Baixarias literárias
08/05/12 01:13Acabo de ler o primeiro volume (até 1922) das cartas de T.S. Eliot. Como disse em post anterior, ele sempre parece agir de forma extremamente correta no meio das intrigas literárias. Não fala mal de ninguém, por exemplo.
Mas há uma exceção –o caso de Katherine Mansfield, excelente contista aliás.
Numa carta a Ezra Pound (7/11/1922), ele comenta os elogios que Mansfield recebera de uma ricaça, Lady Rothermere.
[Katherine Mansfield] não é de modo nenhum a mulher mais inteligente que Lady Rothermere já conheceu. Ela é apenas uma das mais persistentes e calejadas puxa-sacos e uma das mais vulgares mulheres que Lady Rothermere já encontrou e é também uma demente sentimental.
Verdade que com Ezra Pound ele tomava mais liberdades do que com qualquer outro correspondente seu. De qualquer modo, o seu humor foi azedando depois dessa data.
Eliot já tinha terminado, e iria publicar, com grande sucesso, The Waste Land. Mas sua crise pessoal ia se agravando. As doenças de Vivien, sua mulher, eram cada vez mais frequentes. Ele se esgotava, trabalhando durante o dia no Lloyd’s, em posto de grande responsabilidade (coordenava os contratos internacionais do banco) e começava a editar a revista Criterion, nas horas vagas.
Para piorar, ele foi vítima de uma baixaria violentíssima. Não sei se há casos semelhantes no Brasil, mas o caso é o seguinte.
Amigos, preocupados com o esgotamento mental de Eliot, insistiam para que ele saísse do banco e resolveram fazer uma espécie de vaquinha para sustentá-lo. Um belo dia, sai a notícia anônima, num jornal de Liverpool, que Eliot aceitara embolsar o dinheiro … e continuar no banco. Na verdade, ele colocou o dinheiro recebido num fundo, fazendo questão de nem tocar nele, apesar das dificuldades financeiras que tinha, agravadas pela doença da mulher. Insistia em ficar no banco porque temia deixar a mulher sem pensão, caso morresse antes dela.
Pior ainda, Eliot recebe uma carta anônima, em termos supostamente simpáticos, dizendo que o remetente se solidarizava com as dificuldades financeiras do poeta, e incluía uma quantia para ajudá-lo.
Junto da carta, vinham três selos no valor de poucos centavos.
O primeiro volume das cartas termina com Eliot tentando descobrir quem fora capaz de fazer uma brincadeira tão odiosa.
Marcelo, despeço-me da leitura do seu blog e da Folha de São Paulo. Espero que não haja ninguém em campanha de difamação tão violenta a ponto de usar meu nome, de má-fé, de outros modos etc.
Sabe o que acontece em muitos casos? A baixa autoestima ou o meio no qual se está inserido, quando muito malicioso, impedem que se acredite nos outros, inclusive nos elogios dos outros. Há ainda as linhas separatórias entre ser alguém e não ser ninguém, entre ricos e pobres etc. etc. Eu sempre refleti: os ricos costumam ter medo dos pobres e, em muitos casos, acham que quando eles se aproximam é por interesse (como a gente vê em algumas novelas). Mas, paradoxalmente, eu sempre vi os ricos usando os pobres, inclusive em relações amorosas. A mentalidade das pessoas pode ser muito maluca e passar por normal.
posso até usar um codinome, “a cidadã ninguém”… mas usar codinomes está chato, prefiro a democracia sem medo.
Aliás, essas campanhas, insinuações ou perseguições implacáveis já estão muito chatas. Não vou deixar de manifestar minhas opiniões.
Olá, Marcelo! Apenas para esclarecer: anonimato, puxa-saquismo ou vulgaridade não dizem respeito a mim. Inclusive noto que há constantes insinuações e perseguições, tais como a de Thess, cujo link nunca acessei, com medo de me contagiar com algum vírus…