Divisões conservadoras
30/11/12 01:22
“Upstream –The Ascendance of American Conservatism”, de Alfred Regnery, é um longo, detalhado e sóbrio relato do crescimento do conservadorismo americano, a partir de 1945. Escrito pelo filho de Henry Regnery, editor de dois livros pioneiros do movimento conservador nos primeiros anos da década de 1950 (“God and Man at Yale”, de William Buckley Jr., e “The Conservative Mind”, de Russell Kirk), o livro é um primor de organização expositiva, abordando a cada etapa histórica os vários aspectos –político, intelectual, financeiro—do movimento conservador.
Trata-se de uma história evidentemente triunfal. Os conservadores autênticos eram minoria, diz ele, na época de Eisenhower; o Partido Republicano não se afastava muito do modelo inaugurado pelo democrata Roosevelt no “New Deal”. A exceção era o anticomunismo exacerbado de Joseph Mc Carthy e de Whittaker Chambers, sem contar a John Birch Society –que, depois de considerar o próprio Eisenhower um agente de Moscou, começou a cair em descrédito até mesmo nas páginas de “The National Review”, a revista de William Buckley Jr.
O livro faz um breve histórico das principais instituições conservadoras, enfatizando que os primeiros “think tanks” eram financiados modestamente por alguns poucos empresários –nada que se comparasse, diz ele, às fortunas de que dispunham instituições progressistas como a Fundação Ford.
É muito útil para mapear as dissensões entre os vários subgrupos da direita americana. Os ultra-libertários adeptos de Ayn Rand, por exemplo, não contavam com muita simpatia por parte de conservadores tradicionais: o ateísmo e o individualismo nietzscheano da autora tendiam a ser heréticos demais, e a coisa azedou de vez quando a “National Review” criticou “Atlas Shrugged”, paquidérmico romance de Rand.
“Upstream” ajuda a entender melhor a tentativa de síntese feita por Frank Meyer (ver post anterior) entre as principais tendências do conservadorismo dos anos 50: o tradicionalismo, o anticomunismo e o libertarianismo.
Tradicionalistas como Russell Kirk defendiam o papel do governo na promoção da virtude cívica, da religião, do patriotismo. Enquanto isso, para os libertários, seria ilegítima qualquer intervenção do Estado na autonomia individual –estando assegurado aos cidadãos, portanto, o direito de fazer escolhas “más” ou “imorais” por conta própria.
O problema de Meyer seria, portanto, como conciliar o valor da liberdade individual, absoluto para os libertários, com o valor da virtude cívica, posto em primeiro lugar pelos tradicionalistas.
“Cedendo um ponto aos tradicionalistas”, diz Regnery, “[Meyer] admitia que os liberais do século 19 estavam errados ao basear seus argumentos a favor da liberdade no conceito de utilidade social; deveriam ter baseado seus argumentos num entendimento metafísico do ser humano como orientado em direção à liberdade. Mas ele insistia que, por outro lado, os conservadores do século 19, no seu zelo exagerado em sufocar a revolução, negligenciaram as justas aspirações em favor da liberdade.”
A solução foi dizer que, embora fosse o objetivo último do ser humano, a virtude estava no campo do dever pessoal, sem ser uma questão propriamente política. “A virtude só teria valor autêntico, argumentava Meyer, se buscada e atingida sem sofrer pressões externas. Desse modo, virtude e liberdade estavam inter-relacionadas, assim como libertários e tradicionalistas, pois o sistema político americano estava projetado para manter ambos em equilíbrio”.
Daí a teoria de Meyer ter sido chamada “fusionista”; embora híbrida, ou por isso mesmo, diz Regnery, ela “funcionou politicamente”.
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