Vergonhas com Gore Vidal
03/08/12 21:10Ruy Castro e Barbara Gancia narram, na “Folha” desta sexta-feira, episódios da visita de Gore Vidal ao Brasil. Nos dois casos, compatriotas nossos dão motivo de vergonha.
O mais leve é o contado por Ruy Castro: numa visita a Unicamp, mostram ao célebre escritor as “obras de arte” penduradas nas paredes da reitoria. Não passavam de reproduções recortadas de fascículos da Abril.
Barbara Gancia, por sua vez, conta que a brasileirada grã-fina, numa festa, divertia-se e conversava em português, enquanto Gore Vidal foi deixado sozinho numa sala, sentado numa poltrona.
Verdade que, pelo me lembro, Gore Vidal ficou tempo demais no Brasil. Pessoas que o ciceroneavam na “Folha” já não estavam mais aguentando carregar o homem de um lado para outro, e chegaram-no a apelidar de “Bore Vidal” –chato Vidal.
Injustiças, dada a exaustão dos materiais, diante de uma personalidade obviamente interessante e de uma inteligência das mais ferinas.
Mas talvez a maior vergonha, como brasileiro, que senti com relação a Gore Vidal foi numa entrevista que fizeram com ele para a TV Bandeirantes.
Como até eu sabia, Gore Vidal passava o tempo inteiro criticando Ronald Reagan –e, no artigo de Ruy Castro, há uma boa piadinha que Vidal gostava de repetir contra o presidente americano.
Na entrevista na televisão, Gore Vidal ia começar sua saraivada anti-Reagan. Disse que, de certa forma, considerava-se responsável por incentivar a carreira política do ator hollywoodiano.
Explicou que, a propósito de um filme de Reagan, criticara tão violentamente seu desempenho. Qualquer um, depois de ter lido aquela crítica, teria desistido de continuar como ator, então…
Gore Vidal ia continuar quando foi interrompido nervosamente pelo entrevistador, que falava inglês.
“O senhor votou em Reagan nas últimas eleições?”
Vidal nem piscou.
“Não, não”.
Depois disso, acho que nunca mais deve ter voltado ao Brasil.
O entrevistador era João Dória Jr, que podia ter deixado Gore Vidal contar apenas a sua história, sem perguntas.
Após a morte de um inimigo Vidal mandou essa: “que descanse no inferno… onde encontrará aqueles que serviu durante a vida.” Pelo que sei ele não foi chamado de ressentido ou de “detestável público” pelos formadores de opinião, já os internautas mequetrefes do Brasil quando falaram algo parecido do Presidente Lula da Silva apanharam e muito. Liberdade de Expressão não é algo que deveria ser para todos?
Marcelo, além da falta de preparo, é notória a dispersão do brasileiro em relação a estrelas. É só dar mole, ficar um dia a mais do que o necessário, mostrar um interessezinho maior por nós que o brasileiro – o carioca, em especial – começa a desprezar a pobre criatura famosa. Há histórias geniais, como a de Rita Hayworth largada para pegar um táxi na chuva, sozinha, ou Coppola que virou, em três dias, “aquele bobão de camisa florida”. Parece que somos a encarnação daquela piadinha do Groucho Marx (é dele?) – “não quero pertencer a um clube que me aceite como sócio”, ou algo assim. A gente só idolatra quem nos despreza? Oh vida, oh azar.
Podia ter sido pior, Marcelo, se o entrevistador tivesse sido um outro membro da família Jr, o Amaury.
rs…