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Marcelo Coelho

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Uma escola na periferia (final)

Por Marcelo Coelho
25/05/12 12:59

Perguntei a meus anfitriões na escola municipal Henrique Felipe da Costa, no Itaim Paulista, quais os maiores problemas que enfrentavam.
Em primeiro lugar, esses problemas estavam fora dos muros da escola: o ambiente familiar, as dificuldades externas tinham efeito direto sobre o comportamento e o desempenho dos alunos.
E se aumentassem o número de horas passadas dentro da escola? Não é pouco tempo para o aprendizado?
Sim, mas eles mal aguentam ficar o tempo regulamentar. A escola teria de oferecer atividades diferentes –deixá-los sentados, com pouco o que fazer, não seria praticável.
Outra questão difícil é a da inclusão. Em tese, seria uma boa coisa fazer os alunos com dificuldades especiais conviverem com os alunos normais. Mas os professores não têm treinamento para isso; e como cuidar ao mesmo tempo de uma classe com quarenta alunos e de um aluno que, aos doze anos, ainda não consegue nem mesmo aprender todas as letras do alfabeto?
Perguntei também sobre a progressão continuada. De fato, disse o professor Daniel, as pesquisas indicam que dá melhor resultado a prática de evitar reprovar os alunos no final do ano, ajudando-os com aulas especiais.
Só que as aulas especiais nem sempre são como deveriam.
E a indisciplina não aumenta? Como fazer um aluno estudar se, sem estudo, ele se dá bem?
Pois é, esse é o maior problema, respondeu o professor.
Continuei dando a minha opinião, e aparentemente meu anfitriões concordaram. Realmente, não vejo como essa aprovação automática pode funcionar. Sei por mim mesmo: eu não faria absolutamente nada se não tivesse algum prêmio por estudar,e alguma ameaça por não estudar. Isso é humano, afinal.
E, mesmo na hipótese de que a progressão continuada pode ser útil em muitos casos, como fazer disso uma regra universal? Por que não facultar a cada professor, caso a caso, essa decisão?
Tira-se do professor sua maior arma, seu maior poder, afinal. Como será obedecido e respeitado numa situação em que é obrigado a aprovar todo mundo?
Curioso que, no caso dos dois professores, uma das vantagens do ensino municipal é o fato de que não precisam de condução!
Eles moram lá mesmo, no Itaim Paulista, a pouca distância da escola.
O professor Daniel nasceu no bairro, e trabalha na mesma escola em que estudou quando criança.
Isso é uma diferença importante, e, imagino, recente.
Bem ou mal, a melhoria econômica nessas regiões fez com que moradores nascidos lá mesmo, experimentados na realidade local, tenham ao mesmo tempo nível universitário, fazendo pós-graduação.
Os professores mais jovens parecem pertencer a uma classe social mais elevada do que a geração anterior.
Há dificuldades impensadas, contudo, para quem mora no Itaim Paulista. Meus anfitriões gostam de alugar DVDs de arte; difícil fazer isso na região. Falei dos serviços que contratei da Netmovies, que entrega e pega os DVDs em casa, sem prazo para devolução.
“Pois é, tentamos”. “Mas a empresa não atende no nosso endereço; é longe demais para eles”.
Minha conclusão, depois de tudo o que vi, não pode deixar de ser otimista. Uma hora eles chegam lá.

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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Comentários

  1. marcos nunes comentou em 28/05/12 at 13:43

    Ao menos deu para entender o por que da divisão por capítulos; muito a dizer, pouco e espaço… creio que outras coisas foram descartadas, por supostamente menos importantes.

    As escolas de periferia são todas elas diferentes. Não existe um padrão “escola no bairro classe C-D”. Tudo depende de muitos fatores sociologicamente não aferidos. Minha cunhada é diretora de uma boa escola em um bairro periférico do Rio, onde o padrão é bom. No mesmo bairro (Santa Cruz) mais duas escolas: uma ainda melhor que a dela, outra muito pior. O alunado seria o mesmo, as dificldades as mesmas, mas resulta tudo diferente. Em uma escola, excelenbtes atividades extrac urriculares, inclusive visitas a museus da cidade; noutra, projeção de films e documentários; na última, absolutamente nada.

    O que pude perceber é que muitas diferenças nascem na escolha do quadro diretivo. E muitas vezes essas escolhas provém de padrinhos políticos, gerente relacionada a determinado deputado ou vereador, ou ainda (e pior) com o “dono do pedaço”, geralmente o traficante, que posa de “Presidente de Associação do Bairro”.

    No geral, o que se percebe no seu texto é que, sim, há esperança, é possível, dá para ascender socialmente as pessoas com a ascensão concomitante do próprio padrão geral dos habitantes do país.

    Tudo é possível; muito há para fazer; muito se faz, algumas coisas deixam de ser feitas. A continuidade é que é uma incógnita. E isso não é só uma contingência do viver; deriva de escolhas já feitas e a fazer, e a direção dessas escolhas, tudo sob preceitos e métodos respaldados em uma racionalidade não obtusa, esta geralmente oriunda de preconceitos de caráter religioso e racial.

    Sobretudo, não é uma questão de “modernidade”. Só de sociabilidade e cidadania. Coisas que seriam antiquadas, se já estívéssemos no padrão. Mas não estamos.

  2. Luiz comentou em 25/05/12 at 15:00

    Boa tarde Marcelo
    Meu nome é Luiz, li a ultima postagem que fez assim que mandei o outro comentário sobre as anteriores; interessante como esquecemos que a escola é um espaço público privilegiado, e por que não dizer como um colegiado de intelectuais que visa sempre o(a) seu(sua) educando(a) para a sociedade; autores e filósofos sempre colocam as questões para refletirmos sobre o senso comum, senso crítico e até questionando filosoficamente determinados preceitos da sociedade, mas para falarmos de educação e mesmo como a sociedade espera na formação do seu cidadão, e digo isso com enfoque no alunado, observamos que deixamos de lado todas as conquistas realizadas. A alegria dos alunos e até me incluo, em conhecer um escritor, e ter realmente lido o livro, pegar autógrafos, conversar, interagir positivamente, mostra a importância que o outro tem, o ouvir, até mesmo orientar quando entendemos sobre o assunto, o modo de olhar e ver os sucessos e o caminho percorrido, devem fazer parte do nosso trajeto profissional e para que não cometamos o erro do exagero ou mesmo da omissão. Falamos de educação, sobre metodologias de ensino, e recursos materiais que até onde sei é oferecido amplamente e até são repensadas, mas as discussões são mais amplas do que os olhos enxergam, envolvem um aprofundamento nas questões sociais, valorização dos profissionais da educação, e ai incluo uma pergunta: Os educadores são visto pela sociedade como profissionais? Concluo e observo que palavras com: “refletir’, “prática”, “teorizar” e outras devem ser conhecidas profundamente para não cairmos contribuirmos para um discussão amplamente positiva.

  3. Ivan Santos comentou em 25/05/12 at 13:17

    Sr Marcelo Coelho, informo que o professor citado nesse último capítulo dessa novela mexicana, não faz parte do quadro docente dessa escola, apesar de ser professor e morar no bairro, suas opiniões não refletem o pensamento da escola. Um abraço

    • Marcelo Coelho comentou em 25/05/12 at 14:24

      Certamente, não acho que a escola como um todo tenha opinião oficial. Cada pessoa com quem falei era uma pessoa apenas.

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