Uma escola na periferia (4)
25/05/12 01:53Mais um golpe contra o meu preconceito. No final do encontro que tive com os alunos da EMEF Henrique Felipe da Costa, no Itaim Paulista, houve uma rápida sessão de autógrafos.
Se você pensa que na periferia os pré-adolescentes têm nomes do tipo Jihanny ou Toffson, está muito enganado. O que predominava eram as Vitórias, as Letícias, as Camilas.
Mesmo os nomes de origem estrangeira vinham na grafia correta: Hannah, como a Arendt, e Johnny, como o Weissmüller.
Perguntei à professora Márcia, que me convidara, se era essa a tendência geral.
Bem, ela respondeu, como na sala de projeções (com TV de tela plana) onde estávamos não caberiam as quatro classes da 6ª. Série, é verdade que uma seleção foi feita previamente; estavam ali os alunos mais interessados.
Entre eles, entretanto, cabe notar que estava o filho de um traficante da região, assassinado não fazia muito tempo.
De modo geral, os alunos melhores eram aqueles que vinham de famílias bem estruturadas.
Perguntei se seriam evangélicos.
Mais um preconceito caía: “há evangélicos terríveis entre os alunos”, ela me respondeu. “Talvez o excesso de disciplina em casa seja descontado aqui.”
Entrei para ver sobre os conservadores e olha o que encontrei!! Conheço uma criança q estuda nesta escola. A mãe aparece de vez em quando na igreja quando o bicho tá pegando em casa.
Li a coluna do Helio “Ao vivo e em cores” e me perguntei se a educação baseada no “Silêncio!” que eu tive na ótima escola pública em que eu estudei e que (ás vezes) imponho aos meus alunos não seria contraproducente.
Já ouvi reclamações sobre as crianças evangélicas mas existem dois pontos importantes.
Muitas crianças evangélicas estão em famílias desestruturadas e uniparentais pois ao contrário do que se pensa a igreja cristã é o lar dos atrapalhados e cheios de problemas tentando recomeçar uma nova vida.
Existe hoje uma mentalidade na igreja evangélica de criança deve ser criança e as criançices são razoavelmente toleradas.
Diferentemente dos educadores seculares q precisam de “Silêncio!” para exercer sua função.
Precisamos sim reestruturar nossa educação e nossas mentes.
Parabéns pelo reconhecimento de seus leitores.
Obrigado, Tamar!
Boa tarde Marcelo
– Meu nome é Luiz e li suas postagem com interesse, os comentários da sua visita à esta escola da periferia demonstra realmente a preocupação do escritor frente a bons leitores e futuros leitores, as “leituras” que fez da comunidade escolar mostram situações que envolvem práticas sociais, digo isto me referindo a escola enquanto equipamento social, um agente transformador do seu entorno, problemas são enfrentados por pessoas que tem capacidade ou deveriam em lidar com imprevistos. Esta escola de modo geral mostra vontade necessária para realizar seu papel e muitas vezes. É um fenômeno social famílias desestruturadas, o que daria uma dissertação ou muitas dependendo do enfoque para pessoas interessadas em ter respostas a questões que envolvem: o papel da escola, o ensino/aprendizagem, o real papel da família nesse processo e a estrutura física da escola. Fico feliz particularmente em saber que nesta escola possui uma TV de tela Plana, ainda mais por ser “periferia”, a escola sim deve oferecer o que tem de melhor na atualidade, além de tela plana gostaria ainda que esses alunos tivessem tela interativa igual a que muitas escolas particulares tem em todas as salas de aula, que os(as) professores(as) tivessem a meu ver um posto de intelectuais frente a sociedade. Se colocar qualquer criança na frente do computador para realizar atividades dela ou específicas, dará um banho em muitos adultos(geração y ou z?). Eu particularmente não gosto de pichação (?); uma escola limpa, sem depredações, como demonstra sua observação sobre sua arquitetura e que não atende aos seus requisitos e de muitos outros também, nos faz pensar no Historicismo(claro isso fazendo um levantamento sério), oras a cidade de São Paulo cresceu exorbitantemente, se formos analisar seus mapas históricos, parece mais uma colcha de retalhos, não há pensamento de como as pessoas vão interagir, ou mais, quantos vão a um parque público, áreas verdes dependendo de onde mora fica a quilômetros, urbanista sempre pensam nessas questões, todas as cidades discutem (?) seu plano diretor e que em tese participativa, deve satisfazer o desenvolvimento e de progresso social e cultural, incluindo-se ai com equipamentos urbanos, e vem a seguinte pergunta: Os Arquitetos foram realmente consultados enquanto conhecedores dos espaços e suas relações sociais nos equipamentos públicos? Dito isso concluo que todos participamos da construção da nossa sociedade, e o local que “temos” para exercitar a cidadania para essas crianças(futuro, pois deverão estar aptos a exercer quaisquer atividades que escolham para a nossa sociedade) é o espaço escolar, a escola é necessária e seus(as) professores(as), funcionários(as), gestores(as) e sua comunidade no entorno sentem ou deveriam sentir o compromisso para sua função.
Prezado Marcelo,
Sou um dos educadores desta unidade educacional citada neste artigo. O seu texto provocou uma profunda reflexão na minha prática como docente, demonstrando que ainda no presente século, existem pessoas que trazem paradigmas fundamentados na concepção de uma sociedade dividida em grupos distintos no que tange a percepções individualistas e arrogantemente denotadas como as mais privilegiadas. Desde a passagem do comunismo tribal existente no período primitivo da humanidade para a divisão entre a classe dos dominantes e dominados, há cada vez mais fatores que produzem uma contribuição para que neste processo onde nós, como professores, recebemos “almas virgens” e que “às escondidas” recebem informações que tentam inculcar uma posição econômica, cultural e social nos nossos alunos, como algumas publicações na imprensa.
A sua publicação, como citei no início deste comentário, propiciou uma busca intensa em continuar no ambiente “verde enjoativo”, localizado em um bairro pouco arborizado e com aproximadamente 11 Km de distância do Itaquerão (Sede de abertura da Copa do Mundo de 2014) e que contempla uma democracia e respeito a diversidade que flui principalmente no acolhimento de pessoas preconceituosas, mostrando o avanço existente nas ditas “periferias” no que se refere ao relacionamento humano.
É isso, Elton. Obrigado e parabéns por seu trabalho.
Marcelo Coelho, foi com admiração que li suas publicações. Sou uma das professoras da escola vulgo Henricão (aliás Henricão faz parte do nome da Unidade Escolar). Escola de periferia, pintada de verde, limpa organizada. Mas … uma escola acolhedora não só pelos profissionais que aqui trabalham mas pelos alunos que passam por aqui, já que deixam memórias significativas e marcantes em quem por aqui passa.
Posso estar enganada, mas o seu discurso irônico sobre a periferia, a locomoção dos professores, o nome dos alunos, talvez … talvez tenham ofuscado o seu olhar para o trabalho da professora de português que com apenas um livro conseguiu fazer com que todos os alunos do 6º ano “lessem” e deve ter encantado os alunos sobremaneira
que ficaram felizes com sua chegada. Pois é assim que a periferia recebe seus convidados. Os anfitriões se preparam para receber seus convidados.Acredito que foi esquecido de mencionar o quanto é significativo e próximo para o jovem aluno da escola pública de periferia conhecer o autor de um livro que ele leu. Espero que não seja mais um golpe contra o seu preconceito, o tamanho interesse do nosso alunado.
Tomara que meu preconceito sofra muitos golpes!
Onde está a ironia no texto? Acho que minha proficiência me traiu, não identifiquei a tal ironia citada pela senhora.