Peças em cartaz: "Rosa"
25/11/13 16:17Quem tiver na família alguma avó judia, vinda da Rússia ou da Polônia, certamente poderá avaliar melhor do que eu o trabalho de Débora Olivieri, no monólogo “Rosa”. Percebe-se o quanto a atriz estudou, nos mínimos gestos, interjeições e tons de voz, os traços característicos de tantas mulheres solitárias que, sobrevivendo ao nazismo, começam vida nova na América.
Mas a peça (em cartaz às segundas e terças no teatro Faap) é igualmente interessante para quem não tem tanta proximidade com os modelos em que Débora Olivieri se baseou. A velha senhora que aparece em cena, às voltas com remédios e sorvetes, rememora sessenta anos de história –do cotidiano de uma aldeia judaica à revolta do gueto de Varsóvia, daí para a fundação do Estado de Israel e para a vida nos Estados Unidos, sem fugir do horror mas sem perder a ironia e a graça jamais.
Ri-se muito durante a peça, do americano Martin Sherman; a personagem é desbocada, teve vários amores, passou por tudo com um misto de ternura e crítica, de dor e insensibilidade acumulada –o que ajuda a plateia a ser conduzida por onde a atriz quiser levá-la.
A bomba final, habilmente ocultada pelo texto, será talvez desagradável a parte da plateia de judeus a que o texto, aparentemente, parecia dirigir-se de forma preferencial. Não importa –é a humanidade toda que está em jogo, na figura dessa única personagem, na voz dessa única atriz.