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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
10/03/13 15:18

Algumas crônicas publicadas no “Agora”.

CAMINHOS DA FÉ

Pasmo. Perplexidade. Reflexão.
Em Roma, o papa renuncia.
Em Parelheiros, o padre Pelozzi respirou fundo.
–Que complicazione.
A Igreja precisa se renovar.
Escândalos. Pedofilia. Impopularidade.
Veio a inspiração.
Padre Pelozzi fez o anúncio aos paroquianos.
–Camisinhe. Nello domingo eu faccio a distribuiçó.
A incredulidade tomou conta dos fiéis.
–Senza il papa, mando io.
Mais de uma centena de preservativos foi distribuída.
–É assi que dgiunta dgente nella igredjia.
Autoridades eclesiásticas temem que Pelozzi esteja perturbado.
Mas ele explica com tranquilidade.
–As camisinhe que eu dei… sono tutte furate.
Garantia de mau funcionamento.
–Daqui a nove mese, faccio il batismo da figliarada.
São obscuros, por vezes, os caminhos da fé.

TUDO EXPLICADO

Obediência. Disciplina. Mansidão.
As crianças modernas nem sempre atendem a esses ideais.
Lariane tinha orgulho do filho.
–O João Cláudio. Um santinho.
O menino ajudava nas tarefas do lar.
–Posso lavar as panelas, mãe?
Lariane fazia afagos no menino.
–Ah, se sua irmã fosse como você.
Luanna prometia uma adolescência difícil.
–Só quer saber de roupa e de fazer malcriação.
Domingo tranquilo na Vila Romana.
João Cláudio não saía do quarto.
Lariane foi ver o que era.
Choque. Surpresa. Indignação.
João Cláudio estava usando o vestido vermelho da irmã.
Veludo. Mangas bufantes. Detalhes em renda.
A explicação interrompeu os tabefes.
–Mamãe. Não sou gay. Estava só brincando de papa.
O lar é como a Igreja.
Explicando direitinho, tudo se perdoa.

ORDENS MÉDICAS

Verbas. Prejuizos. Superlotação.
O número de doentes crescia na Clínica Santa Ismênia.
A enfermeira Márcia sofria pressões.
–Precisamos liberar as vagas na UTI.
–O que é que eu faço, doutor Marco Aurélio?
O diretor do hospital falava no celular.
–Alô? Estou esperando faz vinte minutos…
Ele andava tendo problemas com a TV cabo.
–Ah, é? Corta a assinatura.
–Doutor Marco Aurélio…
–Arranca o cabo. Desliga o terminal.
Márcia entrou silenciosamente na sala do pós-operatório.
–Desliga o terminal. Será possível?
Um velhinho de cabelo branco dormia placidamente.
–Coitadinho. Parece o Bento 16…
A família ainda não recebeu a notícia triste.
Leitos hospitalares, por vezes, são como o trono de São Pedro.
Ficam vazios na base do susto.

OLHOS AZUIS

Apostas. Esperanças. Incertezas.
Quem será o próximo papa?
Patrícia ficava pensando.
–Seria legal um papa africano…
O marido se chamava Eduardo.
–Só faltava. Que bobagem.
–Nossa, amor. Por que essa implicância?
–Ué. Não dá.
Luiz Eduardo explicava.
–Papa é meio que nem Papai Noel. Entendeu?
–Como assim?
–Gordinho. Rosadinho. Olho azul.
–Ai, Eduardo. Como você é racista.
–Não é questão de racismo, pô.
Ele bateu os talheres no prato.
–Catolicismo é coisa séria, Patrícia.
–Então. Somos todos irmãos.
–Papa não é babalaô. Caramba.
O preconceito foi demais para Patrícia.
Ela saiu de casa na segunda-feira.
Um amigo avisou Eduardo.
Patrícia está saindo com o Ettore.
Italiano. Budista. Olhos azuis.
Na hora do pecado, a religião não conta.

O SOL POR TESTEMUNHA

Renúncia. Despedida. Reflexão.
O papa Bento 16 se retira.
Iolanda deu um suspiro.
–Falam mal dele, mas…
Sua família era de origem alemã.
–Ele parece tanto o vovô Fritz…
Imagens distantes da serra gaúcha ocuparam a mente de Iolanda.
–Ele me contava histórias do lobo mau…
Na gaveta, o retrato em preto e branco.
–A gente brincava de pega-pega…
Um senhor de cabelo branco sorria de ladinho.
–Ele me punha no colo…
Um calor intenso cresceu entre as pernas de Iolanda.
–Me dava balinha pra chupar.
É verão.
–Ai. Preciso tomar uma ducha.
O desmaio foi no caminho do banheiro.
Uma voz com forte sotaque parecia vir da gavetinha.
–Fokko da inferrrna, Ioláánta… é taqui ke fem esta calorrón.
Não se lavam com duchas os erros do passado.

CULTURA EM CASA

Rumores. Boatos. Palpites.
Quem será o próximo papa?
O mundo espera a fumaça branca.
Rogério dava um risinho.
–Aqui, a fumaça é todo dia…
Aos trinta anos, ele ainda não havia abandonado o hábito da maconha.
–É a minha religião.
Hora de cultura. Hora de um filminho em casa.
Lincoln. A vida do presidente americano narrada com emoção.
–Parece que ganhou o Oscar.
Guerra. Escravidão. Democracia.
–Esse chapéu do Lincoln parece uma chaminé.
A visão surgiu cheia de mistério.
Fumaça saía da cartola. Lincoln dava o recado.
–American pope. Pááp amerwicáán.
O cheiro de queimado despertou Rogério.
Curto-circuito na fiação do televisor.
–Não compro mais DVD pirata.
O mundo precisa de líderes.
Mas os liderados também precisam fazer a sua parte.

À ESPERA DE UMA DECISÃO

Edifícios. Condomínios. Incorporações.
A cidade precisa crescer.
Na Construtora Quatro Chaves, muita expectativa.
–Conseguimos o terreno?
–Não sei. O loteamento…
Na mesa ao lado, a secretária Izildinha deixava o pensamento voar.
–O Bento 16…
Ela estava na torcida.
–Um papa brasileiro. Já imaginou?
Pelas janelas envidraçadas do escritório, ela contemplava a região da Marginal.
–A fumaça branca. Vai se tingir de verde e amarelo.
O chefe dela largou o celular.
–Grande notícia! Dá para ver a fumaça?
Izildinha achou que era o papa. Mas o dr. Sabóia correu para a janela.
Rolos de fumaça preta se levantavam da Favela Dom Hélder Câmara.
–Sem os barracos, vai depressa. Maravilha, Ronaldo.
Não só preces sobem aos céus de uma metrópole.

OS OLHOS DA FÉ

Samba. Mulatas. Futebol.
Muitos estrangeiros adoram o Brasil.
O americano Norton era um deles.
Só que mulatas não são tudo na vida nacional.
–O pááp. Siráh quil vai séhr brwasilééhr?
Ele estava na torcida pelo novo papa.
No Hotel Gran Belmont, ele ligou a TV a cabo.
Muita animação.
–Vai dar Brasil na cabeça, minha geeente…
–Ligál. O neicionaliizm du pouv.
–Brasil favorito!
Mas as notícias não vinham de Roma.
Era o Galvão Bueno antecipando um campeonato de vôlei.
Norton mudou de canal. Um senhor usando crucifixo apareceu.
Roupas pretas. Ar iluminado.
–O demônio será venciiidooo…
–Aah, dév seyr o dón Odyil.
Era o Zé do Caixão.
Norton continua confiante no Brasil.
O futuro é como um conclave.
Mesmo com fé, ninguém enxerga direito.

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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Comentários

  1. Gabrielle Émilie comentou em 20/03/13 at 19:28

    Parece que você estava lidando com um estourador de bolinhas no seu post anterior… não tenho nada a ver com isso…

  2. Paulo Eduardo comentou em 14/03/13 at 9:42

    Poxa Marcelo, muito tempo sem as crônicas do Voltaire. São ótimas!!

  3. Erivaldo Resende Alves comentou em 10/03/13 at 19:25

    A igreja anglicana seria aplaudida hoje diante do caos que se ver vindo de roma!

  4. Gabrielle Émilie comentou em 10/03/13 at 17:42

    Mais uma carinhosa discordância: por que o nome da secretária é o único que está no diminutivo?… lembremos a encarnação passada: viva a igualdade!…

  5. Gabrielle Émilie comentou em 10/03/13 at 16:48

    Voltaire, há quanto tempo, mais de 2 séculos… Sinto discordar de você, mas acho que, dependendo do erro do passado, pode-se apagar com ducha, sim! Vive la ducha! Caso contrário, tudo fica rígido demais. É claro, dependendo do erro…

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