Mulheres
20/08/14 02:00A viúva de Eduardo Campos, Renata, recebeu condolências do senador petista Lindbergh Farias, candidato ao governo do Rio de Janeiro. Diz a Folha que ela vestia uma blusa com estampa floral —e que respondeu a Lindbergh sem chorar.
“Esse negócio de tristeza, aqui, não combina”, afirmou. “Aqui é força, alegria e coragem.” Tem sido esta, segundo se informa, a atitude de Renata Campos ao longo destes dias.
Na Flip deste ano, assisti a uma mesa sobre os 50 anos do golpe militar, da qual participava Marcelo Rubens Paiva. Ele começou lendo um artigo de Antônio Callado sobre sua mãe, Eunice.
O autor de “Quarup” lembrava ter encontrado Eunice em Búzios, nadando de biquíni, bronzeada e magra. O marido dela, Rubens Paiva, estava preso. O ano era 1971.
Eunice estava animada, depois de ter passado ela própria um tempo na prisão. Recebera informações de que Rubens Paiva estava bem e seria libertado nos dias seguintes. Não era verdade. Àquela altura, seu marido já estava morto, não tendo resistido às sessões de tortura no DOI-Codi.
Marcelo Rubens Paiva leu o artigo de Callado com muita dificuldade, parando para chorar; solidária, a plateia o aplaudia longamente. Ele pediu desculpas, mencionando o fato de estar agora com um filho de poucos meses —o que mudava a sua perspectiva diante da tragédia.
Pediu desculpas, também, porque sua mãe fizera recomendações enfáticas a toda a família. Ela e os filhos nunca seriam fotografados com lágrimas nos olhos.
Sorrir sempre e demonstrar força pessoal seriam a melhor resposta, dizia Eunice, aos assassinos de Rubens Paiva. “Nossa família não será fraca, e não será vencida.”
Marcelo deu um sorriso de autoironia, como a dizer “e olhem para mim agora, chorando…”, mas continuou sua participação no debate, com a notável informalidade que o caracteriza.
Não apenas Rubens Paiva estava longe de ser um “comunista”, como a direita gostava e ainda gosta de dizer, mas sua mãe não passava de uma “dondoca”. Jogava vôlei na praia com a Marieta Severo, conta o filho. Depois do assassinato, Eunice pôs-se a pedir informações, a procurar o corpo do marido. Envolveu-se com a causa indígena e, naturalmente, com a luta pela redemocratização.
Marcelo tirou desse relato a conclusão surpreendente. “Não foi meu pai quem lutou contra a ditadura”, disse ele.
Pelo menos a seus próprios olhos, os de um menino que estava com onze anos na época do desaparecimento do pai, quem lutara de fato tinha sido a sua mãe.
O que impressiona, no caso de Eunice ou de Renata, viúva de Eduardo Campos, é essa disposição para falar de alegria —ou, ao menos, para não chorar.
Talvez se tenha tornado mais comum entre as mulheres uma atitude que, em tempos antigos, correspondia apenas a outro sexo.
Refiro-me à ideia de “homem não chora”. Ao contrário, hoje cai bem certa sentimentalidade no sexo masculino. Cai melhor ainda, entretanto, a capacidade de uma mulher para o enfrentamento e a resistência.
O clichê da “viúva inconsolável” vai sendo esquecido. Que o diga, aliás, a própria Marina Silva. Tomou para si o legado e as lutas de Chico Mendes, líder ambientalista assassinado em 1988; agora, sem ser exatamente uma “viúva” política de Eduardo Campos, vem a substituí-lo com a própria força renovada pelo imprevisto histórico.
Cabe falar ainda de outra mulher, a própria Dilma Rousseff. Goste-se ou não de seu governo e de sua pessoa, uma circunstância merece ser colocada, no meu modo de ver, acima de qualquer outra.
Refiro-me ao fato, que por diversos motivos não se explora nem se menciona suficientemente no confronto político, de ela ter sido torturada durante o regime militar. Sempre penso que, se isso tivesse acontecido comigo, eu seria incapaz de superar a experiência.
Eis que vemos Dilma priorizar, contudo, sua estratégia política, e os projetos de seu partido, sem tomar em termos pessoais o entusiasmo com que muitos de seus aliados (especialmente o ministro Edison Lobão) defenderam o que havia de pior na ditadura.
Força pessoal das mulheres, sem dúvida; força da política, também. Não conhecemos melhor forma de superar uma perda do que pensar no futuro, tentando submetê-lo ao nosso poder. Candidatos, por definição, dedicam-se a coisas desse tipo.
Parabéns pelo texto.Coincidiu com a entrevista de Miriam Leitão ,que independente do que pensava ou pensa, merece todo nosso respeito e admiração por ,tendo passado o que passou , ter seguido em frente .Tomei conhecimento , agora , de um texto tosco , que acusando-a de gostar de um discurso de vítima, sugere que ela peça perdão ao país por suas idéias do passado.Quem deveria pedir perdão aos leitores é o autor da catilinária que, embriagado de ideologia e ignorando contextos históricos , escreve irremediavelmente mal.
Será marina silva herdeira de chico mendes. http://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/polemica-a-rede-de-marina-silva-e-o-ambientalismo-de-mercado-3
Marina Silva na “aba do chapéu” de Chico Mendes até que fica bem, pela luta de ambos pelo ambientalismo. Pior, mas muito pior mesmo, foi a carona oportunista e vergonhosa de Galisteu na escuderia de Senna…
Se não houver da oposição no segundo turno uma união, e se Marina mantiver o radicalismo, teremos de aturar o sapo barbudo daqui a quatro anos,
Madame Fru Fru
O direito ao luto. Penso que não há como não sucumbir diante de uma tragédia. Especialmente quando ela recai sobre a sua família. No caso da família Campos, espanta-me o autocontrole de todos, sobretudo dos filhos jovens e adolescente que no sepultamento do pai agiram como se estivessem em um comício, exibindo camisetas com palavras de ordem! É assepsia demais para a espécie humana, ou talvez interesses outros estejam em jogo…
maria josé duarte
Jackie Kennedy também manteve as aparências de “mulher forte” quando do assassinato do marido, em 63…Mas na verdade chorar publicamente em momento difícil não desmerece a ninguém. Inclusive a nós, homens…
E, nos dias de hoje os terapeutas de plantão seguram a barra de muitas mulheres que se mostram “fortes” ao mundo. Mas, dentrodos consultórios, só Deus sabe……
Há pouco tempo atrás, conhecida atriz de TV perdeu um filho barbaramente atropelado no RJ e continuou “sorridente” trabalhando nos palcos da vida, certamente amparada por um bom terapeuta, que ninguém é de ferro…
Parabéns pelo texto. Quem sabe podemos aproveitar e também refletir sobre: #NaoVamosDesistirdoBrasil
Abs
Excelente e lindo texto! Parabéns.
MARCELO DE VOLTA E COM MAIS UM BELO TEXTO.