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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

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O major Costinha

Por Marcelo Coelho
21/04/13 16:52

Por falar em crianças, acabo de ler Sob as ordens do major Costinha, de Jayme Loureiro, com ilustrações de Gene Johnson (editora ÔZé).
São historinhas da “vida animal”, como diz o autor. O personagem do título, por exemplo, é um galo que tiraniza o ambiente:
“Major Costinha não andava pelo jardim, e sim marchava. Major Costinha não cantava de madrugada, e sim tocava clarim. Major Costinha não cacarejava, e sim gritava ordens. Major Costinha não gostava de paz, e sim gostava de guerra.”
Pelas repetições, pelo humor, pelo fato de o protagonista ser um bicho, temos a certeza de que se trata de livro para crianças.
Será? Por mais que se aceite a presença da malignidade infantil, o texto transcende os limites do “indicado” para o público de cinco a sete anos. Os desfechos das histórias são desconcertantes, e por vezes cruéis. A ironia é mais cruel ainda. Depois de contar as aventuras de uma simpática formiguinha, o autor termina deste modo:
“…por um azar do destino, a formiga fica devendo o resto da história para os netinhos. Aliás, a história não tem resto. Quando ela acordou, já era tarde demais. Um sabiá a levava no bico para alimentar os filhotes. Parece um final muito triste para uma história que prometia tantas aventuras e alegrias. Mas basta imaginar a carinha de felicidade dos sabiazinhos quando viram chegar tão saborosa formiga que logo abriremos um gostoso sorriso.”
Jayme Loureiro tem uma tese sobre Machado de Assis, e suas histórias infantis parecem realizar essa improbabilidade: imagine-se o velho bruxo convidado a uma escolinha maternal, encarregado de divertir as crianças… mas incapaz de reprimir um senso de revolta e amargura diante do absurdo da vida.
Também a escrita, a sintaxe de Loureiro são altamente machadianas. Nasce na fazenda um passarinho com cara de porco, e um porco com cara de passarinho. Os bichos se reúnem para decidir o que fazer. Um galo vem dar a sua opinião.
“Com o peito estufado de sabedoria, o velho galo, mais uma vez, tomou a dianteira. E propôs, argumentando com extrema perspicácia, que se pedisse ajuda ao fazendeiro. Ora, um homem –e mais, um homem lido e viajado e que tinha visto tudo e mais um pouco na vida—não seria capaz de desvendar o enigma e solucionar a embaraçosa situação? A brilhante proposta foi saudada com esperança”.
Esse uso do discurso indireto livre –a voz do galo se sobrepondo à do narrador— e a interrupção depois de “ora, um homem” trazem clara a marca machadiana.
Outro conto, sobre um papagaio que faz declarações de amor no lugar do apaixonado, é praticamente “literatura adulta”. O que as crianças acharão disso? Fiquei assustado –ou melhor, admirado. É um livro para se ler com risos e calafrios, e para se colocar na estante entre os de La Fontaine e os de Machado de Assis.

.

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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Comentários

  1. Valéria comentou em 25/04/13 at 9:29

    Ai, Marcelo, v. merece mais que essa promiscuidade…
    Se o cara prefere R.A. que vá fazer auê no blog dele!

    Crianças não são boas ou más.
    Acima da própria herança genética, os tipos de sensações físicas que um bebê experimenta podem definir sua maneira de perceber o mundo e lidar com o outro. Já se comprovou que as vibrações da mâe na gestação interferem na formação do temperamento da criança, e massagens como a shantala indiana podem equilibrar seu sistema nervoso. É de se esperar que as mais sensíveis reagirão com maior ou menor agressividade ou irritabilidade, e, nessa condição, devem ser mais preservadas de situações estressantes.
    Nelas, ainda em um nível mais alto, a exposição a exemplos ou experiências de privações, medo, violência, resultam em manifestações negativas do comportamento, variando da apatia e depressão à hiperatividade e agressividade.
    Somos irresponsáveis com o que depositamos nas crianças. O resultado se faz notar.
    Temos muito que aprender.

  2. ribeirovictor comentou em 22/04/13 at 7:57

    Gabrielle, pode até haver outros leques de opção de leitura, de cultura, e que saibam mais que Reinaldo Azevedo. Mas com certeza não é Marcelo Coelho. Você tem mais alguma dica? Duvido!

    • Gabrielle comentou em 22/04/13 at 8:55

      Victor, acho que não deveria dar mais corda para essa picuinha. De qualquer modo, como leitora comum do mundo que me cerca, de uma área não específica, não me faz falta não ler o Reinaldo Azevedo. O mundo da leitura é mundo extenso. Gosto, por exemplo, do Mino Carta, da Carta Capital. Se fulano é mais inteligente que Beltrano, que é mais inteligente que Sicrano, não estou nem aí. Há um conjunto de leituras que podem agradar um certo leitor. Cada um com seu cada um.
      Adorei também, outro dia, as ponderações feitas por um professor de ética da USP no jornal da Cultura, o qual gosto muito de assistir. Isso sem falar no Roda Viva. Além disso, de vez em quando leio o New York Times, sem prestar tanta atenção no nome do jornalista. Uma das últimas vezes que prestei atenção, o artigo tinha sido escrito por um articulista (?) que escreve sobre economia, com um viés meio social. Acho que ele foi nomeado ou ganhou o Nobel, não sei. De vez em quando alguns de seus artigos são traduzidos pela Folha. E, mais raramente, dou uma olhadinha na New Yorker, mas confesso que ando bastante preguiçosa.

      • Gabrielle comentou em 22/04/13 at 9:13

        correções: agradar a, assistir a (etc.). O nome do colunista do New York Times é Paul Krugman.

      • ribeirovictor comentou em 22/04/13 at 17:20

        Gabrielle, com todo respeito, li seu comentário até vc citar Mino Carta. Então vi claramente que somos de searas distintas. Mas o que mais me impressionou foi ver Paul Krugman. Não sei, talvez vc deva combater essa praga, a preguiça. Confesso que me contagiou. Talvez, visto que é tão eclética, não fosse de todo mal ler Reinaldo Azevedo de vez em quando. Mas lembre-se, sem preguiça. Tem que pensar.

        • Gabrielle comentou em 22/04/13 at 18:55

          Victor, a minha preguiça não é de pensar, ainda que eu possa pensar “errado”, segundo os seus termos. A minha preguiça é de ler com disciplina e regularidade um número tal de jornais/revistas. Sou bem eclética mesmo, mas não chego a certos extremos. Por isso talvez não acolha o seu conselho. Mas, mesmo assim, muito obrigada!

  3. ribeirovictor comentou em 22/04/13 at 7:54

    E ai Marcelão. Não vai comentar a situação dos índios? Sexta-feira foi dia do índio. Você não quer mais saber como estão os índios na Raposa do Sol??

  4. nina comentou em 21/04/13 at 22:11

    E aí Marcelo…ja leu Reinaldo Azevedo hoje, se não? leia, ve se aprende com quem sabe, Não é FEIO copiar os BONS!!!!
    FEIO é persistir na burrice.

    • Gabrielle comentou em 21/04/13 at 22:32

      Nina, talvez existam outros leques de opção de leitura, talvez existam outros que saibam mais que o Reinaldo Azevedo. Quantas comparações!

      • nina comentou em 22/04/13 at 19:56

        Por favor te DESAFIO a me citar UM jornalista com melhor argumento em qualquer assunto q Reinaldo Azevedo, No BR atual??? EU NÃO conheço, DISCORDO dele em MUITOS aspectos, mas DUVIDO alguém HOJe q argumente melhor q ele.

        • nina comentou em 22/04/13 at 19:59

          …Q argumente com CONHECIMENTO do assunto, pq falar sem ter grandes conhecimento sob o fato, qualquer meia tigela faz.

  5. Gabrielle comentou em 21/04/13 at 22:08

    Realmente não acredito, não consigo imaginar qualquer malignidade infantil. Não como regra geral… só se for como exceção, que, graças a Deus, nunca presenciei. Mas não quero parecer o galo Costinha, não é a minha intenção fazer esse papel. E por que no outro conto o papagaio faz declarações no lugar do apaixonado? O apaixonado é tímido? Pela sua descrição o livro deve ser interessante e bom, porque, caso contrário, não ficaria guardado entre La Fontaine e Machado de Assis.

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