O fortão da Paulista
12/12/12 03:00O trânsito ali sempre é complicado, mas à noite, com as decorações natalinas, fico pensando se não seria o caso de interditar a avenida Paulista de uma vez.
Estando todos avisados que depois de certo horário só a circulação de pedestres é permitida, pelo menos diminuirá o número dos desesperados que, dentro do carro, esperavam chegar em tempo a seu destino, sem saber que a rua se tornou mais uma atração turística do que um meio racional de circulação.
O passeio pode ser simpático. Puseram árvores de luzinhas que fogem ao esquema habitual. Em vez de troncos com as lâmpadas chinesas enroladas em volta, surgiram espetos de tamanho médio, que durante o dia não se percebem muito, mas à noite se ganham o aspecto de magra e invernal vegetação iluminada.
Crianças pequenas tiram fotos com os pais, passadas as 23h. Adultos descansam sentados em parapeitos, a meio do longo trajeto. Andando por ali, tive sentimentos contraditórios.
Nunca passei o Natal fora do país, mas aquilo podia até ser parecido com Nova York, ou quem sabe Milwaukee.
Estava tudo bem até eu ver três garotões de preto, cheios de tachinhas e pulseiras, sem o menor ar de admiração pelos trenós e presépios em volta.
Sosseguei ao ver que havia um carro de polícia estacionado logo ali. Pensei melhor, identificando os garotos mais com alguma vertente punk do que com neonazistas ou assassinos de homossexuais.
Bem à minha frente, dois jovens japoneses pareciam tomar conhecimento com a Paulista pela primeira vez, e temi pelo que pudesse acontecer com eles.
Algo está certamente errado com um lugar onde, ao mesmo tempo, crianças pequenas apontam para imagens de Papai Noel e homossexuais podem ser espancados e mortos à vista de todo mundo –das crianças inclusive.
Certamente, ataques aos gays existem em qualquer parte da cidade, mas não é casual que episódios desse tipo tenham acontecido várias vezes na avenida Paulista.
Provavelmente, o homofóbico faz questão de tornar especialmente pública a sua ação. Viu que na Paulista, na passeata do orgulho gay, existem muito mais membros dessa tribo do que ele próprio pensava.
O poder de centenas de milhares de gays o intimida. Se existem tantos, que será de mim? É claro que, lá no fundo, ele pensa: “quando chegará a minha vez?”.
Pois bem, passado o trauma da multidão, ele gostaria que a avenida voltasse ao normal. Um dia de tolerância aos gays não quer dizer que no resto do tempo a homossexualidade esteja permitida.
É como o machão que, certa vez na infância, no campinho de futebol, bem, você sabe… Mas ele é totalmente heterossexual, claro.
Dizem os alemães que uma vez é igual a vez nenhuma: “einmal ist keinmal”. Certo, um dia por ano admite-se a festa do orgulho gay. Cabe ao homofóbico destruir, então, qualquer vestígio do que aconteceu.
Não inovo ao dizer que o fortão da avenida Paulista quer destruir, acima de tudo, o seu próprio medo de ter desejos homossexuais. Procura ingerir a heterossexualidade junto com os anabolizantes.
Deveria pensar que a heterossexualidade, como a dimensão dos músculos, é uma questão de grau.
Um dos sujeitos mais heterossexuais que conheci considerava que, depois dos 40 anos, ter barriga é desejável.
Mais do que isso, a ausência de barriga chegava a lhe parecer um bocado suspeita.
Há quem vá além. Soube de um cidadão que, mesmo nos transes da adolescência, nunca teve interesse em se masturbar. “Meu negócio é mulher”, dizia ele. E o onanismo, pensando bem, não deixa de ser uma forma de obter prazer com alguém do mesmo sexo.
Que dizer, ademais, de um homem que faz questão de sair com mulheres bonitas? É o que quer a maioria; enquanto isso, muitas mulheres não ligam para a feiura dos companheiros.
Concluo que as mulheres, provavelmente, são mais heterossexuais do que os homens —tão ligados, afinal, em frescuras estéticas, enjoamentos, exigências e minúcias.
Como é que aquele gay, pensa o homofóbico da Paulista, pode ser mais bonito do que eu? Surge o impulso agressivo. Ele volta, depois, à academia de ginástica. O espelho, ali, reflete a sua imagem. Ele é a madrasta de Branca de Neve. Que as luzes do Natal não iluminem seu desfile pela Paulista.
Ótima matéria! Joaquim Barbosa neles (homofóbicos).
Não não não Marcelo !!! Tem que falar do Mensalão (o do Pt, não o do FHC comprando o Congresso pra mudar a Constituição e se reeleger – não o mensalão mineiro, please). Marcelo, tem que falar mal do PT ! Não fala nada dos escândalos do metrô paulista e da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, que ninguém da grande mídia investiga há anos . Deixa pra lá, afinal ela está nas mãos de gente do bem, não é mesmo ? Pelo menos, eles não vão querer criar órgão fiscalizador da mídia, essas coisas stalinistas, não é ? Marcelo, querido, você leu leu leu, fez Puc, fez filhos e eu posso ver através da sua máscara. Bom almoço (ou jantar) com o Off neste final de ano …
Bruno, não é? Que ótimo que ele leu leu leu, fez puc, fez filhos. Que inveja! Por que misturar uma apresentação de ideias, pública, com exposição da vida pessoal, privada, que não é a sua própria?
“zem essa” c’est moi. Quis fazer um jogo de palavras entre “zen” e “sem essa”. No mais, sem outros codinomes. abs!
artigo muito preconceituoso, a pretexto de ser antipreconceito. não só contra os “de preto que usam tachinhas”, mas contra os heterossexuais e maior ainda contra os metrossexuais.
bastante contraditório, como muito do que se vê amplamente aceito hoje.
Bons tempos em que os heteros ersam maioria!
“Estava tudo bem até eu ver três garotões de preto, cheios de tachinhas e pulseiras, sem o menor ar de admiração pelos trenós e presépios em volta.”
Ok, mas e dai ? O que efetivamente eles fizeram ? Usar Preto, “tachinhas e pulseiras” até onde sei não é crime.
HÁ ESTUDOS NA PSICOLOGIA, EM QUE HÁ A CONSTATAÇÃO DE QUE EM TODOS SERES ANIMAIS RACIONAIS OU NÃO,HÁ UMA FRAÇÃO DE ATRAÇÃO PELO MESMO SEXO.
Cara, é difícil achar um cara que já não se sentiu, ainda por míseros instantes, atraído, sem saber por que nem por onde, por outro cara. O negócio é fazer o que a música diz: se der pra segurar, segura! Brincadeiras à parte, parabéns. Matéria muito boa. Escrita por quem sabe.