A regra dos 40 anos
21/04/12 14:07Falei do declínio da nostalgia pelos anos 1950, e do crescimento da nostalgia pelos anos 1960, num artigo para a Ilustrada há um tempinho atrás:
Teremos de nos adaptar, agora, aos anos 60. É o que vejo em algumas novas lanchonetes paulistanas. No começo, a gente pensa que é a mesma coisa. Mas a diferença é promissora.
A fórmica e o plástico não deixam de estar presentes. Mas, em vez dos bancos fixos e dos sofazões vermelhos, surgem cadeirinhas mais leves, com perninhas de ferro, e encostos em tons pastel.
Pastilhas quadradinhas revestem as paredes. As luminárias, desistindo da horizontalidade fluorescente da década anterior, aparecem em pares delicados e cônicos. Certa tendência para o xadrez, para o riscadinho, substitui a volúpia das superfícies lisas e brilhantes.
A estética do seriado “Madmen”, com seus carpetes azul-claro, tubinhos verde-musgo, paredes rosa e cortinas de lavanda, vence as tonalidades quentes da década anterior.
A antiga aposta no “aerodinâmico” (carros com rabo de peixe, mesas de centro em forma de ameba, sutiãs como foguetes) é deixada de lado. O retilíneo, o leve, o justinho triunfam. Jane Mansfield dá lugar a Jean Seberg.
Há algo de mais andrógino, com efeito, nos anos 60 –basta dizer que os homens começaram a usar cabelo comprido, e que as calças compridas, não mais flutuantes, entraram de vez no vestuário feminino.
Deixam de existir, também, os tipos humanos clássicos da década de 1950. A dona de casa feliz na sua cozinha nova, o pai tranquilo com o barbeador elétrico, o menino de camiseta listrada e calça rancheira, foram tragados por algum aspirador gigante.
Surgem o universitário de gravata estreitinha e a adolescente que se liga em Paris. Acima de tudo, os negros começam a se tornar visíveis. Barack Obama, no fundo, tem um visual anos 60: foi a vitória, talvez frágil, sobre a hegemonia dos “fifties” iniciada com Ronald Reagan.
Num artigo para a revista “New Yorker”, Adam Gopnik formula a “regra dos 40 anos”, segundo a qual a nostalgia é sempre por quatro décadas atrás. A época que corresponde, segundo ele, à data do nascimento da maioria dos executivos dos estúdios e televisões, quarentões quando começam a ter poder. É uma teoria:
The seventies’ affection for the thirties—“The Sting,” “Paper Moon,” and so on—was one of the tonic notes of the decade, while the eighties somehow managed to give the Second World War a golden glow (“Raiders of the Lost Ark,” “Empire of the Sun,” “Hope and Glory,” “Biloxi Blues”), helped along by women working on the assembly line (“Swing Shift”).
In the nineties, nostalgia for the fifties took a distinctly sumptuary turn: think of the revivalist fad for Hush Puppies and Converse All Stars, or the umpteen variations that the Gap rang on its “Kerouac Wore Khakis” campaign. In “Men in Black,” a perfect piece of nineties entertainment, Tommy Lee Jones and Will Smith showed how skinny ties could help defeat even the fiercest extraterrestrials.
Our own aughts arrived with the sixties as their lost Eden, right on schedule. That meant too many sixties-pastiche rock bands to mention (think only of Alex Turner, of Arctic Monkeys, sounding exactly like John Lennon), with the plangent postmodern twist that in some cases the original article was supplying its own nostalgia: there were the Stones and the Beach Boys on long stadium tours, doing their forty-year-old hits as though they were new. With the arrival of “Mad Men,” in 2007 (based on a pilot written earlier in the decade), sixties nostalgia was raised to an appropriately self-conscious and self-adoring forty-year peak.