Giacometti
23/05/12 13:19Um trecho do artigo publicado hoje na Ilustrada, sobre a exposição Giacometti na Pinacoteca:
Morte e vida se misturam de outra forma nas esculturas do autor. Cada ser humano, esquálido como um pavio, está com os pés firmemente presos no pedestal de bronze.
Toda aquela imobilidade não se confunde com solidez, e mal tem volume próprio: quer reduzir-se ao estado de perfil, de recorte, de rabisco.
Na época em que viu o cadáver de T., Giacometti começava a experimentar em sua escultura a sensação do isolamento. Ao fazer a escultura de uma cabeça, Giacometti diz que via “o vazio em torno dela”.
Nas estátuas mais típicas de Giacometti, esse vazio ganha uma dimensão no tempo. Não se trata apenas de um espaço vago, sem nada.
É um vazio que parece crescer e mover-se no tempo, corroendo a figura humana, reduzindo-a a poucos fiapos de carne e vértebra.
No octógono da Pinacoteca, vemos o “Homem que Anda”: a estátua de Giacometti lembra outra, com o mesmo tema, feita por Rodin.
O andarilho de Rodin dava seus primeiros passos, fortes e dolorosos, após a expulsão do Paraíso. O de Giacometti se inclina num ângulo difícil, já próximo do final de seu caminho.
Não inspira desprezo nem compaixão, contudo. Ele se move com cautela, carcomido e frágil, mas seu rosto ainda olha para a frente. Não nos viu. Não devolve o nosso olhar. Mesmo assim, acho que devemos saudá-lo com respeito. Ele anda, mas não passará tão cedo.
A íntegra do artigo, para assinantes, pode ser lida aqui
Seguem as duas esculturas, a de Giacometti e a de Rodin.
- Rodin, Homem que Anda (1907)- wikimedia