Doze homens e uma sentença
07/08/12 18:57Se fossem onze, poderia ser o mensalão. Felizmente não é. Trata-se de uma boa peça em cartaz no Tucarena.
Ainda sobre o título, agora que ando escrevendo minhas rabulices na “Folha”, observo um erro.
Não devia ser “Doze homens e uma sentença”. Sentença quem dá é o juiz. Dez anos de prisão, cadeira elétrica etc. O que os jurados pronunciam é o veredito.
Pois bem, são doze jurados no palco do Tucarena, discutindo um caso que parece óbvio: o rapaz pegou a faca, matou o pai com um golpe no peito, o vizinho ouviu a ameaça, viu o rapaz sair correndo pela escada, e além disso a mulher que morava em frente presenciou o crime pela janela.
Todos estão de acordo: o garoto (16 anos) merece a cadeira elétrica. Todos os jurados, menos um. Ele insiste no que diz a lei. Só condenar se a culpa do réu estiver estabelecida, acima de qualquer dúvida razoável.
Os detalhes do crime são esmiuçados, com os problemas narrativos que exige a transposição de uma situação real para o tempo teatral de uma hora e meia.
Não aproveita muito a peça (nem o filme com o mesmo argumento) quem se fixa no aspecto policial da história.
O que faz de “Doze Homens e uma Sentença” um bom programa é a teatralidade da coisa. A começar, pelo desafio de caracterizar, em pouco tempo, doze personagens diferentes, a partir de uma única pergunta: o réu é culpado ou inocente?
As brigas, os rompantes, as piadas, a seriedade de uns e a frivolidade de outros, encontraram atores ótimos nessa montagem de Eduardo Tolentino de Araújo.
Minha preferência é para Riba Carlovich, o ator careca, grande como um armário, fascistão como poucos, capaz de intimidar qualquer um –menos o “chato” que insiste na inocência do réu.
A plateia adora, o que é bom sinal. Nos tempos da peça, que deviam ser mais progressistas que os de hoje, era minoria o fascistão que quer condenar o menino porque ele não tem remédio, nasceu assim, é pilantra mesmo e mente o tempo todo.
Na peça, quando esse jurado destampa seu preconceito, todos os demais se afastam dele. Hoje em dia, a tendência geral seria já começar com o preconceito, como se fosse coisa normal, e não um desabafo dramático, em desespero de causa, de um personagem específico.
Oi, Marcelo ! A repórter Maria Eugenia de Menezes, de O Estado de S. Paulo, fez uma matéria comigo e com o Arnaldo Malheiros Filho sobre a peça, logo em seguida à pré-estréia. Foi uma entrevista conosco, em que eu analisei e expliquei as diferenças entre o sistema jurídico-penal anglo-saxão (focalizado na peça) e o nosso, de origem romana, enquanto o Arnaldo abordou o modo como situações descritas no enredo seriam julgadas à luz do nosso Direito Penal. Foi bem divertido.
Para mim, o filme de Sidney Lumet, de 1957, continua insuperável, e a montagem teatral empalidece inapelavelmente na comparação. Mas mesmo assim, é um espetáculo interessante e absorvente. Grande abraço, Carlos
P.S. – O Riba Carlovich, que conheço bem, é uma grande figura, com uma generosidade e uma simpatia que seu porte ameaçador não indica…
Ah, não sabia! Vou procurar essa matéria! Cá entre nós, o filme não me encantou muito quando assisti também. É que o crime em si não dá margem a uma inversão de expectativas realmente boa…