Filmes: "Hannah Arendt"
04/08/13 12:46“Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, é um bom filme para quem quiser se familiarizar com a grande polêmica filosófica e moral criada por “Eichmann em Jerusalém”. Acompanhamos a viagem de Hannah Arendt a Israel, onde o criminoso nazista foi julgado em 1961. O filme alterna cenas reais do julgamento –closes na figura rígida, mas não monstruosa, do acusado— com a encenação das reações do público, por vezes dividido entre o horror das lembranças da Shoah e a raiva diante de alguns líderes judeus que teriam “colaborado” com as autoridades nazistas.
É em torno desse problema que a atitude de Hannah Arendt causou ondas de indignação, mesmo entre alguns de seus melhores amigos, como Hans Jonas e Kurt Blumenfeld. A solidão teimosa da filósofa ganha muito vigor no ponto alto do filme, quando se encena uma palestra de Arendt num auditório abarrotado, respondendo com altivez, lógica e grandeza às críticas que seu livro suscitou.
Dito isso, o filme de Margarethe von Trotta está longe de ser vivo e convincente. Parece feito para televisão; todos os atores parecem estar usando roupas um modelo acima de seu corpo, muito normaizinhos e sem vida para o tipo de personalidades que estavam em confronto na história real. Saem-se melhor os atores puramente caricaturais, como a grã-fina dona do “New Yorker”, desde o começo um bocado refratária à ideia de contratar uma filósofa para cobrir o julgamento de Eichmann nas páginas da revista. Ou então o antipático Norman Podhoretz, um dos principais acusadores intelectuais no debate contra Arendt.
Em seu livro “Ex-Friends”, Podhoretz tem um texto admirável sobre seu desentendimento com Arendt. Narra sua visita ao apartamento da amiga, e o medo que tinha ao ver seu texto de críticas a “Eichmann em Jerusalém” anotado minuciosamente nas margens. Conforme a tarde avançava, a discussão ia se tornando mais dura, e nenhum dos dois se animou a acender a luz no apartamento. Na escuridão, os dois se despediram para sempre.
O debate sobre a suposta responsabilidade de líderes judeus na ajuda e na organização do Holocausto não pode ser mais difícil e doloroso. No discurso brilhante de Hannah Arendt, a plateia não reage ao que provavelmente é o ponto mais frágil de sua argumentação. “Havia um espaço”, diz ela entre baforadas de cigarro, “entre atos de resistência que seriam impossíveis no momento, e a atitude de ajudar os nazistas.” Havia? Como, quando, para quem, com quem? Seria preciso dar detalhes; e, mesmo assim, talvez exista algo de desumano em acusar tais pessoas, quando se estava a milhares de quilômetros dos fatos, em segurança, nos Estados Unidos. Se a acusação viesse de alguém que estava sob o domínio nazista naquele momento, e tivesse feito algo de diferente, seria bem mais difícil responder.
Esse e outros problemas –como o da “normalidade” psicológica do carrasco, que deu origem à expressão “banalidade do mal”—são de qualquer modo expostos com clareza no filme de von Trotta. Pena que o filme seja tão rotineiro; cria uma banalidade de Hannah Arendt, certamente inadequada à personagem que o inspirou.
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Grande frustração com o “Hannah Arendt”! Choco de início, para evitar maiores traumas aos aficcionados. Muitos, demais, gostaram, mas não creio que seja propriamente do filme, mas da Hannah, a mulher verdadeira, que assombrou sua comunidade, especialmente a judaica e os amigos Hans Jonas e Kurt Blumenfeld, ao ver no carrasco apenas um homem de coração sadio, cumpridor burocrático de seus deveres. Isso, porém, já constava de “Eichmann em Jerusalém”, base do script de von Trotta. O filme peca pela ambição de fornecer um antisséptico de largo espectro a Arendt, amparado pela “censura” a qualquer contra-argumentação quanto à visão que ela teve de Eichmann como ser humano. Von Trotta abusou de seu próprio charlatanismo, inclusive na cena final, quando Arendt se expõe diante de seus alunos e sai “vitoriosa”. Essa tendência de absoluta defesa do lado emotivo de Arendt diante do julgamento restou patética no filme, levando para o brejo o insuspeito ingrediente da racionalidade. Valeu, no entanto, pelas cenas documentais.
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Isso aí, Valeria!
Que os palestinos não resistam a Israel. Luta armada! Luta armada!
Desculpe Marcelo, mas de rotineiro o filme nada tem. Sua crítica, apesar de alguns “momentos” cinematográficos” é mais literária que cinematográfica. Apenas pelo assunto o filme já é extraordinário; sem falar da qualidade da narrariva e da atuação dos atores, em particular a personagem central.
Ainda não vi o filme, portanto não posso opinar sobre ele.
Porém, o comentário do blog põe em dúvida a possibilidade de algum nível de resistência, o que não teria sido explicitado por Hannah Arendt, que, além disso, é colocada como em confortável situação para se por na posição de “consciência” da ação das organizações judaicas europeias no holocausto.
Quem leu “Eichmann in Jerusalem” sabe que Arendt indica vários exemplos de ação de resistência exatamente nos moldes citados por sua personagem no filme. Veja-se em especial o capítulo X, “Deportations from Western Europe – France, Belgium, Holland, Denmark, Italy”. Lá há vários exemplos tanto de governos que se recusaram a fazer listas de seus compatriotas judeus (caso da Dinamarca) como Judenrate que, ao invés de seguir o exemplo dos comitês judaicos da Polônia e da Alemanha – que entregaram listas completas, nominais, com famílias inteiras e endereços, mais a recomendação para que os judeus acompanhassem os alemães para os campos de concentração onde seriam “protegidos” em confinamento – avisaram antecipadamente os seus compatriotas de origem judia para fugirem e se esconderem (exemplo da Suécia).
Além disso, quem conhece um pouco da biografia de Arendt sabe que ela foi, sim, de uma coragem intelectual admirável. Com as inconvenientes verdades que tornou acessíveis ao grande público por meio de seu livro, ela sofreu com pesada difamação de vários setores ligados às organizações judaicas norte-americanas.
Hannah talvez tenha tentado deixar a mensagem que nunca mais qualquer povo deve ser conduzido á nenhum tipo de “matadouro” (camaras de gas, getos, “paredões”) sem resistir! O holocausto e seus milhões de vítimas deveria trazer este espírito de combate á todos os povos.