As previsões dos outros
25/06/14 02:00No mercado financeiro, disse o jornal “Valor” desta segunda-feira (23), também correm apostas sobre a Copa do Mundo.
A consultoria KPMG, por exemplo, desenvolveu um modelo que dava à Espanha 19% de chances de ganhar o campeonato, quase ao lado do Brasil, com 21%.
O modelo matemático do Lloyd’s, empresa britânica que é craque no campo dos seguros, teve desempenho pior: confiava numa final entre Espanha e Alemanha.
Feito o balanço desta fase do Mundial, quem se mostra mais confiável é a velha e boa Goldman Sachs, dando 48,5% de chances ao Brasil, com Argentina e Alemanha bem atrás.
Seria injusto tripudiar sobre tais erros: pouca gente imaginava o total fiasco dos espanhóis.
Os modelos não foram construídos aleatoriamente. Como toda previsão, partem dos dados do passado. Uma vez que, nos últimos meses ou anos, a Espanha andava jogando bem, o razoável era supor que continuaria indo bem durante a Copa.
O razoável se torna absurdo, entretanto, se pensarmos nos raciocínios em que se fundamenta. A saber: quem vai bem sempre irá bem, o passado é prolongável no futuro, e nenhuma novidade jamais acontecerá.
O futuro, em suma, reproduzirá o passado; eis um belo conservadorismo, embora alguns possam chamá-lo de lições da experiência humana.
Exagero um pouco ao dizer isso. Claro que, se os economistas pensassem desse modo, eles não estariam apostando apenas na Copa de 2014, mas também na de 2026.
Além disso, eles não levam em conta só o desempenho recente das seleções. Consideram que o fato de ser sede da Copa aumenta as chances do Brasil, por exemplo —com o que concordo plenamente.
Outro fator seria a “tradição” dos competidores —o que também é razoável, na medida em que desacredita de uma final entre Coreia e Irã. Mas o que isso significa? Apenas que a previsão funciona se não houver nenhuma surpresa.
Haveria dois modos, acho, de melhorar os palpites desse tipo. O primeiro seria incluir no modelo outras variáveis, como a idade dos jogadores, o desempenho do técnico e assim por diante, até o computador aguentar.
Uma segunda forma de aperfeiçoar o sistema seria usá-lo apenas como ponto de partida. Identificados os favoritos, digamos Brasil e Espanha, caberia analisar em profundidade suas condições reais de jogo.
A isso se dedicam, naturalmente, os especialistas em futebol, menos confiantes no poder da estatística. Talvez se saiam ainda pior do que os economistas, entretanto.
Quanto às minhas próprias previsões, começo com a mais errada de todas. Previ que estaria longe do Brasil nesta Copa do Mundo; que não suportaria o oba-oba, a patriotada, a manipulação obscena dos sentimentos nacionais.
Cá estou, acompanhando não só os jogos do Brasil, mas de seus eventuais adversários. Digo em meu favor que, primeiro, o oba-oba tem sido muito menor do que das outras vezes. O bombardeio da “corrente pra frente” foi mitigado pelo movimento do “não vai ter Copa”, e entre os dois extremos chegamos a uma atitude aceitável de torcida com algum realismo.
Em segundo lugar, eu não queria saber de Copa do Mundo porque, desde a derrota por pênaltis do Brasil em 1986, irritava-me o misto de displicência e imaturidade de tantos jogadores brasileiros —mais interessados, a meu ver, em farras e Ferraris do que nas cores nacionais.
Eis que Neymar, justamente a estrela mais mimada da seleção, luta com todas as forças para dar o campeonato ao Brasil; os outros jogadores, com brilho variável, mostram garra equivalente.
De modo geral, os jogos estão muito mais emocionantes do que nas outras Copas, a média de gols tem sido alta, minha velha sensação de estar sendo iludido desaparece.
Meu método de prever o resultado dos jogos tem sido o mais aleatório possível. Acertei, pelo jeitão da coisa, o empate entre Brasil e México. Acertei Bélgica um, Rússia zero, com base na teoria de que a Bélgica é pequena demais para ir além de um gol.
Imaginei qual a melhor final, num sistema de cartas marcadas, para garantir uma vitória brasileira. Pois, convenhamos, o Brasil vai ter de ganhar de qualquer jeito.
Apostei então em Portugal —nada mais simbólico e estético do que isso, além de trazer pouco perigo a nosso país, com um embate entre Neymar e Cristiano Ronaldo para melhorar as coisas. Brasil e Portugal? Vê-se que não tenho muita moral para zombar do Lloyd’s e dos economistas do mercado financeiro.
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É isso aí. Tão ilógico que até tem lógica.