Não saia de casa
22/05/13 02:30O problema de Barack Obama, disse outro dia uma ex-assessora, “é que na verdade ele não gosta muito de gente”. Até surpreende, continuou Neera Tanden, “que ele seja um político. Não telefona para ninguém e não é próximo de muitas pessoas nem no seu partido”.
Apesar das muitas dificuldades e hesitações do presidente americano, eis aí um motivo a mais para eu simpatizar com ele. Custa a confessar, mas sinto o mesmo: não acho fácil gostar de gente.
Por espírito democrático, durante anos eu me sentava ao lado do motorista de táxi. Até que aprendi o óbvio: quem não tem disposição para conversar com o taxista faz melhor se ficar no banco de trás. Não garante que você fique a salvo de ouvir bobagens, mas protege um pouco.
O inferno são os outros, disse Sartre —e, se a frase costuma ser citada por todo mundo, não é menos verdade que funciona especialmente bem entre intelectuais.
Claro, para citar agora a Simone de Beauvoir, ninguém nasce intelectual. A pessoa se torna intelectual, ou nerd, ou matemático, porque prefere a companhia de livros, computadores e números à dos “amiguinhos” da escola.
Concluo, ainda militando a meu favor, que está errada uma frase clássica da direita populista. A saber, a de que “esses intelectuais de esquerda não gostam de povo”.
Não é que não gostem de povo. Não gostam de gente, em geral. Marilena Chaui, por exemplo, afirma detestar a classe média.
Se definirmos classe média como o grupo que se vê refletido nas páginas de “Veja”, concordo. A classe operária, se for definida como o grupo que se vê refletido nos programas do Datena, não se sai melhor.
Sim, tenho bons amigos e preciso deles. Se vou a um jantar, divirto-me, conto casos, derrotei há muito a própria timidez. Mas faço um esforço, cada vez maior, aliás, para sair de casa.
“Nunca saí de casa sem ter levado porrada”, resumiu o escritor Pedro Nava. Felizmente não digo o mesmo. Às vezes cumpro até um desafio: o de obter um sorriso, uma risada, de cada pessoa com quem encontro. Como certo personagem de Racine, cubro de flores a borda do grande abismo.
Depois, tudo fica tão mais fácil com a internet. Mesmo a ida ao shopping, relativamente segura e confortável, perde para a comodidade de se comprar qualquer porcaria em casa.
Escrevo essas coisas pensando no problema das cidades. Nem preciso falar da Virada Cultural. A iniciativa é excelente (eu é que não vou). Serve para que os habitantes de São Paulo se reapropriem de um espaço tomado pelos carros e pelos mendigos.
Mas é uma luta de vida ou morte, como se viu com as vítimas desse último fim de semana.
O problema não se limita a São Paulo. Tome-se a maratona de Boston. A ideia, ainda uma vez, é inventar um uso “saudável”, ou “cultural”, para o espaço urbano. Não se trata mais de viver a cidade no seu dia a dia, mas de produzir “eventos”. Esses se esgotam em si mesmos.
Não são mais procissões ou comícios, e se alguém quer cuidar da saúde pode perfeitamente correr sozinho. A ideia é juntar gente. Celebrar, se quisermos, a experiência de um corpo coletivo.
A luta de vida ou morte, também nos Estados Unidos, se fez presente. Uma bomba caseira pode fazer mais estragos do que dez arrastões paulistanos.
A saída parece ser a de tornar o espaço público um espaço vigiado. As câmeras previnem, ou pelo menos ajudam a punir, a ação dos agressores da cidade.
O direito de ir e vir, de conviver com os semelhantes, torna-se uma espécie de “sursis”, de liberdade condicional —e a igualdade se resolve nos números afixados no crachá do maratonista, se não forem os números da ficha policial.
Ao colapso do espaço público corresponde a hipertrofia do espaço privado. O símbolo disso veio também dos Estados Unidos. Um maníaco sequestra menininhas, cobre de tábuas as janelas da própria casa, promove toda sorte de abusos, e os vizinhos não sabem de nada.
Fechado no seu núcleo protetor, sem admitir um raio de sol dentro de casa, aquele infeliz cultivava o fungo fantasioso do incesto.
Lá fora, na maratona, ou na escola modelar, outro maníaco dispara a esmo ou detona bombas na multidão. Pedofilia e terrorismo se completam. Entre o espaço público e o privado, inventou-se a terra de ninguém, a prisão sem dono, com jaulas a céu aberto: o campo de Guantánamo.
Quem sabe? Na escala dos que não gostam de gente, talvez eu não seja dos mais exagerados.
kswepnbsdfmpdpfmip, Www medicinenet com tadalafil article, IBfNduv.
abpsbnbsdfmpdpfmip, Viagra pharmacy, ndEhbFz.
sdhicnbsdfmpdpfmip, Sildenafil citrato, dMUlHlK.
txjgunbsdfmpdpfmip, Reverse phone unlisted, PXLgewE.
zprmanbsdfmpdpfmip, HGH, MzjAAsp.
nzmtznbsdfmpdpfmip, What is the eqivalent dosage of 2mg valium to klonopin, LdMDDjj.
mhpehnbsdfmpdpfmip, No deposit casino bonus blog, RGtdRqo.
tppxfnbsdfmpdpfmip, Gratis online casino, FAOIDEZ.
bfzvpnbsdfmpdpfmip, Online Casino, pfFquHd.
pxffvnbsdfmpdpfmip, Priligy buy online, qFaLJNy.
rhheinbsdfmpdpfmip, Cialis 3 pills free coupon, EYWakhM.
slzgnnbsdfmpdpfmip, Blackjack casino online, OIsgLUr.
zqgqinbsdfmpdpfmip, Table roulette, sKyeLMm.
wgcitnbsdfmpdpfmip, The makers of viagra sued by plantiffs, hBREEgS.
rhbexnbsdfmpdpfmip, Online casino top 10, wneCyNR.
qurtrnbsdfmpdpfmip, Slots wheel, JBIxfGD.
apvwsnbsdfmpdpfmip, Cialis no prescription, UtwkxOz.
dtbysnbsdfmpdpfmip, Stanley casino online, cbLClVz.
rdijbnbsdfmpdpfmip, Cialis, tSpApIa.
yzrvjnbsdfmpdpfmip, Sildenafil tkorea, YfIfnTR.
yjdrpnbsdfmpdpfmip, Worldwide supplier of kamagra, hHewGgd.
vluqfnbsdfmpdpfmip, Generic sildenafil citrate indian pharmacy, vxjlXhj.
msmnlnbsdfmpdpfmip, Vigrx plus ingredients, RJknryK.
jlqyrnbsdfmpdpfmip, Hostmonster, eoZBxLH.
Folha de S.Paulo – Blogs – Não saia de casa | Marcelo Coelho
Folha de S.Paulo – Blogs – Não saia de casa | Marcelo Coelho
kucuonbsdfmpdpfmip, Ncr 2113 cash register printer problem, VGOFUUK.
lonkwnbsdfmpdpfmip, Zetaclear, xWqBLxU.
nwccanbsdfmpdpfmip, Penis Enlargement, vRVnwvz.
mvdxdnbsdfmpdpfmip, Cialis levitra staxyn stendra and viagra, vkVGuVd.