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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Escolha o seu vício

Por Folha
06/03/13 03:00

Naquele seu esforço frenético para obter a empatia do espectador, o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001) mostrava um personagem que tinha a mania de ficar estourando casulos de plástico bolha.

A plateia adorava, e de lá para cá a mania do plástico bolha se institucionalizou bastante. Saiu outro dia a notícia de um recorde, registrado no ªGuinnessº: 743 m² de plástico bolha estourados em dois minutos, por um grupo de estudantes universitários de New Jersey.

Há também um programa de computador para você estourar bolinhas com o mouse. Mas não é a mesma coisa.

A atividade conta com a minha simpatia, mas na verdade pertenço a outro grupo de neuróticos obsessivos. Resisto bem ao plástico bolha. Sou, acima de tudo, um descascador de películas.

Vernizes que se soltam de móveis, tintas que se soltam de paredes; capas de livros plastificados; adesivos que não querem desgrudar do carro; cutículas, casquinhas, peles secas de verão: essa é a minha praia.

São dois tipos psicológicos bem diferentes. O estourador de plástico bolha gosta de resolver tudo de uma vez só. Age mecanicamente. É eficaz no seu ofício.

O arrancador de pelinhas está em geral condenado ao fracasso. Puxa demais o plástico que protegia a capa do livro, e termina levando o papel junto. Encontra uma cutícula sequinha no polegar, e puxa-a até chegar à carne viva.

Ao mesmo tempo, é mais observador e científico. O homem do plástico bolha pode fazer isso enquanto assiste à TV ou fala no telefone. O descascador gosta de analisar a superfície da coisa, procura a direção certa da puxada, alterna períodos de atividade e de descanso.

Comparado à produtividade do estourador de plástico, o espírito do descascador é mais felino e ocioso.

Num caso, tem-se o Japão -abrupto e limpo. No outro, a China: paciente, silenciosa, interminável.

Vê-se de que modo são genéricos e insuficientes os diagnósticos da psiquiatria. Ambos podem ser classificados, se a mania for séria, no campo do Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC.

Até pelo som da palavra pode-se perceber que o TOC se aplica melhor ao clube do plástico bolha. Os descascadores, como eu, deveriam reivindicar outro acrônimo. Quem sabe Slic (síndrome laminar impulsivo-compulsiva), ou Irde (impulso recorrente de dissociação epitelial).

Trata-se de enfermidade mais perigosa: tenho um polegar corroído, vários livros em petição de miséria e marcas permanentes na pele onde, em algum verão, pernilongos pousaram.

Mas a compulsividade, feitas as contas, não é o pior dos males. O motor que aciona a tribo do plástico bolha também é o motor que move o mundo. Ninguém seria campeão de pingue-pongue se não fosse um estourador de plástico direcionado para um objetivo nobre.

É imenso, na verdade, o número das atividades humanas que obedecem à lei do plástico bolha. No tempo em que se escreviam cartões de Natal, tive uma vez de sobrescritar (a palavra é da época) dezenas de envelopes.

Coisa chatíssima, até o momento em que você começa. ªSó mais um, só mais um, depois eu paroº, eu dizia para mim mesmo.

Sem dúvida, é o que torna suportável a maioria dos trabalhos repetitivos que a indústria humana já inventou. Quem está livre dessa obrigação provavelmente não sossega antes de encontrar um substituto. Abdominais numa academia, brigadeiros num bufê, cruzinhas num calendário, dígitos num dial etc… (você continua na ordem alfabética).

Estou tentando me livrar do descascamento de pelinhas. Consegui, pela primeira vez na vida, dedicar-me para valer (isto é, umas duas horas por dia) aos exercícios de piano.

Para quem não nasceu com o dom da coisa, estudar piano é tão ou mais estéril do que arrancar películas ou estourar bolhas. Os exercícios de Carl Czerny (1791-1857) reúnem as páginas mais tolas e chatas de toda a história da música clássica.

Chatas? Isso foi antes de eu me dedicar aos estudos de Hanon (1819-1900). Que não são nada perto dos de Ettore Pozzoli (1873-1957), esses sim, insuperáveis na monotonia. Vê-se que, quanto mais avançamos no tempo, mais chatos ficamos.

O que é uma vantagem. Diante do piano eletrônico (com fones de ouvido, para chatear apenas a mim mesmo), repito dezenas, centenas de vezes a mesma passagem do polegar. Ele, coitado, agradece o descanso no descascamento.

Sinto-me eficiente, produtivo, saudável. Logo serei admitido no clube dos estouradores de bolhas.

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