Voltaire de Souza
28/05/12 22:47Algumas recentes contribuições do cronista para o jornal “Agora”.
FREADA BRUSCA
Atraso. Demora. Confusão.
É o trânsito em São Paulo.
Luís Nelson respirou fundo.
–Com a greve do metrô então…
Ele saía da Estação Trianon.
–Melhor voltar para o escritório… dar um tempo lá mesmo.
O rapaz tinha um futuro brilhante no Banco Fundinvest.
No elevador, ele reconheceu uma antiga colega de faculdade.
–Mariane. Também trabalha aqui?
O sorriso da executiva foi dos mais cativantes.
–Então… estava indo para casa, mas…
–A greve do metrô…
–Muita agitação.
–E tudo parado… hi hi.
As sombras da noite cresciam sobre o carpete do escritório.
O barulho intermitente do fax não abafou os gemidos de amor.
–Ai, Luís Nelson… dá aquela paradinha…
O amor é como um vagão de metrô.
Depois que você entra, recomeça o vai e vem.
A QUESTÃO DO AMBIENTE
Rios. Regatos. Florestas.
É preciso ajudar a natureza do Brasil.
Fabíola era ecologista.
Andava inquieto o coração da jovem estudante.
–A Dilma tem que vetar.
Uma nova lei preocupa os ambientalistas.
–Vamos fazer um protesto na Paulista.
Na faculdade, os amigos concordavam.
Na hora de fazer os cartazes, veio a dúvida.
–É com vírgula?
–Com vírgula o quê?
–O Veta Dilma.
–É veta, vírgula, Dilma.
–Ridículo. Não pode usar vírgula quando o verbo… hã…
–Veta é verbo?
O professor de Redação passava pelo local.
–Mas é “veta” ou “vete”? Afinal, a presidente…
–Presidenta?
Fabíola deu o basta.
–Desenha só uma árvore e vamos em frente.
Dúvidas de português são como nossas florestas.
Para algumas pessoas, a solução é cortar logo pela raiz.
A COR DE UM CORAÇÃO
Justiça. Vingança. Poder.
Os super-heróis estão de volta.
Num único filme, Hulk, Thor e o Homem de Ferro lutam contra o mal.
Heitor não tinha a menor paciência.
–Patacoada.
Ele preferia ver o noticiário político.
–Esses sim que mereciam uma martelada.
Os filhos apareceram com um DVD.
–Vem assistir, papai. O Capitão América.
–Espera. Olha esse safado.
Um conhecido senador dava explicações.
–Nunca fui amigo desse bicheiro…
–Papai. Também tem o Thor.
O rosto de Heitor estava estranhamente inchado.
A fúria. A revolta. A indignação.
A bandeja de prata voou em direção à TV de plasma.
–Olha aí o meu escudo. Na fuça desse animal.
Os filhos se entusiasmaram. Pedem mais destruição.
Em cada coração verde e amarelo, existe um Hulk adormecido.
MOMENTO DA VERDADE
Posses. Família. Tradição.
É a velha São Paulo.
A família Motta do Prado estava mobilizada.
–Finalmente irão julgar esses canalhas.
O julgamento do mensalão se aproxima.
No jantar, o dr. José Ignácio resumia o caso.
–Esse Adhemar de Barros é uma desgraça.
A filha mais velha de José Ignácio era advogada.
–É a vez do STJ… ou será do TSE?
Uma velhinha meio surda estava sentada na outra ponta.
–Eu gosto do Luuula… eu gosto do Luuuula…
O boicote. A sabotagem. A provocação.
Num ato de raiva, o dr. José Ignácio suspendeu a mesada da prima.
–Arranja um mensalão agora, Irmantininha.
Mas logo se arrependeu.
É que Irmantininha ameaça dedar toda a família. Sonegação e desmatamento.
Opiniões são livres. Mas a boca fechada tem também o seu valor.
Teu humor inteligente é um recurso bem vindo
para lidar com a vida cotidiana. Obrigada Marcelo pela agradável contribuicao que é tua escrita.
Pois é Marcelo, sempre a boca fechada valendo mais do que a verdade. Por essas e outras é que pessoas sensatas acabam não acreditando em mais nada….
Gostei de conhecer Voltaire de Souza!