a mentalidade conservadora (5)
19/07/12 17:09Respeito à “sabedoria dos ancestrais”; oposição aos objetivos de “uniformidade, igualitarismo e utilitarismo da maioria dos sistemas radicais”. Estes são os dois primeiros princípios do conservadorismo, segundo o livro de Russell Kirk que andei comentando aqui. Seguem-se outros quatro. Aqui vai um.
Convicção de que a sociedade civilizada requer ordens e classes, contrariamente à noção de uma “sociedade sem classes”. Com razão, os conservadores têm sido chamados de “o partido da ordem”. Se as distinções naturais são apagadas entre os homens, oligarcas preenchem esse vazio. A igualdade definitiva no julgamento divino e a igualdade perante a lei são reconhecidas pelos conservadores; mas igualdade de condição, pensam eles, significa igualdade na servidão e tédio.
Falta explicar, a meu ver, por que as diferenças de classe são qualificadas de “distinções naturais” por Russell Kirk.
Falta explicar, também, por que “oligarcas preenchem o vazio” apenas quando as tais distinções são apagadas. Numa sociedade de classes, é também comum, até demais, que o poder se concentre na mão de poucos.
Nobre concessão, da parte dos conservadores, essa de reconhecer “a igualdade definitiva no julgamento divino”. Como não há meios de zelar pela realização desse preceito, a frase soa como uma espécie de terceirização da justiça… para que se cumpra no além-túmulo.
Por último, a ideia de que a igualdade de condição traz “tédio” é das que mais voltam nas páginas de Kirk. Com certeza, países como Suíça e Dinamarca são mais “tediosos” do que o Sudão, mas não sei se os tipos de entretenimento ali vigentes são do agrado de todo mundo.
Falo sarcasticamente, mas “tédio” e “servidão” são categorias muito amplas, e abrem espaço para certa ilogicidade no argumento. Suponha-se que, numa sociedade convenientemente desigual, ao gosto de Kirk, exista de fato menos tédio. Essa ausência de tédio seria distribuída igualmente entre todos os membros da sociedade? Ou se trata de pouco tédio para alguns, e de muito tédio para a maioria dos que lavram a terra, tecem tapetes e fazem o serviço doméstico para os menos entediados?
O pior na mentalidade conservadora é que, hoje, os conservadores usam a simpática “tradição” para cooptar aqueles que não entendem que a defesa das tradições não é um benefício às civilizações, mas justo o contrário. Não adianta folhear as tradições em ouro, quando o substrato é podre como as pretensões conservadoras.
Seus comentários sobre as incoerências na argumentação de Kirk são argutas e oportunas, em especial no que se refere a ser “tediosa” a igualdade de condições. Curioso que em “The Reactionary Mind: Conservatism from Edmund Burke to Sarah Palin”, Corey Robin relata a confissão que o ultraconservador William F. Buckley lhe teria feito: “O capitalismo é tedioso. Devotar a ele sua vida é horripilante, quando menos por ser tão repetitivo. É como o sexo.” Para Robin, o que está por trás de todas as ideologias de direita, em todas as épocas, é um único tema: experimentar o poder, ver este ameaçado e buscar tê-lo de volta.
Bem interessante, Zenon! Se o capitalismo também é tedioso, a coisa complica…
(bocejo)
O assunto é até interessante (entender o conservadorismo e o seu contraste com o progressismo).
Mas esse texto é simplesmente maçante.
E olha que geralmente, o Marcelo Coelho é um bom escritor…
Consegui locupletar a barreira fenomenológica da Folha e ordenhei seu blog. Pra que, não sei, pois não mentalizei uma linha sequer. Acho que chovo na velha direção de enxovalhar mummy só pra ver se ainda posso brincar. Pode? Pode.
Esse debate é inútil. A sabedoria, antes de ser dos ancestrais, é dos Arquétipos, é do Inconsciente Coletivo.
Lembrei do FHC dizendo numa favela que era melhor ser pobre.
Rico tem muito com que se preocupar, questões metafísicas! Ontológicas e etc, enquanto pobre, só se preocupa em comer, trabalhar e dormir.