Teatro: Caleidoscópio
17/05/13 12:29Grupos especializados em teatro de improviso, como o “Jogando no Quintal”, não têm como desagradar a plateia. A velocidade, a concentração, o virtuosismo dos atores produz espanto e risadas em todo mundo. Depois de assistir a uns três ou quatro espetáculos desse tipo, continuo gostando e recomendando, mas é natural que tudo fique um pouco repetitivo, como um show de mágica.
Com “Caleidoscópio”, em curta temporada no Tucarena, o grupo de Márcio Ballas dá um passo além da gincana, do estilo de competição em que se baseia o teatro de improviso. Em vez de números isolados, com desafios específicos (do gênero contar uma história em dois minutos, recontá-la de trás para diante, etc.), “Caleidoscópio” cria uma narrativa mais ou menos contínua, e tem a sutileza de não explicitar quais as regras que deverão ser obedecidas pelos atores.
Eles começam em círculo, contando episódios da vida pessoal, a que se alternam perguntas bastante surpreendentes (que acredito inventadas na hora) a respeito do que foi contado. Mas isso é só uma maneira de esquentar o espetáculo, por que aos poucos serão propostas perguntas à plateia. Do gênero: “você se lembra de alguma gafe que cometeu?” Ou “você guarda até hoje algum objeto que foi importante na sua infância?”
Sempre alguém do público se dispõe a responder. Aparentemente, nada é feito das respostas que se fizeram. Mas a improvisação dos atores já começou, e, como num jogo de roda, ou num caleidoscópio, elementos das narrativas apresentadas pelo público serão utilizados no espetáculo.
O resultado pode demorar para acontecer, com alguns momentos arrastados (coisa que a divisão em pequenos desafios, tipo gincana, evitava). Mas, sem deixar de ser engraçado, “Caleidoscópio” consegue algo mais difícil –é uma peça poética, delicada, sem agressões fáceis, ao mesmo tempo em que mostra o virtuosismo e humor dos atores. Formalmente, pelo menos, avança com ousadia para além dos limites do improviso que eu já tinha visto.