Censura na ABL
14/09/12 15:35Eis o texto do crítico de arte Jorge Coli, que circula pela internet.
Ontem dei uma conferência na Academia Brasileira de Letras, intitulada: Sexo não é mais o que era.
Tratava-se de uma análise reflexiva sobre as noções de pornografia, erotismo e sexualidade dentro das artes. Ela sublinhava o caráter conservador do moralismo atual e criticava os puritanismos repressivos que oprimem o imaginário, e não apenas ele.
A conferência deveria ter sido transmitida via internet. Soube hoje que ela foi censurada, e que essa censura teria vindo por “ordem da diretoria”.
De início, as imagens que a ilustravam foram suprimidas da transmissão (eu começava com duas obras de Jeff Koons). E, quando citei o trecho de um autor que continha algumas palavras indelicadas (crítica de Philippe Murray ao quadro de Courbet, a Origem do mundo, publicada em 1991 na revista Art Press), a palestra foi interrompida.
Ou seja, a ABL ilustrou, de modo preciso, o acerto de minha tese sobre a hipocrisia pudibunda (termo no qual certamente ela ainda censurará as duas últimas sílabas) de nosso tempo. Não apenas os acadêmicos são imortais: eles também não têm sexo, como os anjos.
Adauto Novaes, organizador do ciclo de debates, confirma o ocorrido. O ciclo que ele organiza costuma utilizar o auditório da ABL, e sua infra-estrutura de transmissão pela internet, mas nunca tinha sofrido esse tipo de intervenção.
Estão tentando destruir a essência das artes: a invenção do real.
Censura numa academia de letras! Vamos mal, muito mal!