Voltaire de Souza
03/09/12 22:11Textos recentemente publicados no jornal “Agora”.
ESCRITO NAS ESTRELAS
Presságios. Indícios. Previsões.
A astrologia era importante para Darlene.
–Xi… hoje o horóscopo está complicado.
Mercúrio retrógrado.
O pequeno planeta insiste em atrapalhar o dia a dia nacional.
Darlene anotava.
–Problemas com o chefe. Sumiço de documentos. Bate direitinho.
O chefe dela era o dr. Campos Moreirinha.
–Depressa. Depressa.
A Polícia Federal ia chegar a qualquer momento.
–Some com as pastas daquele caso.
O investigador Rogério Carlos impediu a ação da secretária.
Darlene não teve forças para resistir.
Entregou os arquivos.
No Motel Intuition, ela abriu a caixa preta.
–Mercúrio retrógrado… é por aí mesmo.
Os anéis de Saturno vibraram em harmonia astral.
Corpos, como planetas, se conjugam em constante movimento.
O RÉU É INOCENTE
Torcida. Tensão. Expectativa.
No tribunal, todos esperam justiça.
José Filiberto era um conhecido político de Brasília.
No julgamento, as críticas eram pesadas.
–Filiberto? Estúpido. Cretino.
Silêncio na sala.
–Incapaz de dizer coisa com coisa.
Um pigarro.
–Em suma. Um débil mental.
O discurso continuava.
–Será possível que um idiota…
Os braços do dr. Blandini se agitavam.
–Um idiota, repito, fosse capaz de entrar num esquema tão sofisticado?
José Filiberto era acusado de se pegar dinheiro do mensalão.
–Era burro demais para isso.
O advogado Blandini concluía a sua defesa.
–Comer capim é com ele mesmo.
Uma pausa.
–Agora, pegar dinheiro dos outros? Se ele pudesse… mas não consegue.
Na burrice, por vezes, está a maior esperteza.
OS RISCOS DO PAPEL
Peculato. Bônus de volume. Embargos infringentes.
O mensalão traz conceitos complicados.
Alzira tentava acompanhar pela TV.
–Não estou entendendo nada.
O marido era o dr. Candinho.
Eminente advogado criminal.
–Trinta anos de casamento. E você continua ignorante.
Ele suspirou. E pegou papel e lápis.
–Corrupção passiva.
Um risquinho.
–Corrupção ativa.
Dois risquinhos.
–Peculato.
Três risquinhos.
Os olhos de Alzira se perdiam em lembranças do passado.
A lua de mel. Poços de Caldas.
–Vamos dormir, Candinho?
–Mas falta falar do bônus de volume.
Alzira tocou levemente na anatomia do marido.
–Isso aí, Candinho… acho que é matéria vencida.
O casamento, por vezes, é como um processo judicial.
Emperra quando as partes estão em desacordo.
FEITIÇO DA LUA
Amor. Romantismo. Mistério.
Um jantar à luz de velas pode reaquecer a rotina de um casal.
João Carlos e Solange iam comemorar mais um ano de casamento.
–Lembra, João Carlos?
–Do quê, Solange?
–Da nossa lua de mel em Caraguá…
–Calorão, né.
–Como assim. Choveu o tempo todo…
–Ah.
–Só na última noite…
–Hã.
–Lua cheia… a gente ficou na praia…
Da cozinha, veio um cheiro de queimado.
–A lasanha, Solange.
João Carlos abriu a janela do apartamento para sair o cheiro.
As velas se apagaram com o vento.
A lua brilhava nos altos da Vila Romana.
–Você soube, Solange? O Neill Armstrong morreu.
O luar refletiu-se na lágrima da jovem pela morte do famoso astronauta.
O amor é como o foguete Saturno 5.
Tem vários estágios no seu rumo.
Miiiiiiiiiil vezes mekhor que esta cobertura (um pouco obtusa, não) do mensalão. Esperemos que com o “mensalão mineiro” se dê igual. Abraços.