária ouvia em silêncio.
–Contato com um bicheiro… quem diria.
Severiano tomou um gole do café.
–Glêice, minha filha… liga lá para o bicheiro…
Glêice teclou o número sigiloso.
–Alô… então, é sobre o caso do Demóstenes…
Uma pausa. Severiano continuou.
–Minha filha casou no ano passado.
Ele começou a gritar.
–E é só para quem tem panca de honesto que você dá presente?
Severiano desligou com um suspiro.
–Não existe maior injustiça do que um corrupto mal pago.
A desonestidade, por vezes, reclama seus direitos também.

VALOR DE UM DIPLOMA

Fraudes. Maracutaias. Burrice.
Vai mal a educação neste país.
Era tensa a reunião nas Faculdades Professor Pintassilgo.
–O MEC quer fechar a faculdade.
Diplomas falsos. Alunos fajutos. Ensino de fachada.
–Cadê o chefe do Jurídico?
O dr. Savínio chegou com a papelada.
–Por cem mil dólares a gente resolve com os fiscais.
–Cadê o chefe do Financeiro?
O dr. Grimaldi deu a ideia.
–Parcerias. Fala com o Quinzão.
Um dos principais traficantes da faculdade.
Em troca da grana, ele exigia exclusividade no comércio.
–Tudo bem. Alguma coisa mais?
–Queria também um diploma. Em Direito, de preferência.
Quinzão pensa na prisão especial em caso de imprevisto.
–Mas gosto mesmo é que me chamem de doutor.
Valorizar a educação é o ideal de todos.

A QUESTÃO É O RECHEIO

Beleza. Charme. Pilantragem.
A gangue das loiras traz medo à família brasileira.
Sequestros relâmpago. Realizados por mulheres de tipo nórdico.
Dona Walkíria tinha 70 anos. E estava revoltada.
–Tão bonitas… deviam é arranjar um casamento.
A TV mostrava as acusadas.
–Hum… essa aí nem loira é.
O relógio de cuco avisou.
Hora do cabeleireiro.
Duas amigas comentavam as notícias da semana.
–Essa gangue… me dá uma raiva.
Depois, uma paradinha na Confeitaria Doce Ilusão.
–Esquenta para mim esse pão de queijo, meu bem?
A garçonete virou de costas um momento.
Foi o tempo de Walkíria esconder três ovos de Páscoa na bolsa.
Na delegacia, ela diz que é culpa do Alzheimer.
A cor do cabelo não importa.
Pior é o que se guarda dentro da cabeça.

A HORA DO TAMBORIM

Samba. Cerveja. Carnaval.
Era grande a preocupação de dona Eurides.
–Nessa época, o Djalma fica louco.
Trinta anos de casamento.
–Meu batom você não pega, Djalma.
–Ahn? O quê?
–Ouviu? Nem minha combinação.
Usar as roupas da mulher era irresistível para o octagenário.
–Está surdo, Djalma?
Mas os sapatos de salto alto já metralhavam o asfalto citadino.
O Bloco das Bem-Amadas festejou a chegada do seu mais antigo folião.
O desânimo, entretanto, tomou conta do velho aposentado.
Ele já não acompanhava o ritmo dos tamborins.
Voltou para casa antes das seis.
–Cansou, Djalma?
–Ahn? O que você disse?
Ele não mais ouvia a mulher com nitidez.
–Fingiu de surdo a vida toda… acho que agora é pra valer.
Quando a hora é do surdo, não se ouve o tamborim.

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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Comentários

  1. Antonio comentou em 13/04/12 at 19:45

    Tentei ler, mas não consegui enxergar, de tão pequenas as letras. Tá igual bula de remédio ou contrato de adesão. E o pior é que não funciona o zoom.

  2. Gildo Araújo comentou em 12/04/12 at 19:42

    Peça em curtíssimo ato.
    Sarney: “Eu não quero que meus atos secretos sejam investigados”.
    Lula: “Eu quero que os 70 requerimentos da Oposição para investigar a Petrobras sejam derrubados”.
    Sarney: “Eu topo”.
    Lula: “Eu também”.
    E foram felizes para sempre.

  3. Maria Madalena comentou em 11/04/12 at 10:47

    o jornalismo desonesto também reclama seus direitos: total liberdade de expressão para praticar o corporativismo, o acobertamento de interesses, as guerras ideológicas de desqualificação, entre outros.

    Voltaire de verdade, não de Souza: “O século das luzes muda radicalmente o enfoque de como conceber a verdade. Ela se torna crítica: tem como papel essencial tornar inoperantes as mentiras dos poderosos. É o fim das hierarquias, das distinções, das áreas sombreadas”.

    “Pois esse homem, antes de tudo, é alguém que tem boa pontaria para criticar o poder e a universal besteira” (Filosofia em cinco lições, Roger-Pol Droit).

    Que leitores de jornal não precisem temer a expressão de suas opiniões que vão de encontro aos textos escritos.

  4. Rita Cássia comentou em 11/04/12 at 1:51

    Da hora!

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