Benjamin Britten
11/12/13 03:00Com dez anos de idade, ele já tinha composto uma carrada de quartetos de cordas. Aos 14 anos, a lista de suas obras já alcançava 534 títulos.
A produção desses primeiros anos pouco se conhece hoje em dia, claro, mas a “Sinfonia Simples” de Benjamin Britten (1913-1976), terminada em 1934, aproveita com muita graça e verve algo dos materiais infantis do compositor.
Uso uma expressão algo estranha, “materiais infantis”, mas é de propósito. Quarto filho de um dentista, Britten nasceu numa cidadezinha pesqueira na costa leste da Inglaterra, e desde cedo foi objeto de um verdadeiro culto familiar.
O passado de menino prodígio iria sem dúvida ter reflexos difíceis na vida dele. Ofendia-se com facilidade; sem saber muito como, conhecidos de longa data de repente passavam a entrar na sua “lista negra”, tornando-se vítimas daquilo que um crítico classificou como “Britten’s characteristic froideur”. A típica frieza de Britten.
Além disso, os biógrafos se dedicaram a investigar as suspeitas de pedofilia em torno do maior compositor inglês do século 20. Nada de concreto, que eu saiba, ficou comprovado.
Durante toda a vida, ele manteve um respeitável casamento com o tenor Peter Pears; a homossexualidade, que na época impunha discrição, não impediu Pears de virar “sir” e Britten de receber uma distinção ainda mais elevada, tornando-se “lord Britten de Aldeburgh”.
Só não há dúvidas quanto à especial atenção que Britten dedicava a coros de meninos. Mais do que isso, a infância –e, especificamente, as ameaças sexuais a meninos bonitos– está presente em muito de sua produção.
Os entusiastas da ópera tiveram, em 2013, uma efeméride dupla: tanto Richard Wagner (1813-1883) quanto Giuseppe Verdi (1813-1901) têm celebrados os 200 anos de nascimento.
O centenário de Britten também merece ser marcado pelos apreciadores do canto lírico; mais do que ninguém, foi ele quem manteve a ópera como um gênero vivo em meados do século 20.
Sem ser dodecafônica nem vanguardista, a música dele pode ser bem áspera, ou melhor, aflitiva.
Algumas pessoas têm arrepio com isopor, canetinhas hidrográficas ou giz arranhando na lousa. Excelente orquestrador, Britten pode fazer coisas parecidas com cordas agudíssimas, sopros gélidos e xilofones batendo os dentes.
O frio, o vento, os impulsos do mar intratável da costa inglesa faziam parte da memória infantil de Britten e soam em muitas de suas composições. É preciso acostumar-se a elas: depois da “Sinfonia Simples”, um bom caminho é o “Guia dos Jovens para a Orquestra”.
Mostrando de forma brilhante e acessível os diferentes timbres dos instrumentos, é uma das raras obras genuinamente alegres de Britten. Ele pode ser exultante, animado, eufórico —mas a felicidade não é exatamente o seu forte.
Na sua cantata “Saint Nicolas”, a história fala de crianças ameaçadas de virar picadinho; elas vencem no final, mas a marcha comemorativa que termina a peça não deixa de parecer ambígua, ácida e crispada.
A ambiguidade está na raiz, entretanto, de suas obras mais significativas. Depois do “Guia”, vale a pena aventurar-se nos gélidos e engenhosos interlúdios que Britten compôs para “Peter Grimes”, ópera de 1948 que consagrou o compositor.
Música à parte, “Peter Grimes” vale como excelente espetáculo teatral também. Conta a história de um pescador, solitário e violento, que contrata aprendizes para ajudá-lo no barco.
O primeiro garoto morre; acidente, decidem as autoridades da aldeia. Outro menino o substitui. Volta do barco cheio de equimoses; numa tempestade, morrerá também.
Conforme a encenação, o pescador pode ser apresentado como um sádico ou apenas como vítima de circunstâncias especialmente infelizes. “Morte em Veneza”, “A Volta do Parafuso” e “Billy Budd”, outras óperas de Britten, mostram igualmente o jogo entre inocência e culpa, entre sedutor e seduzido, adolescente e homem adulto.
Alguns críticos, como Richard Taruskin, viram na situação de isolamento do homossexual a chave para “Peter Grimes”, escrita numa época em que “sodomia” ainda era crime na Inglaterra. Com o passar do tempo, é a pedofilia que surge como o segredo inconfessável dessa ópera.
Melhor pensar, entretanto, que o verdadeiro drama de Britten não reside em particularidades sexuais desse tipo. O adulto impiedoso e a criança sedutora convivem na mesma pessoa.
Cada ser humano sabe, na verdade, de que modo tratou e trata a criança que tem dentro de si. As dissonâncias e suavidades da obra de Britten constituem um fundo musical possível, e inquietante, para a história que todos carregamos dentro de nós.
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