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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

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O recado de Neymar

Por Folha
09/07/14 02:00

Disfarçando a tristeza com um sorriso simpático e hesitante, Neymar transmitiu num vídeo de pouco mais de um minuto sua mensagem à torcida, à comissão técnica e aos jogadores da seleção.

Foi um dos momentos mais tocantes desta Copa, e talvez diga um bocado sobre o nosso país.

Neymar começou se dirigindo, para usar suas palavras, à “rapaziada brasileira”. Soava um pouco antiquado, mas a escolha do termo tinha sua razão de ser.

Com a camiseta preta e o boné de pala virada para trás, Neymar correspondia mais uma vez ao visual adolescente que o caracteriza. Talvez tenha falado em “rapaziada” —incluindo nisso Felipão e outras autoridades—de modo a que todos, de alguma maneira, se igualassem no seu estado juvenil, o de quem sabe que há sempre um longo futuro pela frente.

Ao mesmo tempo, era um modo de se apresentar como alguém mais velho, mais maduro do que o público a que se dirigia. Sua tristeza não poderia tomar as cores de uma frustração infantil; era um adulto, afinal, quem se rendia à evidência médica e aos imprevistos do futebol.

Daí em diante, as palavras de Neymar se encaminharam para um terreno bastante íntimo, pessoal, personalista até.

“Só queria dizer”, começou ele, “que eu vou voltar o mais rápido possível, quando menos se esperar eu estou de volta…”

Agradeceu, naturalmente, as manifestações de carinho recebidas.

Em seguida, tomando fôlego, fez a declaração mais enfática: “O meu sonho ainda não acabou. Foi interrompido por uma jogada, mas ele continua. Tenho certeza que meus companheiros vão fazer de tudo para que eu possa realizar o meu sonho…”

Talvez seja exagero de minha parte, mas não imagino com facilidade um alemão, um francês, com esse tipo de discurso. O mais comum seria o craque estrangeiro minimizar o aspecto pessoal do problema, e partir logo para a conclamação patriótica.

Algo como “venceremos”, “a Pátria será mais forte”, “vive la France”, “Deutschland über alles”.

Mesmo num instante difícil como esse, é como se nossa cultura rejeitasse a mobilização ultranacionalista, a ordem unida de marchar avante. Neymar falou, sobretudo, de si mesmo —e, na hora de se referir à seleção, confiou na possibilidade de que esta realizasse o “seu” sonho.

Longe de mim querer fazer uma crítica ao que ele disse. Ao contrário, ele foi absolutamente natural e sincero. Sabia de sua importância para a seleção, e ao longo de toda uma carreira marcada pelo talento excepcional, seria muito hipócrita se dissesse que o coletivo é mais importante do que o indivíduo.

Para bem ou para mal, tendemos a concordar com ele. O Brasil não teria tantos craques de fama internacional (e tão poucos técnicos importantes atuando na Europa) se não fosse, antes de tudo, um país que confia menos na organização do conjunto do que na inspiração do momento.

Não entendo nada de futebol, mas desconfio que o grande desafio de quem dirige um time brasileiro é o de arrumar uma tática na qual os jogadores possam sobressair individualmente. As tentativas de submeter os craques a um esquema rigoroso provavelmente não são as que dão certo.

Há também, naturalmente, o fato de Neymar ser muito paparicado pela publicidade e pela imprensa. Isso fortalece o destaque dado, na mensagem, à sua própria pessoa. No início de sua trajetória, ele teve mesmo a fase “monstro”, em que algumas declarações arrogantes chegaram a assustar os que primeiro confiaram em seu talento.

Foi admirável, entretanto, a rapidez com que superou aquela fase. Paparicado ou não, Neymar estava jogando com muita garra nesta Copa, corria para baixo e para cima do campo, mostrava estar mais disposto do que qualquer um a ganhar o jogo.

Pode ser implicância minha, mas nada me irritava mais do que a atitude de outro grande craque, Ronaldinho Gaúcho, que costumava sorrir sempre que perdia um gol. Embaraço, vergonha, talvez. Mas, para mim, muitos craques internacionais pareciam descomprometidos quando vestiam a camisa da seleção brasileira.

Neymar, não. Era como se tivesse vestido a sua camisa, e a dos outros dez jogadores também. Lutou como se fosse o Brasil inteiro, embora sabendo que era único.

Imitando a famosa frase de Brecht, caberia dizer que é infeliz o povo que precisa de craques. Ou não?

Talvez seja precisamente uma coisa boa do Brasil, a de que o personalismo das relações, o improviso e a falta de rigor militar nos seus esquemas possam de quando em quando se transformar em garra, em vontade de vencer, em realizar um sonho coletivo, muitas vezes adiado.

P.S.: Férias. Volto dia 20 de agosto.

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Comentários

  1. Brianna comentou em 22/07/14 at 14:51

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  4. Daniela comentou em 19/07/14 at 17:31

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    #força_neimar ajente te ama #e toois te amuuh neymar do coraçao bjs de uma das suas fãns <3 S2

  7. Marcos comentou em 09/07/14 at 17:30

    Pão e circo. Mas os palhaços são aqueles que se iludem e se entorpecem com esse espetáculo tosco. Os artistas desse espetáculo, independente de vitórias ou derrotas, receberão recompensas milionárias. Já a massa, essa terá de continuar acordando cedo todos os dias; terá de continuar tomando o coletivo entupido que circula por vias esburacadas; terá de peregrinar por decrépitos estabelecimentos de saúde; terá de mendigar vagas em escolas públicas… Que importa? O Brasil é o país da copa e das olimpíadas. Acorda, Brasil.

  8. Marco comentou em 09/07/14 at 17:07

    Precisamos de nos livrar da alcunha de país do futebol e sermos o país da educaçao, do progresso, da fraternidade, das realizaçoes.

  9. Roberto Rodrigues comentou em 09/07/14 at 16:16

    …Mesmo com a dor da humilhacäo,gostaria de dizer que me orgulho muito de ser brasileiro,pois tivemos a hombridade de perder duas copas em casa…Times como a Argentina näo a tiveram: compraram de forma descarada uma Copa para näo serem derrotados em casa…

  10. Roberto Rodrigues comentou em 09/07/14 at 16:15

    …Mesmo com a dor da humilhacäo,gostaria de dizer que me orgulho muito de ser brasileiro,pois tivemos a hombridade de perder duas copas em casa…Times como a Argentina näo a tiveram: compraram de forma uma Copa para näo serem derrotados em casa…

  11. Daniel comentou em 09/07/14 at 14:58

    ”Argentina tem o Messi,Brasil tem Neymar e a Alemanha tem um time”-frase de um jornal internacional,não me recordo qual.
    Essa frase explica em poucas palavras o porquê do nosso fracasso no jogo.É o que acho.

  12. DORACY PIGNATTI BaSILE comentou em 09/07/14 at 14:26

    A humilhante derrota do fracasso da seleção brasileira, é o reflexo da politica nacional que possivelmente abrirá os olhos de muitos que não querem ver a farra gozadora dos colarinhos brancos. Acorda Brasil !

  13. luiz simoni comentou em 09/07/14 at 12:12

    AS ESCOLAS EUROPEIAS E SUL AMERICANAS DE FUTEBOL SÃO MUITO DISTINTAS. qUANDO OSANTOS DE NEYMAR FOI JOGAR CONTRA O BARÇELONA NA ESPANHA ACONTECEU APROXIMADAMENTE O QUE O QUE ACONTEU ONTEM NO BRASIL E ALEMANHA. TOQUES RÁPIDOS E DE PRIMEIRA ACABAM ENVOLVENDO OS SUL AMERICANOS.

  14. Paulo comentou em 09/07/14 at 12:10

    Do ponto de vista pessoal, o dinheiro cria indivíduos poderosos e arrogantes, fortes o suficiente para se acreditarem ‘quase deuses’. Vivemos um momento em que só eles parecem ter importância neste mundo. Do ponto de vista coletivo, as coisas mudam: uma grande nação é feita de anônimos. As palavras do Neymar parece ilustrar um pouco isso: “meu sonho”, “realizar meu sonho”, eu, eu, sempre eu. Não há seleção que resista a isso. Time nunca foi e nunca será só “EU”.

  15. Sebastião Almeida de Souza comentou em 09/07/14 at 11:20

    Enquanto permanecer esta politicagem na seleção e deixar que patrocinadores ditem quem joga e quem não joga, teremos copas como esta que vimos.

    Temos muitos jogadores no país que dariam conta do recado sem precisar dos “internacionais”

  16. Gilson comentou em 09/07/14 at 11:12

    A humilhante derrota da seleção(7×1) nada mais é do retrato de um país mal administrado e corrupto.

  17. pk comentou em 09/07/14 at 11:05

    Deixemos de ser hipócritas. O desastre era previsto sim, se analisarmos friamente. A verdade doi, as pessoas escondem, mas estão sempre nas entrelinhas do discurso. Um país de esbórnia que é o Brasil, não poderia ser escondido para sempre através do futebol. Um dia a máscara cai e de fato caiu. Agora, o Brasil terá que enfrentar os fatos com números, que isto sim, mostra o que realmente somos.

  18. Jesuíta Aparecida comentou em 09/07/14 at 10:18

    Sem dúvida o Neymar é um grande jogador, mas vejo que outros jogadores, assim como o David Luiz, também jogou muito, abraçaram a causa e foram muito guerreiros e isso deve ser lembrado.

  19. JOSÉ HUMBERTO ALMEIDA SARMENTO comentou em 09/07/14 at 8:36

    A BASE DE TODO PROJETO RESIDE NO PLANEJAMENTO E NA ORGANIZAÇÃO. PREVER ACONTECIMENTOS É IMPOSSÍVEL, MAS PREVENIR-SE DIANTE DA PROVÁVEL CONCRETIZAÇÃO DE UM REVÉS É MEDIDA COMPONENTE DA PROVIDÊNCIA CONSTANTE NESSE PLANEJAMENTO E NESSA ORGANBIZAÇÃO.

  20. Cloves Soares de Oliveira comentou em 09/07/14 at 7:29

    Houve uma boa dose de irrealismo a respeito do desempenho da seleção. Parece que todos esqueceram que o timoneiro do time acabara de jogar o Palmeiras na segundona e que, a maioria dos principais jogadores estava penando no banco de reserva das suas equipes. Oito de julho marca o fim de um ciclo vitorioso e agora o nosso futebol tem que se re-inventar assim como todo o país.

  21. isbemeletrica comentou em 09/07/14 at 3:54

    humilhados fomos!!! desde o dia que tiraram nosso craque com aquela maldosa joelhada, mas nao se esqueçam que os humilhados serao esaltados!!!

    • Junior comentou em 09/07/14 at 8:39

      os humilhados serão exaltados, esta foi ótima isbemeletrica

    • Gilson comentou em 09/07/14 at 11:15

      tenha dó!!!

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