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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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O dedo no nariz

Por Folha
21/08/13 03:01

Nas “Confissões de um Poeta”, Ledo Ivo relembra um dia de grande chuvarada, na praça da Matriz de não sei que cidade brasileira. Da igreja saía um grupo de seminaristas em excursão.

O aguaceiro veio de repente, e todos correram para se proteger. Todos, menos o superior da diocese. “Corre, corre, dom Fulano!”, gritavam os seminaristas. Mas o prelado prosseguia no mesmo passo.

“Bispo não corre”, sentenciou dentro da batina ensopada, pisando nas poças com seus sapatos pretos.

Os tempos mudaram, como atesta um vídeo que circulou na internet, com o papa Francisco. Cometi a imprudência de compartilhá-lo no Facebook.

Choveram protestos, até dos leitores mais fiéis. Do que se tratava? A meu ver, nada de mais.

Sentado no banco traseiro de um carro prateado, com câmeras e repórteres querendo entrar pela janela, Francisco fazia uma discreta higiene no nariz.

O polegar, dentro da narina, descreveu uma rápida meia-lua. Algo foi retirado de lá. Depois de uma breve pausa, o papa…

Sim, o papa comeu a melequinha! Compartilhei a notícia sem comentário. Meu objetivo não era tripudiar a imagem do pontífice. O vídeo certamente era invasivo. Mas achei bom, achei normal, gostei, sorri.

Há coisas muito piores a fazer do que ingerir esse tipo de matéria. Fiz isso uma vez, quando criança, e não estava sozinho na ocasião.

Lembro-me bem. Estava na casa de uma tia, muito católica por sinal, e que tinha problemas de surdez. Talvez por isso, ela ficava às vezes ausente da cena, sem prestar atenção em nada.
Dizia mesmo que, quando a conversa ficava chata, ela desligava o aparelho.

Sei que ela estava sentada à minha frente, com os seus olhos puros e verdes fixados em mim. Foi como se me hipnotizasse. Pus o dedo no nariz, e naquela única vez, experimentei o gosto —salgado, seco, sem nojo— do que retirara lá de dentro.

Com uma risada de surpresa, ela saiu de seu transe —e eu também. Como fui capaz da proeza? Eu sabia que não era algo que se faz em público.

Pode ser que eu precisasse certificar-me de que ela estava ali. Pode ser, também, que eu precisasse certificar-me da minha própria existência. Tínhamos sido colhidos, quem sabe, numa espécie de vazio temporal.

Um buraco negro, vá lá, em que a nossa própria existência, e a consciência de estar nela, desapareceram silenciosamente. Não era eu, não era ela; a impropriedade —das mais leves, afinal— se cometera sem sujeito.

De resto, todo mundo põe o dedo no nariz. Tive o prazer de fazer essa revelação, já adulto, a um menino a quem repreendiam a constância nessa atividade.

Só não sei por que tantas pessoas fazem isso dentro do carro. Basta olhar para os lados quando o sinal está vermelho. Alguns cantam. Outros põem o dedo no nariz. Sabemos (me incluo nessa) que qualquer um pode nos surpreender nessa inocente intimidade.

Estar dentro do carro, mesmo com o vidro aberto, aparentemente nos torna imunes à crítica. O carro é o meu castelo. O teto de lata é, ainda assim, um teto. De lá, posso xingar qualquer pedestre. Por que não o dedo no nariz?

Os jogadores de futebol (mas não os de basquete ou de vôlei) fazem pior em campo; o uso de cotonetes em público, embora não corriqueiro, conhece menor reprovação.

Escarradeiras eram comuns nos tempos de Machado de Assis; até recentemente, a cera do ouvido podia ser retirada com a unha do mindinho, desde que a fizessem crescer, “à catita”: esse o termo.

O “processo civilizador”, para lembrar o conhecido livro de Norbert Elias, impõe crescentes disciplinas sobre as atividades corporais. Está provavelmente errado quem pensa que a Idade Média era uma época de puritanismo; em Chaucer, Boccaccio ou Dante fala-se mais da “questão do corpo” do que em qualquer catálogo de arte contemporânea.

Mais do que deseja a austeridade protestante, a cultura católica palpita de corpo em toda parte. Os quadros dos santos explodem de chagas e de sangue. Sempre achei estranho, aliás, o guardanapo que o padre usa na missa depois de tomar o vinho. No cristianismo, de resto, Deus se fez de carne, carne que come peixe e pão, carne que atravessaram pregos.

A imprensa cerca o papa. Ele põe o dedo no nariz. Há muita simbologia nisso. Quem quiser que atire a primeira pedra.

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Chicanas!

Por Marcelo Coelho
16/08/13 10:34

Terminou pessimamente, nesta quinta-feira, o que poderia ser uma sessão sem maiores problemas no STF. Discutia-se, com alto grau de concordância, mais uma série de “embargos declaratórios” apresentados pelos réus do mensalão.
Em tese, esses pedidos serviriam para eliminar omissões ou obscuridades na decisão já tomada pelo tribunal. No fundo, em sua maioria, terminam sendo atos de “mera irresignação”, como disse Joaquim Barbosa.
Funcionaram como pretexto, por exemplo, para que Roberto Jefferson solicitasse “perdão judicial” pelos crimes que cometeu. Afinal, não foi por seu intermédio que todo o escândalo veio à tona? Segundo a defesa, esse ponto não foi discutido pelos ministros… Omissão, portanto, no acórdão que o condenou.
Mas o ponto tinha sido discutido, e o plenário não aceitou o argumento.
Jefferson foi além, apontando também “omissão” do STF ao não incluir o ex-presidente Lula no julgamento. Mas isso, como todos sabem, não foi responsabilidade do STF, e sim da acusação. O Ministério Público não viu provas contra Lula; nada havia a embargar, ou recorrer, nesta altura do julgamento. “Mera irresignação” de Jefferson.
Outras irresignações, também sem maior efeito prático, vieram do novo ministro Luís Roberto Barroso. Ele estranhou, por exemplo, que uma simples funcionária de Marcos Valério, Simone Vasconcelos, tivesse recebido pena tão alta –12 anos e 9 meses de reclusão.
Mas, como o próprio Barroso reconheceu, não era o momento de rediscutir decisões já tomadas pelo tribunal.
Ou era? Tudo ficou de pernas para o ar quando se examinou o caso do Bispo Rodrigues. O vice-presidente do PL foi condenado por corrupção, do mesmo modo que seu líder, Valdemar da Costa Neto.
A defesa de Rodrigues estranhou, contudo, a pena aplicada. No caso de Costa Neto, ficaram valendo critérios mais brandos. Por que?
Ocorre que, enquanto as atividades dos mensaleiros corriam a pleno vapor, foi aprovada uma lei prevendo penas mais pesadas para o crime de corrupção. Se alguém cometeu o crime antes dessa mudança, recebe punição mais leve.
Foi o caso de Costa Neto, que participou de um acordo entre o PL e o PT, no qual se acertaram “vantagens indevidas”, antes da alteração da lei. Note-se que, para ser corrupto, não é preciso receber o dinheiro. O mero ato de solicitá-lo já caracteriza o crime.
Rodrigues não participou dessas negociações. Mas recebeu propina. Mais tarde. Num momento em que já valia a nova lei. Sua corrupção, portanto, foi punida com mais rigor.
Tudo isso já tinha sido decidido em plenário. Mas Ricardo Lewandowski, ontem, voltou a ter dúvidas. Se Costa Neto, ao receber dinheiro, estava apenas vivenciando a consequência prática de um crime cometido antes (que foi o de pedir dinheiro), por que Rodrigues, ao receber dinheiro do mesmo acordo, é punido como se o crime tivesse sido cometido depois?
Claramente, Lewandowski estava se confundindo. Eram dois réus, com atos diferentes, embora o nome e a causa dos atos sejam iguais. Um solicitou dinheiro na data x, e foi condenado por corrupção. Outro recebeu dinheiro na data y, e é condenado (com mais severidade) por corrupção também.
Não adiantou que Luiz Fux, Gilmar Mendes e Celso de Mello esclarecessem o ponto. Lewandowski continuava “irresignado”.
Chicanas! A palavra infamante foi proferida por Joaquim Barbosa. Lewandowski ficou apoplético. Exigiu que o presidente do STF retirasse o que disse. Barbosa não retirou. Retiraram-se todos, logo depois, quando a sessão foi encerrada, em clima consternador.

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De volta ao mensalão

Por Marcelo Coelho
15/08/13 10:39

Ladeira acima

Os advogados, como é seu dever, sempre tentam de tudo. Mas seria difícil obter alguma vitória ontem, dia que marcou a retomada do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Estavam em pauta os chamados “embargos de declaração”, isto é, os pedidos da defesa para que se corrijam omissões, ambiguidades ou algum ponto contraditório nas decisões já tomadas pelo tribunal.

Fervilharam recursos deste tipo, muitas vezes de teor idêntico, na imaginação dos advogados. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, começou agrupando-os em cinco questões principais. Nenhuma convincente, diga-se.

Reclamou-se, por exemplo, que parte das falas dos ministros não foi transcrita para o papel impresso. Sem saber oficialmente o que cada um disse, argumentaram os advogados, diminui o direito de defesa dos réus.

Mas os cortes na transcrição dos votos e apartes foram feitos pelos próprios ministros. Provavelmente, quiseram eliminar repetições ou frases mais confusas, “passando a limpo” seus pronunciamentos.

Seria razoável exigir que cada palavra, mesmo redundante, fosse incluída no texto final? Os ministros não são donos do próprio voto?

Não são, disse Marco Aurélio Mello, adotando (como é de seu costume) uma linha de raciocínio minoritária nesse assunto. Não concebo, afirmou, que algum integrante da corte tivesse lançado “algo supérfluo” aos microfones do plenário.

Coube ao mais prolixo orador da corte, Celso de Mello, refutar o argumento. Quando o voto de um juiz acompanha a maioria, nem mesmo precisa ser transcrito, disse ele. Não haverá nulidade nenhuma no procedimento; os motivos de seu voto foram dados “per relationem”, e ponto final.

Outros temas invocados pela defesa não se enquadravam na figura dos “embargos de declaração”. Mais uma vez, levantou-se a tese de que só deputados federais poderiam ser julgados no Supremo. O processo dos demais réus do mensalão teria de voltar à primeira instância, ainda mais porque o caso de um deles, o doleiro Carlos Alberto Quaglia, foi efetivamente desmembrado dos demais.

Não haveria contradição nisso? Por que Marcos Valério e Kátia Rabello, por exemplo, seriam julgados pelo STF e Quaglia não? Mas a questão já tinha sido decidida. No caso do doleiro, ocorrera um erro burocrático, impedindo-o de se defender plenamente. Não haveria por que aplicar aos demais réus o que se decidira nessa situação particular.

Estreando no julgamento do mensalão, Luís Roberto Barroso acrescentou novos raciocínios técnicos em defesa de Quaglia, levando o tribunal a absolvê-lo de vez, pelo menos num dos crimes de que era acusado: o da formação de quadrilha.

Não é possível deduzir daí que Barroso esteja disposto a virar a balança em favor de todos os réus do julgamento. Ele abriu sua participação com um discurso bastante genérico, hábil o suficiente para não adiantar o conteúdo de seus próximos votos.

Apontou as falhas do sistema político em geral –inautenticidade dos partidos, financiamentos escusos, maiorias parlamentares compostas no varejo das emendas orçamentárias. Fez um apelo à autocrítica de todos os cidadãos –por exemplo, aqueles que levam o cachorro para fazer suas necessidades na areia da praia.

Não deixou de dizer, num elogio aos advogados do caso, que fizeram tudo o que o direito permite, ainda que…

Ainda que tenham tido de trabalhar “ladeira acima”, afirmou, sem ajuda “dos fatos”. O mensalão não foi o maior escândalo da história do país, acrescentou, mas foi “o mais investigado”. Não parece que Barroso esteja disposto a cobrir de areia, em todo caso, tudo o que veio a ser exposto no processo.

Erramos: De volta ao mensalão

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Os fascistas 'do bem'

Por Folha
14/08/13 03:00

O vídeo circulou na internet. Dois jovens toparam com o pastor Feliciano num avião e resolveram se manifestar. Enquanto o deputado, famoso pelas opiniões homofóbicas, mexia no computador com aparente concentração, eles se levantaram, cantando “Robocop Gay”, antigo sucesso dos Mamonas Assassinas.

 
Estavam achando tanta graça na coisa que nem conseguiam cantar direito. Pediram aos demais passageiros que aderissem ao coro, sem muito sucesso. Ouve-se, no máximo, uma voz feminina fora do alcance da câmera.

 
Atrás de Feliciano, um homem sentado começou a se incomodar e pediu aos dois rapazes que ficassem quietos. Foi rapidamente hostilizado também: “Você é o guarda-costas dele?”.

 
O deputado, que já disse inconveniências sobre afrodescendentes e defende que psicólogos possam anunciar tratamento para a homossexualidade, mantinha-se impávido. A dupla não sabia bem o que fazer; recuar ou avançar?

 
Um deles avançou. Estendeu o braço, no que pode ser interpretado como uma tentativa de fazer carinho na cabeça do pastor.

 
Depois, eles desistem. O vídeo continua com uma entrevista de outra passageira, que cita Freud e critica, de modo razoável, a repressão sexual.

 
Pelo que diz minha sensibilidade para o assunto, os dois manifestantes não tinham jeito de gays. Talvez, se tivessem, eu não estaria escrevendo este artigo. Não sei.

 
Tinham, isso sim, as características claras do jovem fascista urbano brasileiro. A voz desarticulada, o espírito do oba-oba cervejeiro, o celular na mão e a ideia pronta na cabeça.

 
Não preciso dizer que tenho máxima antipatia por Feliciano e seus congêneres. O deputado ganhou a loteria ao se tornar presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. É exemplo do tipo de acordo surrealista que se faz para garantir a base parlamentar de apoio para o governo Dilma —e provavelmente qualquer outro que apareça no futuro.

 
Representa, com ridículo e insistência, a espécie de dinossauros de gomalina que prosperam na política brasileira. Será um fascista? Depende da definição.

 
Atrasado não é sinônimo de fascista, ignorante também não. Preconceituoso, conservador, racista, homofóbico —é possível ser tudo isso sem ser fascista.

 
Na minha definição, pelo menos, para ser fascista é preciso algo além disso. Cito alguns ingredientes.

 
Em primeiro lugar, a nostalgia da horda primitiva. O fascista está feliz em grupo; só age quando sente que a maioria está a seu favor. Ou melhor, age quando se sente protegido pela aprovação da maioria.

 
Fosse apenas isso, qualquer multidão seria fascista, o que não é verdade. Nem mesmo o uso da violência pode ser identificado ao fascismo. Revoltas podem ser violentas sem ser fascistas, o que não significa que eu aprove a violência.

 
Imagine-se, por exemplo, duas torcidas de futebol enlouquecidas. Entram em confronto. Dos dois lados, há selvageria, fanatismo, estupidez. O fascismo, a meu ver, aparece em outra ocasião.

 
Suponha a torcida de um time que acabou de ganhar o campeonato. Encontra, no meio da festa, uns quatro ou cinco adeptos do time derrotado. Não contente com a vitória, a torcida vencedora resolve hostilizar os perdedores. Hostiliza, xinga, cai de pancada em cima dos coitados —para lhes “dar uma lição”.

 
Isso, para mim, é puro fascismo, e não depende de nenhuma orientação ideológica. Trata-se de oprimir, em grupo, o derrotado, o minoritário, o sem defesa.

 
Os dois marmanjos do avião escarneceram de Feliciano porque se julgavam, com razão, em maioria naquele ambiente mais ou menos civilizado, onde haverá poucos homofóbicos militantes.

 
Há 30 ou 40 anos, é possível que fizessem o mesmo se algum transexual estivesse a bordo. Qual o propósito de hostilizar Feliciano? Puni-lo por ser quem ele é? Em nome de que minorias você se levanta da cadeira do avião e puxa um coro para avacalhar quem quer que seja?

 
Gostei de ver as faixas contra Feliciano nas manifestações de junho. Gostei das manifestações, também.

 
Mas o fascismo, por vezes, esteve por perto. Não porque —como dizem— muitos manifestantes “negavam os partidos políticos”. Uma tradição pacífica do anarquismo sempre desconfiou dos partidos, e não tem a ver com fascismo.

 
Foi fascista, entretanto, quem se juntou para quase linchar o PM Wanderlei Paulo Vignoli, na manifestação de 11 de junho. Por sorte, não eram tantos assim. Também por sorte, Vignoli não era nenhum Robocop.

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Filmes: "Hannah Arendt"

Por Marcelo Coelho
04/08/13 12:46

“Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, é um bom filme para quem quiser se familiarizar com a grande polêmica filosófica e moral criada por “Eichmann em Jerusalém”. Acompanhamos a viagem de Hannah Arendt a Israel, onde o criminoso nazista foi julgado em 1961. O filme alterna cenas reais do julgamento –closes na figura rígida, mas não monstruosa, do acusado— com a encenação das reações do público, por vezes dividido entre o horror das lembranças da Shoah e a raiva diante de alguns líderes judeus que teriam “colaborado” com as autoridades nazistas.
É em torno desse problema que a atitude de Hannah Arendt causou ondas de indignação, mesmo entre alguns de seus melhores amigos, como Hans Jonas e Kurt Blumenfeld. A solidão teimosa da filósofa ganha muito vigor no ponto alto do filme, quando se encena uma palestra de Arendt num auditório abarrotado, respondendo com altivez, lógica e grandeza às críticas que seu livro suscitou.
Dito isso, o filme de Margarethe von Trotta está longe de ser vivo e convincente. Parece feito para televisão; todos os atores parecem estar usando roupas um modelo acima de seu corpo, muito normaizinhos e sem vida para o tipo de personalidades que estavam em confronto na história real. Saem-se melhor os atores puramente caricaturais, como a grã-fina dona do “New Yorker”, desde o começo um bocado refratária à ideia de contratar uma filósofa para cobrir o julgamento de Eichmann nas páginas da revista. Ou então o antipático Norman Podhoretz, um dos principais acusadores intelectuais no debate contra Arendt.
Em seu livro “Ex-Friends”, Podhoretz tem um texto admirável sobre seu desentendimento com Arendt. Narra sua visita ao apartamento da amiga, e o medo que tinha ao ver seu texto de críticas a “Eichmann em Jerusalém” anotado minuciosamente nas margens. Conforme a tarde avançava, a discussão ia se tornando mais dura, e nenhum dos dois se animou a acender a luz no apartamento. Na escuridão, os dois se despediram para sempre.
O debate sobre a suposta responsabilidade de líderes judeus na ajuda e na organização do Holocausto não pode ser mais difícil e doloroso. No discurso brilhante de Hannah Arendt, a plateia não reage ao que provavelmente é o ponto mais frágil de sua argumentação. “Havia um espaço”, diz ela entre baforadas de cigarro, “entre atos de resistência que seriam impossíveis no momento, e a atitude de ajudar os nazistas.” Havia? Como, quando, para quem, com quem? Seria preciso dar detalhes; e, mesmo assim, talvez exista algo de desumano em acusar tais pessoas, quando se estava a milhares de quilômetros dos fatos, em segurança, nos Estados Unidos. Se a acusação viesse de alguém que estava sob o domínio nazista naquele momento, e tivesse feito algo de diferente, seria bem mais difícil responder.
Esse e outros problemas –como o da “normalidade” psicológica do carrasco, que deu origem à expressão “banalidade do mal”—são de qualquer modo expostos com clareza no filme de von Trotta. Pena que o filme seja tão rotineiro; cria uma banalidade de Hannah Arendt, certamente inadequada à personagem que o inspirou.

 

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O vício da notícia

Por Folha
10/07/13 03:34

Talvez seja culpa de seu ótimo desempenho num antigo filme de Woody Allen, “A Rosa Púrpura do Cairo”. O fato é que, por mim, Jeff Daniels terá sempre o papel do perfeito panaca americano –passivo, grandalhão, branquelo e balofo.

Ele surge desse jeito nas cenas iniciais do seriado “Newsroom” –meu mais recente vício televisivo. Jeff Daniels é o âncora Will McAvoy, astro de um noticiário das dez que não fede nem cheira.

McAvoy está participando de um debate numa universidade americana. Enquanto ele fica quieto, olhando de um lado para o outro, a discussão pega fogo.

Contrapõem-se os lados clássicos da luta ideológica norte-americana: uma direita fundamentalista, triunfante e raivosa, contra um centro-esquerda democrata acuado e sem originalidade.

O encontro já está chegando ao fim quando o nosso picolé de chuchu, por razões que só serão explicadas mais tarde, tem uma iluminação e se engaja num discurso
memorável.

Fatos e mais fatos, números e mais números são expostos com uma lógica impiedosa, provando por A mais B que os Estados Unidos não são nada dessa maravilha que os americanos dizem ser.

Como acontecerá em muitos outros momentos do seriado, o acúmulo de evidências empíricas se acompanha de um crescendo emocional, e a música, de um modo que não poderia ser mais americano, conquista a adesão até mesmo do espectador mais cético.

Confiaremos plenamente em Will McAvoy a partir de agora, e ele próprio renasce como jornalista. Seu noticiário conhecerá uma reviravolta fabulosa, graças à aparição de uma nova produtora, vivida pela britânica Emily Mortimer.

Nada mais de engolir explicações oficiais furadas. Nada mais de fofocas idiotas. Nada mais de ouvir as mentiras conservadoras em silêncio. McAvoy ganha o poder de jogar sobre a mesa, como um cadáver na sala do júri, os fatos decisivos, que deixam os assessores e os políticos sem resposta.

Para qualquer pessoa interessada em notícias, o seriado é irresistível. Sua segunda temporada estreia no Brasil dia 15 de julho, pela HBO; o pacote com os DVDs da primeira temporada já está nas lojas.

Como em toda minissérie que se preza, as personagens ficam mais complexas a cada capítulo. A aparência de bonachão escondia, no caso de Jeff Daniels, um tipo dos mais antipáticos, incapaz até de saber o nome próprio dos subordinados.

Logo veremos que o mau humor do âncora tem origem numa grave decepção sentimental. Mas não! Havia outras causas… E espere, sua violência contra os entrevistados está saindo fora do controle. Mas o que é isso? O sujeito tem um coração de ouro.

Viciei-me na novela, como se vê. Multiplique esses quiproquós psicológicos pelos vários personagens da equipe que produz o noticiário. São, aliás, tipos deliciosos para quem conhece um pouco da vida interna do jornalismo.

Há a loirinha absolutamente atrapalhada, pronta a cometer prodígios de ignorância Ðsó que, apesar da aparente burrice, ela tem o jornalismo no sangue. Há a acadêmica de óculos, gostosíssima, fluente em dez línguas Ðmas totalmente surda para as regras mais elementares da profissão. Naturalmente, muita tensão sexual se concentra naquele convívio em ambiente fechado.

Cada encontro entre os personagens ganha as faíscas rapidíssimas dos diálogos de Aaron Sorkin (autor de “West Wing”).

Apesar da suposta neutralidade de McAvoy no debate do primeiro capítulo, sua atuação é dura no combate ao conservadorismo americano. “Ah, como seria possível isso numa grande emissora privada de TV hoje em dia?”

Pois é. O tapete do âncora e de sua equipe está sendo puxado o tempo inteiro. Mas o jogo da emissora exige inteligência de detetive para ser descoberto.

O melhor, entretanto, está naquilo que toda produção americana não se cansa de fazer. Jornalistas ou pistoleiros, astronautas ou detetives, os personagens são sempre excelentes em sua atividade, e podem gabar-se dos êxitos mais implausíveis.

A ideia de que se vive pela vocação, de que ou se é um profissional “outstanding” ou não se é nada, sobrevive a despeito de todas as falhas humanas de cada personagem. Que incluem, por exemplo, estar chapado de maconha no dia de uma revelação histórica.

Cada capítulo, aliás, aborda capítulos recentíssimos da política americana. Espero ardentemente pelos próximos.

Enquanto isso, fico de férias até dia 14 de agosto. Boas semanas.

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Gatsby, o retorno

Por Folha
03/07/13 01:36

Não se pode reconstruir o passado, diz Nick Carraway, o narrador de “O Grande Gatsby”, ao misterioso personagem cujo nome dá título ao romance de Scott Fitzgerald.

“Como assim? Claro que se pode!”, responde Gatsby. Do alto de uma imensa fortuna, adquirida não se sabe direito como, ele quer reconquistar o amor de sua juventude. Conhecera Daisy, uma moça aristocrática, quando ainda não tinha um tostão.

Daisy acabou se casando com um ricaço de família tradicional, que logo se revela adúltero, preconceituoso e violento. O casamento vai mal quando Gatsby reaparece, montado numa mansão espetacular, palco de uma sequência nauseante de festas —às quais Daisy não comparece.

Exposto assim, o tema principal de “O Grande Gatsby” poderia ser adaptado para uma telenovela de terceira. A arte de Scott Fitzgerald está em deixar todos os personagens, e suas motivações, envoltos numa atmosfera úmida, desentendida e reticente.

A publicidade antecipada em torno de “O Grande Gatsby”, filme de Baz Luhrmann com Leonardo Di Caprio, sem dúvida intensificou a má vontade de muita gente. Ainda mais porque estava na memória a versão anterior do livro, dirigida por Jack Clayton em 1974, com Robert Redford e Mia Farrow.

As cores esmaecidas e o charme lânguido do filme mais antigo terminaram produzindo a impressão de que se tratava de uma obra mais artística do que era realmente.

Como Jack Clayton nos empapava de estilo e figurino, e como tendemos a ser maus intérpretes dos códigos sociais do passado, aquele “Grande Gatsby” diminuía o contraste entre a aristocracia de Daisy e a ambição emergente de Gatsby.

No livro, este é desprezado, por exemplo, quando usa um terno cor-de-rosa: sinal de breguice irremediável para os outros personagens.

Só que Robert Redford, com o terno da cor que quisermos, será sempre um bacanão na mais alta película da nata social americana. A história real de seu fracasso amoroso ficava um bocado incompreensível, atrás de muitos véus de tule, no filme de Clayton.

“Não se pode reconstruir o passado.” “Claro que se pode!” A resposta de Gatsby poderia ser adotada pelo próprio Baz Luhrmann, que fez tudo para reconstruir, de um ponto de vista completamente subversivo —quase terrorista de tão subversivo— o filme de 40 anos atrás.

Quando uma pessoa tem dificuldade em entender alguma explicação mais trabalhosa, há quem goste de humilhá-la, perguntando: “Quer que eu desenhe?”. O novo “Gatsby” faz isso com o romance de Fitzgerald, explicitando a trama com recursos de professor de cursinho.

O estilo de Luhrmann flerta, aliás, com o desenho animado. Tudo começa quando reconhecemos, no papel de Nick Carraway, ninguém menos do que Tobey Maguire. “Onde é que eu vi mesmo esse carinha?”

Resposta: nos filmes do Homem-Aranha. Os recursos de 3D, fazendo mergulhos ridículos na selva de edifícios de Manhattan, confirmam a pretensão de transformar aquele evasivo clássico literário num “blockbuster” demencial.

A intenção caricatural, extremada, de Baz Luhrmann, surge assim como reação à finura da versão mais antiga.

As duas, talvez, se complementem. Com suas festas quase fellinianas, com a vulgaridade explícita da filmagem, com a inexcepcionalidade feminina de Carey Mulligan (no papel de Daisy), o filme de Baz Luhrmann adota, na verdade, o ponto de vista novo-rico, meio bandidão, do próprio Gatsby.

Com a vítrea Mia Farrow e um Robert Redford impecável, o filme de 1974 aristocratizava tudo. Diminuía os conflitos, eufemizava as diferenças sociais, musicalizava suavemente a tragédia.

Nenhuma das duas versões dá conta, a meu ver, do que mal e mal se sugere no livro. Para impressionar Nick Carraway, e convencê-lo de suas credenciais para a classe A, Gatsby o leva para almoçar num restaurante, apresentando-o a uma figura estranhíssima.

Meyer Wolfsheim logo se revela, no livro, uma espécie de gângster. É difícil entender por que razão Gatsby levaria Carraway para conhecer um tipo tão suspeito. Seria ingênuo, pensando que Carraway não perceberia a estirpe do interlocutor? Ou, ao contrário, estava tentando comprar a consciência de Carraway, abrindo-lhe as portas para adquirir uma fortuna ilícita também?

Seria difícil filmar de um modo que fizesse justiça às duas hipóteses ao mesmo tempo. Mas, se o livro exige mais de uma leitura, não é nada mau que o espectador possa agora contar com um filme tão diferente daquele, discreto e perfumado, que guardava nas suas memórias de 1974.

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As catracas da cultura

Por Marcelo Coelho
02/07/13 09:53

Duas coisas eu achei muito simpáticas no que disseram os representantes do Passe Livre, na sabatina de semana passada na Folha.
A primeira é a recusa do movimento aos carros de som nas manifestações. Os carros de som, para o movimento, são um mecanismo autoritário usado por lideranças que impõem suas palavras de ordem à massa. O MPL utiliza o sistema do jogral: o orador diz uma frase, essa frase é repetida pelos que estão à sua frente, escutando-o, e será novamente repetida até que todos os presentes a tenham ouvido. Caso a frase não tenha a concordância do público, não será repetida, morrendo “naturalmente”, quase que “darwinianamente”, se quisermos. É muito mais democrático.
Outra coisa bonita é a simbologia do movimento. “Um país sem catracas” significa bem mais do que a tarifa zero nos ônibus: é projetar um futuro de mobilidade social muito maior, sem preconceitos, sem barreiras de classe ou raça.
Nesse sentido, agora que os governantes tentam se ajustar a reivindicações de todo tipo, minha sugestão seria a de abolir algumas catracas na cultura.
Por que não introduzir a tarifa zero nos museus do governo estadual, por exemplo? Na Inglaterra, os museus públicos não cobram nada. National Gallery, Museu Britânico, é só entrar. Quanto será que o dinheiro dos ingressos contribui para a Pinacoteca, por exemplo? Muito mais do que os caraminguás dos visitantes, importa transmitir a sensação de que a cultura está aberta a todos, é patrimônio mas é também convite. E não me digam que não há mendigos ou bêbados em Londres.
Outra coisa que talvez seja possível. No meio de toda a discussão sobre meia entrada nos cinemas, não sei se não seria viável a proposta de extinguir-se a meia entrada nas sessões mais concorridas, e ao mesmo tempo introduzir sessões absolutamente grátis, abertas a todos, nas tardes dos dias de semana. Já fui a muita sessão onde não havia mais de seis ou sete pessoas. Deixa sem catraca de uma vez.

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Teoria da tarifa zero

Por Marcelo Coelho
29/06/13 16:59

Depois de assistir à entrevista de dois representantes do Movimento Passe Livre com jornalistas da Folha, fiquei pensando na reivindicação do direito ao transporte público de qualidade. Por certo, é um direito pelo qual vale a pena lutar, e o MPL se pergunta, com razão, por que não está inscrito no texto constitucional, sendo tão básico quando saúde, moradia, educação.
O problema que quero discutir é outro. Admitindo-se que seja mesmo um direito básico, fica a pergunta: num mundo ideal, deve mesmo o transporte público ser totalmente gratuito? Uma coisa não decorre, acho, da outra.
Veja-se o direito à saúde. Sendo um direito universal, dificilmente poderíamos cogitar de que não fosse, ao mesmo tempo, gratuito. Pois há tratamentos de saúde caríssimos, e ninguém pode saber se vai ou não, algum dia, precisar deles. Não há, no mundo real, escolha possível: não escolho doenças mais baratas ou mais caras, nem posso escolher não ficar doente. Se o direito tem de ser garantido para todos, é necessário, na prática, que seja gratuito o acesso aos serviços de saúde pública.
Com relação à educação, o preço de uma mensalidade escolar certamente também traz uma exigência de gratuidade para o que o direito seja garantido universalmente. Mas já não acho um fator tão forte quanto o que se verifica no caso da saúde. Muita gente já estudou ou não quer estudar mais: estará pagando impostos para que outros estudem, o que é justo, e estará se beneficiando de uma sociedade onde toda pessoa, se quiser, pode estudar de graça. Mas não é pessoalmente um beneficiário virtual do serviço de educação.

Todo mundo é virtualmente internável num hospital para tratamento cardiológico caríssimo. Nem todo mundo é virtualmente matriculável numa escola. Além disso, pode não ser desejável que alguém pague sua mensalidade de faculdade; pode ser desejável que todos os alunos, absolutamente todos, tenham acesso grátis à faculdade. Mas não é necessariamente injusto que alunos de famílias especialmente ricas tenham de pagar mensalidades na USP. Pode não ser desejável, mas não é injusto. Pode nem fazer muita diferença em termos orçamentários, mas não é injusto.

Passando ao transporte público. Uma coisa é lutar pelo transporte público de qualidade. Trata-se de algo, como disseram os representantes do MPL, que beneficia toda a sociedade, e não apenas os seus usuários. Mas não considero que esse raciocínio torne logicamente obrigatório que os serviços sejam absolutamente gratuitos –que a tarifa seja zero. Desde que o transporte público seja barato –e, em alguma medida, é–, esse direito está garantido. No caso da saúde isso não ocorre. Ademais, muita gente –que mora perto do emprego, que não se desloca, que é velho ou é criança—não é necessariamente usuário regular do transporte público. É justo que transfira renda para o usuário regular, por meio de impostos? Sim, se os seus impostos garantem mais obras de metrô, etc., que beneficiam toda a sociedade, mesmo quem não anda de metrô. Não sei se é justo quando os impostos financiam totalmente uma passagem que qualquer pessoa tem, por si mesma, condições de pagar.

Claro que, para manter a passagem barata, certa dose de subsídio estatal é necessária. O governo pode arcar com 30, 40, 60 por cento dos custos de uma passagem. Mas que cada usuário arque com 30, 40 ou 70 por cento dos recursos da sua própria passagem não é necessariamente injusto, se isso custar relativamente pouco. Mesmo custando pouco, o bolo total dos recursos auferidos faz diferença –o que não acontecia no caso de uma pequena porcentagem de estudantes da USP pagar pelos seus estudos.

A questão é eminentemente prática, de custos, de realidades diferentes (as necessidades de saúde, educação, transporte têm suas particularidades). Não é, a meu ver, uma questão de princípios. Defender o direito ao transporte não faz com que só seja justo um mundo de tarifa zero.

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Roda dos mortos-vivos, o retorno

Por Marcelo Coelho
28/06/13 20:00

É incrível como nos momentos de grande agitação social os horizontes do possível se alargam de repente. E todos os nossos desejos parecem mais próximos de realizar.
Num post anterior, reclamei da presença de José Serra no programa Roda Viva. E disse que, no meio da ebulição social presente, até mesmo uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso seria mais interessante.
Não é que o pessoal da TV Cultura atendeu aos meus desejos?
Na próxima segunda, Fernando Henrique é o entrevistado.
Depois de Serra, é a vez dele. Como ele próprio disse, política tem fila.
Bom, a justificativa é que ele foi eleito agora imortal da Academia Brasileira de Letras.
O Roda-Viva, que tinha ficado com cara de Roda dos Mortos-Vivos com Serra, agora é o Roda Imortal.
Na próxima passeata, já tenho pronto o meu cartaz.
“Quero Aécio no Roda-Viva”.
Aí, com certeza, as últimas dúvidas ficarão esclarecidas.

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