Os empréstimos do mensalão
30/08/12 17:51Pode-se reclamar da impaciência e dos destemperos de Joaquim Barbosa, mas é também impressionante a pachorra exigida de quem escreve um voto como o dele. O novo item no julgamento do mensalão tende a ser acompanhado só pelos que sofrem de vício patológico na coisa. Trata-se das acusações de gestão fraudulenta no Banco Rural.
Joaquim Barbosa vai ao menor detalhe técnico dos laudos periciais, dos cadastros, das circulares do Banco Central, para mostrar que Marcos Valério e o PT receberam empréstimos de forma totalmente irregular.
O Banco Rural, diz Barbosa, não obedecia sequer as exigências de manter cadastros de seus clientes, deixando de verificar a capacidade financeira das pessoas ligadas a Marcos Valério.
Quais eram as garantias que Marcos Valério oferecia ao Banco Rural, para tomar seus empréstimos?
A resposta é linda: os contratos que Henrique Pizzolato, do Banco do Brasil, tinha assinado com ele.
Mesmo assim, os diretores do Banco Rural forçaram a mão ao conceder empréstimos ao publicitário. Dados cadastrais de Marcos Valério no Banco Rural atestavam rendimentos anuais de mais de 400 milhões de reais, enquanto sua declaração de renda falava em 50 milhões.
Tais fatos, diz Joaquim Barbosa (e há muito mais fatos do que esses em seu voto) dão pleno suporte à afirmação da acusação de que os cadastros eram desatualizados, cheios de informações falsas.
Os riscos dos empréstimos ao PT, sempre renovados, eram tão altos que um dos membros do conselho do Banco Rural falou que, nesse caso, era necessária expressa autorização dos donos do banco.
É o chamado “risco-banqueiro”.
Devia ser chamado, mais propriamente, de “risco-carcereiro”.