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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Americanos em 64

Por Marcelo Coelho
22/04/13 13:03

O mais interessante de “O Dia que Durou 21 Anos”
é a pesquisa feita junto a arquivos americanos, para mostrar a participação ativa dos governos Kennedy e Johnson na derrubada do governo João Goulart.
O documentário apresenta, por exemplo, um diálogo entre o presidente Johnson e seu secretário de Estado, Dean Rusk, a respeito do modo como deveria ser tratado o novo governo de Castelo Branco.
Uma das figuras principais do filme, o embaixador Lincoln Gordon, recomendava que o regime militar fosse saudado em termos calorosos. Dean Rusk, o secretário de Estado, preferiria uma fórmula protocolar, sem maiores comprometimentos. Vamos ser calorosos, decide Johnson.
Não podia ser diferente, dado o óbvio envolvimento dos Estados Unidos na conspiração. O documentário mostra, com maquetes e mapas, a operação “Brother Sam”, deslocando navios de guerra americanos no rumo do porto de Santos, às vésperas do golpe.
Era uma maneira de dizer que os Estados Unidos estavam dispostos à intervenção direta, caso Goulart insistisse em se manter no poder. Ele preferiu, para “evitar derramamento de sangue”, conforme sua correta avaliação, deixar o país.
O Brasil amargaria 21 anos de ditadura. O filme de Camilo Tavares entrevista autoridades de Washington, dois cientistas políticos também americanos, e quase não desgruda da figura sorridente de Lincoln Gordon.
Outro aspecto interessante do documentário –que valeria uma pesquisa à parte—foi entrevistar alguns dos seiscentos e tantos militares cassados pelo regime. Há depoimentos emocionantes de alguns oficiais que não se envolveram com a ditadura. O que pensavam, o que souberam depois, o que sofreram? Seria ótimo saber mais sobre eles, até para dissipar um pouco a identificação que ainda temos hoje em dia, totalmente automática, entre ser militar e ser de direita antidemocrática.
Dito isso, o documentário está longe de traçar um quadro satisfatório das tensões e dos dilemas do governo Jango. Sempre me pergunto como é que um presidente, com eleições marcadas para dali a um ano, consegue ver o seu próprio poder escoar-se das mãos.
Como pôde apostar numa aceleração das reformas sociais, quando as ameaças de golpe eram tão evidentes? Se achava que tinha o apoio da maioria da população, por que não resistiu? Como não via que os militares estavam prontos a derrubá-lo, com apoio da burguesia, da classe média, dos proprietários rurais e dos Estados Unidos? Um presidente mais hábil, mais forte, mais inteligente, teria conseguido segurar a onda? Não é justificar o golpe, claro, mas acho que a fraqueza de Jango ajudou no desencadeamento da tragédia.
Quem vê o filme pensa apenas que havia um presidente bem intencionado, que os americanos se encarregaram de derrubar. Sem apoio do Congresso, Jango quis fazer reformas contando apenas com a mobilização popular. Imaginou que os militares fossem aceitar de braços cruzados a movimentação nos escalões inferiores das Forças Armadas. Luis Carlos Prestes dizia, à época, que os comunistas ainda não estavam no governo, mas já estavam no poder. Em pleno sistema da guerra fria, isso era evidentemente brincar com fogo. A aventura custou caríssimo.

Dean Rusk e Lyndon Johnson -wikimedia

About Marcelo Coelho

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Estudou Ciências Sociais na USP. Escreve semanalmente no caderno "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, e publicou, entre outros, "Crítica Cultural: Teoria e Prática" (Publifolha) e "Patópolis" (Iluminuras)
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Comentários

  1. Jo Lima comentou em 22/04/13 at 23:12

    Uma visão pouco mostrada é que os militares tomaram o poder ajudados por uma guerra civil que vinha acontecendo desde os anos 50 nos bastidores da política brasileira. JK só conseguiu tomar posse graças à intervenção do Marechal Lott. Havia uma briga interna na politica nacional. Um queria destruir o outro para chegar ao poder – sendo o mais notório Carlos Lacerda. LAcerda e JK acharam que os militares entrariam no jogo, se livrariam dos mais radicais e deixariam o terreno livre para a eleição de 65. Só que os militares decidiram que eles iam dar as cartas. E essa insanidade das lideranças políticas civis custou ao país duas décadas de atraso institucional – pelo qual até hoje ainda estamos pagando.

  2. Gabrielle comentou em 22/04/13 at 20:24

    É, esse documentário deve ser interessante. Os EUA são muito contraditórios mesmo, é incrível!

  3. rodrigo t comentou em 22/04/13 at 16:29

    Raposa Serra do Sol,e agora Marcelo!!!

  4. Marcio comentou em 22/04/13 at 14:58

    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/e-nao-e-que-os-homens-maus-estavam-certos-enquanto-os-bonzinhos-geravam-fome-pobreza-e-prostituicao-titulo-forte-ne-entao-leiam/

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