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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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teimosia da imaginação

Por Marcelo Coelho
18/04/12 01:07

Deixei de lado, por questões de espaço, alguns comentários sobre a mostra “Teimosia da Imaginação” no artigo desta quarta para a Ilustrada.
Uma coisa que eu queria apontar, dentro das distinções entre “arte popular” e arte culta, é que hoje em dia até mesmo os artistas mais populares, em sua origem e modo de vida, podem facilmente estar informados sobre os desenvolvimentos da arte culta.
É difícil não ver algumas bandeirinhas e fachadas de Volpi nos quadros de Aurelino dos Santos (Salvador-BA, 1942); mais ainda, as construções do uruguaio Torres García estão presentes na geometria dessa pintura.

Aurelino dos Santos, no site catracalivre

Joaquin Torres Garcia, no www.allposters.com.br

Do mesmo modo que, no artigo, eu dizia que alguns quadros do “culto” Guignard passariam por arte popular aos olhos de algum estrangeiro alheio às nossas distinções internas de classe, também a obra de Aurelino dos Santos é perfeitamente “culta”, se ignorarmos as suas condições biográficas.
Talvez se possa dizer que o mais “popular” em seus quadros é aquela espécie de horror ao vazio, a necessidade do “preenchimento”, tão comum no artesanato –e que volta na exposição com os relevos, que já me cansaram um pouco, de Jadir João Egídio, de Divinópolis. Mas esses relevos não parecem, por vezes, os de Gauguin?
E se falarmos em horror ao vazio como característico de “arte popular”, um artista como Hundertwasser mereceria ser qualificado de folclórico também –não fosse clara a influência que recebeu de Klimt.

Hundertwasser, "A arca de Noé", no site allposters

Klimt, "A árvore da vida", no allposters

Seja como for, nem sempre a pintura primitiva, com todos os achados que possa ter, é capaz de criar um verdadeiro espaço no quadro; pode criar formas, imagens, mas o domínio do espaço é outra coisa, seja graças ao uso da perspectiva, seja no uso do vazio, dos intervalos na narração de uma cena, no estilhaçamento cubista, etc.
Numa pintura claramente “popular” e naif da exposição, feita por Nilson Pimenta, de Caravelas, Bahia, o espaço é entretanto criado maravilhosamente. Um jogador de sinuca se inclina sobre a mesa, enquanto à sua frente, montada na quina oposta, uma mulher observa seu jogo. Pode até nos entreter a ideia de que a conotação sexual seja inconsciente nessa imagem de taco e caçapa; mas duvido que o pintor não tenha desejado dizer exatamente aquilo que imaginamos.

Pouco importa. O interessante é que, na intenção de criar uma perspectiva da sala, o artista fez um jogo de triângulos, sutilmente esmaecidos por várias camadas de tinta (que pretendem imitar o rodapé meio descascado da parede da sala de jogos). Inventou uma porta se abrindo no vértice do triângulo, que dá para outro ambiente, o que reforça a sexualidade do tema principal do quadro –e já estamos longe de algo meramente instintivo.

Ou melhor, trata-se de algo tão instintivo quanto a arte de Picasso ou de qualquer outro artista “erudito”. Não quero dizer com isso que não existam diferenças entre uma coisa e outra. Mas sim que, em certo plano de realização estética, a relativa pobreza ou riqueza dos recursos, do repertório, das informações que cada artista possui não altera o que ele tenha de realmente satisfatório do ponto de vista formal. É o que ele faz com aquilo que tem, e não aquilo que ele tem, o que importa.

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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