voltaire de souza
17/10/12 14:51Alguns textos eleitorais do cronista do “Agora”
A VOZ DO SENHOR
Fé. Oração. Fervor.
Arruda estava frustrado.
–Pai. Por que me abandonaste?
Ele tinha sido derrotado nas eleições.
O assessor Rodolfo pegou o celular.
–Ligo para ele?
A raiva crescia no coração de Arruda.
–Vou dizer umas verdades.
Do outro lado da linha, ouviam-se cânticos religiosos.
Harmonias. Harpas. Corais. Para relaxar.
Uma voz se ouviu.
Grave. Serena. Cavernosa.
–Que queres, filho?
–Negaste-me tua ajuda, ó meu senhor.
A voz mostrou irritação.
–Estão me condenando no tribunal, cretino.
Arruda não se lembrava.
–Desculpe…eu…
–E você me cobrando ajuda?
O grande líder político estava tendo problemas com o mensalão.
–E você que é pastor,vê se reza por mim.
A religião pode ajudar.
Mas na hora do aperto,o que vale é cada um por si.
LÁGRIMAS NÃO CONTAM
Culpas. Denúncias. Acusações.
Muitas vezes, os inocentes também terminam envolvidos.
O sr. Trentino estava com perto de 80 anos.
–Parei de fumar em 1973.
Na polícia, o delegado Carlos fazia perguntas.
–Parou com o cigarro ou com a maconha?
–Com o cigarro, doutor.
O delegado Carlos deu um risinho.
–A maconha então…
–Hein?
As provas estavam em cima da mesa.
Quatro frondosos pés da erva maldita.
–Plantou sem saber o que era?
–Minha mulher sempre gostou de planta.
Dona Vitorina chorava num banquinho ao lado.
–Ah, se eu soubesse…
A tristeza da anciã começou a comover o delegado.
Mas ela se levantou num ímpeto.
–Se eu soubesse eu fumava tudo! Fumava tudo, seus cretinos.
As lágrimas de um inocente nem sempre diferem das de um culpado.
PALAVRAS DE FOGO
Amargura. Tristeza. Frustração.
No comitê do candidato, os assessores tentavam explicar a derrota.
–Faltou tempo na TV.
–Faltou dinheiro na campanha.
Um grande mapa da cidade estava sobre a mesa.
–A culpa foi de São Mateus.
A votação tinha sido fraca naquela região.
–Espera aí. E Santo Amaro?
–Um desastre.
Um assessor pegou o celular.
–Qual era o número do comitê?
–Qual?
–São Miguel. São Miguel foi…
–Um lixo.
–Uma traição. Sacanagem.
Demoraram para atender.
Finalmente apareceu a voz.
Grave. Cavernosa. Aterrorizante.
–Seus pilaaaantras… Aqui é São Migueeel…
Trombetas de um arcanjo se ouviam pelo aparelho.
–Com Deeeus não se briiinca.
Candidaturas são como a velha história bíblica.
Quem bobeia termina sendo expulso do bem-bom.
OUTROS CARNAVAIS
Derrota. Decepção. Desprestígio.
Sílvio Carlos era um conhecido cantor popular.
–Só que ninguém se lembrou de mim…
Ele era candidato a vereador.
–Menos de mil votos… como pode?
Ele se lembrava de outros tempos.
–Não podia nem sair na rua.
Velhos sucessos voltavam à sua mente.
–“Abismo de um Desejo”. “As Pingas que Eu Tomei”.
As lágrimas escorriam.
–Até que pode ser uma boa ideia.
No bar, os comentários sobre a eleição iam morrendo.
Uma mulher loira e bem vestida sentou-se ao lado dele.
–Silvio Carlos… há quanto tempo.
O perfume. As joias. A simpatia.
–Hebe Camargo? Você?
A cadeira de Silvio caiu pesadamente no chão.
Ele deu entrada no hospital em coma alcoólico.
A mente humana é como certas eleições.
Tem horas que embola tudo.
Thank you for the auspicious writeup. It actually was once a leisure account it. Look complex to more introduced agreeable from you! However, how could we communicate?
P.S.:Pensando tardiamente, acho que não entendi o seu texto anterior. Talvez nem as outras pessoas. Ruídos na comunicação, projeções do próprio leitor. Acontece. Retiro meus comentários anteriores.
Falando em cantadas indesejadas, diga logo, Voltaire… você é comprometido? casado? É só uma curiosidade inofensiva.