Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

Perfil completo

Stravinsky hoje

Por Folha
05/06/13 02:13

O senhor acha, perguntaram a Stravinsky na década de 1960, que sua música é agora mais compreendida do que na época da “Sagração da Primavera”? Como se sabe, a estreia do balé, em 1913, produziu um dos maiores escândalos da história da música.

Não, “não compreendem melhor agora”, respondeu Stravinsky. Simplesmente “os escândalos passaram de moda”, enquanto a música continuava difícil.

Ou melhor, acrescentou. Não é que o público tivesse de “compreender melhor” a sua música. Mas tinha, isso sim, “de ouvir melhor”.

E quanto ao futuro?, perguntou o repórter polonês. O público vai acabar compreendendo? Ninguém sabe o que é o futuro, respondeu Stravinsky, decerto cansado diante de perguntas a que deve ter respondido com muita frequência.

Em qualquer peça de música clássica, e não apenas no caso de Stravinsky, o problema da incompreensão existe. Podemos gostar de Mozart e Beethoven, mas quem, num concerto, está “entendendo” tudo o que se passa?

Sem contar as músicas que, de tanto sucesso, tornaram-se quase impossíveis de acolher com inteligência.

A Quinta Sinfonia de Beethoven, por exemplo. O “tã-tã-tã-taaam” transformou-se num rótulo de si mesmo, é algo que quase não se ouve mais: apenas se reconhece.

Talvez tenha sido por isso que, no começo do século 20, a arte moderna tenha se voltado tantas vezes para o “primitivo”, para o “selvagem” —e a estreia da “Sagração da Primavera”, que completou cem anos na semana passada, ficou como um dos maiores exemplos dessa atração pela “barbárie”.

É que a “civilização”, num sentido muito particular, tornara-se um impedimento para a arte. Quem ouve muito uma música já não a escuta mais. A “selvageria”, portanto, pretendeu apenas raspar a pátina, o verniz, a cera do ouvido de uma plateia civilizada demais —e Paris, onde o balé estreou, era o lugar ideal para isso.

Esse processo de superexposição a determinadas obras de arte explica, também, a importância dos intérpretes em música clássica. O grande intérprete consegue fazer com que uma obra já muito conhecida seja descoberta como novidade.

Na música barroca, por exemplo, tudo foi reinventado a partir dos anos 1960, quando começou a pesquisa pelos instrumentos originais e por uma nova fidelidade às partituras de época.

O resultado paradoxal dessa maneira de interpretar os barrocos (sem verniz, com mais secura e menos calda de caramelo) foi que Vivaldi e Haendel se tornaram… quase stravinskianos também. O futuro, sobre o qual indagava o repórter na entrevista com Stravinsky, chegaria impondo uma revolução sobre o passado.

O próprio Stravinsky se encarregou disso. Depois da fase “russa” e “bárbara” dos balés com Diaghilev, reescreveu partituras de Pergolesi (1710-1736), e entrou numa fase “neoclássica”. O curioso é que uma obra como seu concerto para violino, por exemplo, apesar de muito menos barulhento e dissonante do que a “Sagração”, no fundo é ainda mais difícil de ouvir.

Não se traduz em ideias como “violência primitiva”, “poder telúrico”, “ritmo primal” que nos ajudam a apreciar a “Sagração”.

Talvez seja uma obra de menor qualidade mesmo. Em todo caso, o desenvolvimento posterior de Stravinsky não foi, como dizem, uma “regressão”, uma desistência de qualquer missão revolucionária que o mestre desempenhara no começo do século.

Ao longo de sua vida, assumindo diferentes “estilos”, Stravinsky foi se tornando mais reconhecível por quem ele era, enquanto compositor individual, e menos como um mero “médium” da crise estética modernista.

Modos de deslocar o ritmo, um gosto cítrico na instrumentação, a recusa das técnicas de transição, a “montagem” mais que o desenvolvimento, aparecem em peças menos escandalosas, mais “civilizadas”, tanto quanto nas escarpas, cavernas e fogueiras da “Sagração”.

Compositores e intérpretes posteriores se tornaram “stravinskianos” em alguns momentos, sem que o termo se reduzisse a ser sinônimo de “modernistas”. Foi um longo caminho até que Stravinsky se tornasse, afinal, apenas Stravinsky, e não o equivalente de uma força anônima, a encarnada na “Sagração”.

O compositor sobreviveu ao próprio mito —o que não deixa de ser um ganho da civilização. Vitórias desse tipo são raras; vale a pena comemorar.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Penis enlargement semenax great site good info comentou em 19/06/13 at 2:10

    zbbknnbsdfmpdpfmip, Semenax proxeed, dDLmqmn.

  2. Rtg casino bonus codes comentou em 19/06/13 at 2:09

    qllzznbsdfmpdpfmip, No deposit casino bonus blog, csQbAnL.

  3. Does levitra make it bigger comentou em 19/06/13 at 2:00

    dvwyqnbsdfmpdpfmip, Viagra vs levitra vs cialis, PqLQKYH.

  4. Priligy buy online comentou em 19/06/13 at 2:00

    gjodonbsdfmpdpfmip, Priligy studies, jXYYZQF.

  5. Electronic Cigarettes comentou em 19/06/13 at 1:57

    awhctnbsdfmpdpfmip, Electronic Cigarettes, OOrXlQf.

  6. Best penis enlargement pills comentou em 19/06/13 at 1:57

    cxlmbnbsdfmpdpfmip, Penis enlargement online, wYRnpok.

  7. Fair Value Option comentou em 19/06/13 at 1:54

    kkxmmnbsdfmpdpfmip, Optionfair Review, SRBlVJZ.

  8. Female viagra alternative comentou em 19/06/13 at 1:49

    vszwvnbsdfmpdpfmip, Viagra, SXQHgGm.

  9. 400 casino bonus comentou em 19/06/13 at 1:48

    uveffnbsdfmpdpfmip, Casino Bonus, dDILTPh.

  10. Loss diet comentou em 19/06/13 at 1:47

    cxpocnbsdfmpdpfmip, Diet calorie, rTQlGHq.

  11. Nicotine free electronic cigarette comentou em 19/06/13 at 1:40

    cfdypnbsdfmpdpfmip, Electronic cigarette big mountain, NCeCclH.

  12. I dont understand these new slot machines comentou em 19/06/13 at 1:35

    tdwqpnbsdfmpdpfmip, How to trick the slot machines, bWHFETr.

← Comentários anteriores
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailcoelhofsp@uol.com.br

Buscar

Busca

Versão impressa

  • Em cartaz
  • Geral
  • Livros
  • Versão impressa
  • Recent posts Marcelo Coelho
  1. 1

    Aviso

  2. 2

    Debate sem fim

  3. 3

    Pequenos profissionais

  4. 4

    O homem da fibra ótica

  5. 5

    Temporada de caça

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 01/06/2006 a 31/01/2012

Sites relacionados

  • Seja avisado dos novos posts deste blog
  • Folha.com
  • UOL
  • BOL
  • O link de todos os links
  • Eurozine
  • Voltaire e seu tempo
  • Fotos maravilhosas
  • Rádio naxos
  • Times Literary Supplement
  • Teatro fantasma
  • Controvérsia
  • Entrelinhas
  • Luiz felipe de alencastro
  • Jean Claude Bernardet
  • Amigo de Montaigne
  • Catatau: cultura, ciência e afins
  • Guindaste: literatura, crianças, desenhos
  • Marco Antônio Araújo: aforismos
  • Sebos on line
  • Comentários, arte e fotos
  • Ciência em Dia
  • Pinakothek
  • The Atlantic
  • Bibliodyssey, gravuras e ilustrações
  • Teatro e libertinagem com Mauricio Paroni
  • Caça-lorotas de internet
  • Curiosidades de todo tipo na internet
  • Livros antigos de arte
  • George orwell: diário
  • Jornais de todo o mundo
  • Videos de arte
  • Guia de pronúncia em todas as línguas
  • Biblioteca universal
  • Blog do favre
  • Milton ribeiro
  • Noemi jaffe
  • Images&visions
  • Partituras clássicas
  • Revistas acadêmicas
  • Blog de música classica
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).