Voltaire de Souza
10/08/12 14:02Algumas crônicas do jornal “Agora”.
FALTA UM
Expectativa. Dúvida. Tensão.
O julgamento dos mensaleiros se aproxima.
No bar, Rogério era o mais exaltado.
–Uma corja. Uns bandidos.
Rogério tomou mais um gole.
–E quer saber de uma coisa?
Pôs o copo na mesa.
–Não vão pegar o chefe da quadrilha.
Ele se levantou da cadeira de metal.
–Cadê o chefe da quadrilha? Hein?
Foi até o banheiro com passos inseguros.
Pela porta da frente, começou o arrastão.
O bando do Lilico agia organizadamente.
Rogério voltou do banheiro com a pergunta que não quer calar.
–Cadê o chefe da quadrilha? Hein?
Lilico apresentou-se com educação.
Rogério ignorou o assaltante.
–Só tem pé de chinelo.
Calou-se quando a bala de Lilico atravessou sua garganta.
Na lei e no crime, é melhor se contentar com o que se tem.
CAEM AS SOMBRAS
Acusações. Dúvidas. Argumentos.
É o mensalão.
Elpídio era um velho militante de esquerda.
–Nunca acreditei nessa justiça burguesa.
A tarde caía mansa dos lados de Santa Cecília.
Ele acompanhava pela TV.
–Vamos lá.
Os advogados faziam o seu trabalho.
–Farsa. O mensalão foi uma farsa.
Foi quando o televisor de Elpídio começou a piscar.
–Opa. O que é isso?
–Não há nenhuma evidên… crrakh…
A telinha apagou.
Elpídio saltou do sofá. O copo de conhaque caiu no chão.
–Censura. É censura, caramba.
As sombras do regime militar caíram sobre a saleta.
Na raiva, Elpídio chutou o velho Colorado RQ de trinta polegadas.
Uma válvula entrou no lugar. A telinha voltou ao normal.
A democracia, por vezes, é como um velho televisor.
Funciona no tranco.
O PILOTO NÃO VIU
Miami. Orlando. Cancún.
O turismo cresce.
Dayane e Alcides viviam um grande amor.
A lua de mel ia ser na Disney.
–Você é a minha princesa…
–Huhuh… e você é um pateta, Alcides.
No aeroporto, a preocupação.
–Leu a notícia?
–Qual?
–Os pilotos brasileiros. Não sabem inglês.
De fato. Certificados fajutos cruzam os céus do Brasil.
No avião, o aperto da classe turística favorecia o amor.
O aviso do comandante não era claro.
–Hã… fasts cilds belts.
Dayane queria entender.
–Belt não é cinto?
–Isso, Dayane. Alcilds belts.
A moça desapertou o cinto de Alcides.
A fuselagem portentosa entrou em forte turbulência.
Mas logo o avião decolou rapidinho rumo às nuvens do prazer.
O inglês nem sempre se entende.
Mas é universal a linguagem do amor.
Das últimas, gostei muito de “MIRA CERTEIRA”.
Abraços
Obrigado, Lucas!