voltaire de souza
03/06/13 18:38Recentes comentários do cronista do “Agora”
CORAÇÃO VIAJANTE
Protesto. Exotismo. Animação.
É a Parada Gay.
O frio castiga a cidade.
Ivan se preocupava.
–Como é que eu vou aguentar com esse bustiê?
O rapaz tinha vindo de Manaus para o evento.
–Nem meia de nylon eu trouxe…
Coragem. Desejo. Determinação.
Ivan defendeu os direitos da pele morena num clima temperado.
Depois, a dor de cabeça. A tosse forte.
No Hospital Santa Ismênia, o diagnóstico.
Princípio de pneumonia.
Ivan aceitou as doses de um poderoso antibiótico.
A enfermeira Thalytta cuidou do viajante.
Ivan não sabe explicar.
A paixão foi imediata. O sexo ocorreu no próprio leito do hospital.
Erram profundamente os religiosos que acreditam na cura do comportamento gay.
Mas certos antibióticos produzem, talvez, efeitos ainda pouco estudados.
SABEDORIA DO ALÉM
Insegurança. Medo. Confusão.
Boatos sobre o fim da Bolsa-Família agitaram o país.
Verônica seguia pela TV.
–É deprimente.
Filas no caixa.
–Essas pessoas não têm vergonha?
Ao lado, a cadelinha Tiffany exigia bombons.
–Quieta.
Verônica se lembrou do seu pai. Falecido recentemente.
–Não pode dar o peixe. Tem de ensinar a pescar.
Ela balançava a cabeça.
–E essa gentarada dependendo do governo.
–Wóf. Wóf.
De repente, a tela plana piscou estranhamente.
Uma imagem turva surgiu entre as sombras do living.
–Verôôônica… sou eeeu… seu paaai.
O recado do fantasma era objetivo.
–Não esquece de processar o Zé Luiz. Aquele pulha.
O ex-marido. Que andava dificultando o pagamento da pensão.
Famílias acabam. Mas a grana não pode faltar jamais.
DESPEDIDA DE UM ÍDOLO
Emoção. Esporte. Torcida.
O craque Neymar anuncia.
Irá deixar o Brasil.
Dayane não se conformava.
–Nem um autógrafo eu consegui.
Ela sonhava com mais.
Beijos. Sexo. Casamento.
A bela jovem pesquisava na internet.
–Quando ele vai embora?
A juventude não tem tempo a perder.
Boates. Estádios. Centros de treinamento.
–Eu tenho de encontrar o Neymar.
Dayane caprichou na minissaia.
–Será que eu uso a botinha branca?
Ela se olhava no espelho.
–Hum… fico com cara de paquita.
É difícil adivinhar os desejos de um ídolo.
Calcinhas. Bustiês. Sandálias.
O desespero morava no fundo das gavetas.
–Quer saber?
Ligou para o Hudson.
Ex-namorado. Ex-reserva da Portuguesa Santista em 2002.
O amor é como o futebol.
Por vezes, fica tudo no arroz com feijão.
Ficamos tão vendidos aos grandes problemas sociais, econômicos, políticos e etc. do Brasil, que só servem para nos deprimir, porque são argumentação fiada para aparecer, já que nunca são tratados com seriedade, além das vagas palavras, que esquecemos que o trivial da vida é importante, e também nos consome por dentro. Bendito Voltaire de Souza, que tem a virtude de Millôr Fernandes: ninguém mais sério do que o humorista.