Partido do Chá
18/07/12 17:29Já melhor da gripe que me impediu de escrever para a edição desta quarta-feira, comento um pouco o livro “Você Está Falando Sério?”, do crítico cultural americano Lee Siegel.
Encontro várias observações simpáticas no texto. Siegel mostra-se solidário com John Updike, que no fim da vida começou a receber pancadas de todos os lados. Motivo: escrevia demais, e os críticos já não aguentavam resenhar tantos romances dele.
Siegel também acerta ao fazer algumas reservas com relação a George Steiner: sua erudição por vezes disfarça muita banalidade pomposa.
O problema de “Você Está Falando Sério” é aquele tipo de frenesi dos livros de crítica cultural em que tudo leva a tudo, e sintomas de um mesmo fenômeno se espalham em todos os campos de referência, da última coluna de fofocas à mudança do papel do intelectual público de 1950 para cá.
Neste caso, tudo se agrava porque o livro é excessivamente focado no cenário americano. Lá, pelo que diz Lee Siegel, existe uma mania de “seriedade”, ou melhor, uma banalização do termo. Fala-se em “seriamente rico”, em “investimentos sérios”, em “um hambúrguer sério”.
O autor discute esse fenômeno. Mas será que temos alguma coisa a ver com isso? Sem contar que você precisa saber direitinho a quem Siegel se refere quando, no meio de considerações sobre Irving Kristol, fala dos “Becks, os Limbaughs e os Hannityis”. Acho que são comentaristas de extrema direita, não sei se no rádio ou na TV, dos EUA.
O público que os conhece, aqui no Brasil, certamente não precisa comprar um livro desses em tradução. Ainda mais quando topamos, por exemplo, com “o Partido do Chá”, em vez de “Tea Party”. A editora de “Falando Sério” no Brasil tem, caracteristicamente, o nome inglês de Panda Books.
Este livro do Siegel é muito interessante, mas a tradução é horrível. Parece que foi jogado num programa sem ao sequer ser revisado. E a falta de notas que expliquem os nomes ou o contexto também prejudica um pouco a leitura. Quando ele comenta sobre os subúrbios, dá a impressão de que havia mais a explorar, assim como todo assunto. Talvez por ser uma reunião de artigos e textos anteriores; daí a brevidade e a sensação de que seria melhor aprofundar os temas. No entanto, apesar de tudo, ainda tem algum valor para nossa cultura da internet, em que tudo é irônico, quer dizer, pode ser lido como irônico, apropriado ironicamente. Ou não, como diz Caetano.