Gilmar Mendes continua
09/10/12 18:09Não é crível é a pretensa e absoluta dissociação do ex-ministro dos assuntos partidários. O próprio Dirceu afirma ter tomado conhecimento, como membro do partido, dos empréstimos realizados. Apesar de não saber detalhes.
Mais extraordinária é a pretensa superposição das declarações de Delúbio, que afirmou não ter tomado as decisões sozinho.
A conveniente auto-responsabilização de Delúbio Soares não convence. Ele não tem o “physique du rôle” para a função. Acertou sozinho com Marcos Valério tamanho empréstimo? Decidia só com Valério os nomes e partidos a serem beneficiados? Mas esses repasses não vieram em função de um “acordo político”?
Os recursos desviados do Banco do Brasil também teriam sido articulados apenas por Valério e Delúbio?
Havia outros tentáculos na estrutura do Estado. Recursos públicos saíram do Banco do Brasil com a finalidade de prover fundos para a atividade política, sem mesmo um simulacro de prestação de serviços. Sabia-se que o dinheiro destinava-se a finalidades políticos. Como alguém de dentro do partido apenas poderia conseguir isso? Só se a liderança do partido fosse chefe do Estado. Ainda dependendo de esclarecimento, há os casos do Banco Popular e da Eletronorte.
No caso concreto, pode-se inferir o dado oculto ao primeiro exame. A viagem de Valério, Tolentino e Palmieri para Portugal foi objetio de controvérsias. Preocupação de Valério em manter a conta de publicidade da Telemig. Preocupação em levantar parte dos recursos destinados ao PTB.
Seria estranho se os diretores da Portugal Telecom admitissem que Marcos Valério fosse levantar recursos para corromper deputados. Valério foi também encontrar o ministro das Comunicações. Fato inusitado se quisesse apenas manter sua conta publicitária na Telemig.
BMG e Rural deram solução sui generis aos problemas pessoais de Ângela Saragoça. Como apontou Carmen Lúcia, o fato isolado talvez não tivesse relevância. Mas Saragoça, ao ser inquirida na polícia, disse que contou seu propósito de vender imóvel a José Dirceu. Coincidência incrível o imóvel ser vendido a Rogério Tolentino. O conselho de ética decidiu cassar José Dirceu pelo esquema de incentivos financeiros à fidelidade parlamentar.