A mentalidade conservadora (2)
31/05/12 10:33Já falei em post anterior a respeito do livro de Russell Kirk, “A Mentalidade Conservadora”, a ser lançado pela É Realizações no Brasil. É uma longa e muito bem escrita exposição do pensamento conservador americano e britânico, a partir de Burke, sobre quem versa o primeiro capítulo.
Vou comentando, aos poucos, as ideias do autor.
Como se sabe, Burke fez história na teoria política com sua crítica à Revolução Francesa. Desde que você não seja um revolucionário radical, com certeza terá muito a concordar com a ideia de que mudanças graduais, com o máximo de negociação e consenso, são melhores do que a tentativa violenta de romper com o sistema social.
Há uma longa tradição de esquerda, ou “progressista”, que abomina o tipo de transformação violenta (e no fim ineficaz) proposta por revolucionários ao estilo bolchevique. O próprio Engels, no fim da vida, se alinhava nessa perspectiva “social-democrata”. Eduard Bernstein, nos “Pressupostos do Socialismo”, escrito nos últimos anos do século 19, lançou de forma convincente as bases de uma crítica à revolução. E o derramamento de sangue dos jacobinos foi, sem dúvida, mais um retrocesso para a “causa” do que uma forma de acelerá-la.
Se Burke estava certo com relação a isso, o problema é que a crítica à revolução não esgota todo o seu pensamento.
Edmund Burke, diz Russell Kirk, não se envergonhava de reconhecer o apoio que recebia de homens humildes cujas únicas certezas eram o preconceito e a prescrição; pois, com afeição, eles os comparava aos rebanhos sob os carvalhos ingleses, surdos aos insetos da renovação radical.(p.27)
Preconceito? Prescrição? Os termos, empregados de forma positiva no pensamento de Burke, talvez precisem de esclarecimento mais adiante.
Por enquanto, estão apenas citados de passagem nas primeiras páginas de Kirk, que em seguida, com leveza, traça um quadro evocativo da casa natal de Burke, em Dublin, e discute a filiação intelectual do autor. Como eu disse, “A Mentalidade Conservadora” é um livro muito agradável de ler, escrito sem raiva nem obscuridade.
Os comunistas bebedores de sangue no fim da vida ficam mansos, mas isso não se deve a uma mudança do seu feitio moral, pelo contrário, é apenas a sua total submissão aos ditames ideológicos, pois, para os comunas não há subjetividade, o que há é a classe, ele tem de passar o bastão. A cura mesmo só vem com a ablação do Hegelianismo, um tipo de pneumopatologia, uma espécie de cancêr no caráter. Pelo menos ao que parece Burke estava imunizado.
Eric Voegelin falava muito dessa “pneumopatologia”…
Lembrando os tempos de universidade, a cartilha esquerdista das ciências sociais abominava qualquer tentativa progressiva e gradual de mudança social; era o abominável “reformismo”, tachado de mentalidade pequeno-burguesa e outros palavrões do jargão esquerdista. Só a Revolução, com erre maiúsculo, poderia nos salvar…