Zizek e a ecologia
01/05/12 22:27Slavoj Zizek é um pensador muito interessante e divertido, mas o blog de Andrew Sullivan na revista “Atlantic” tem razão ao apontar a superficialidade de suas opiniões sobre ecologia –e poderia apontar outras besteiras também.
Neste vídeo, que faz parte de um documentário sobre o filósofo, vemos uma crítica fácil ao que seria o conservadorismo do pensamento ecológico. Ou seja, Zizek diz que os ambientalistas entram numa mistificação ideológica ao imaginarem uma natureza “boa”, ou pelo menos perfeitamente equilibrada, que só a intervenção “do homem” vem estragar. Nisso haveria, para Zizek, boa dose de idealismo.
Mas dá para fazer a seguinte comparação. Os médicos acreditam num estado ideal e abstrato, a que chamam de “saúde”, e estão sempre “ideologicamente” querendo que esse equilíbrio seja recomposto. E criticam, por exemplo, o sujeito que fuma, pois ele está afetando de forma desastrosa esse estado de saúde. Será que Zizek diria que a medicina é uma “ideologia”, apenas porque projeta no corpo humano um ideal de equilíbrio inexistente na prática?
Afinal, de que “ecologistas” Zizek está falando? Não haveria os que, sem incorrer em grande romantismo conservador, apostam em formas de agricultura e indústria menos agressivas ao meio ambiente, e, coincidentemente ou não, pensam num modelo mais comunitário ou equitativo de produção de bens?
Seria “ideologia conservadora” considerar um dos efeitos maléficos do capitalismo a destruição do meio ambiente?
Seria o capitalismo “irreformável”, aliás? Não temos visto, ao longo dos últimos dois séculos, uma série de reformas bem sucedidas (provisórias mas bem sucedidas), do ponto de vista da esquerda, frente ao desastre ecológico e social da Inglaterra de 1820 por exemplo?
A mistificação conservadora, sobretudo quando sustentada por sabichões, pensa que é capaz de relativizar o fato de , por exemplo, a exploração de áreas de altitude na serra da Mantiqueira para plantio de eucalipto a destruir as nascentes que matam a sede de muita gente boa que, em meio ao debate sobre o novo código florestal, sequer imagina que crimes como esses nunca foram e pelo jeito nunca serão punidos, ora porque não são fiscalizados ora porque a fiscalização de fachada só penaliza pequenos proprietários ou agricultores que, vivendo “da mão para a boca”, alimentam os números da burocracia que oculta uma impunidade que nem é exclusiva para crimes ambientais graves como esse que dei de exemplo (porque é realidade da qual sou testemunha).Se existem os chamados “xiitas ambientais”, que nomenclatura estaria a altura daqueles que acham natural a farra dos juros bancários aqui na terra das bananeiras ou mesmo pelas bandas onde a defesa covarde dos que são “muito grandes para quebrar” justifica toda sorte de “austeridade” que na verdade está conseguindo convencer parte dos europeus a viverem de batatas em plena década das “alavancagens” trilionárias – estas sim – de um poder mistificador e de um enraizamento político capazes de disfarçar comentadores moralistas em pensadores de um pretenso inelutável que outro não é senão o fracasso de um liberalismo patrimonialista e canalha??
Qual foi o desastre ecológico da Inglaterra de 1820?
Refiro-me à fumaceira da primeira revolução industrial.