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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Teatro: Caleidoscópio

Por Marcelo Coelho
17/05/13 12:29

Grupos especializados em teatro de improviso, como o “Jogando no Quintal”, não têm como desagradar a plateia. A velocidade, a concentração, o virtuosismo dos atores produz espanto e risadas em todo mundo. Depois de assistir a uns três ou quatro espetáculos desse tipo, continuo gostando e recomendando, mas é natural que tudo fique um pouco repetitivo, como um show de mágica.
Com “Caleidoscópio”, em curta temporada no Tucarena, o grupo de Márcio Ballas dá um passo além da gincana, do estilo de competição em que se baseia o teatro de improviso. Em vez de números isolados, com desafios específicos (do gênero contar uma história em dois minutos, recontá-la de trás para diante, etc.), “Caleidoscópio” cria uma narrativa mais ou menos contínua, e tem a sutileza de não explicitar quais as regras que deverão ser obedecidas pelos atores.
Eles começam em círculo, contando episódios da vida pessoal, a que se alternam perguntas bastante surpreendentes (que acredito inventadas na hora) a respeito do que foi contado. Mas isso é só uma maneira de esquentar o espetáculo, por que aos poucos serão propostas perguntas à plateia. Do gênero: “você se lembra de alguma gafe que cometeu?” Ou “você guarda até hoje algum objeto que foi importante na sua infância?”
Sempre alguém do público se dispõe a responder. Aparentemente, nada é feito das respostas que se fizeram. Mas a improvisação dos atores já começou, e, como num jogo de roda, ou num caleidoscópio, elementos das narrativas apresentadas pelo público serão utilizados no espetáculo.
O resultado pode demorar para acontecer, com alguns momentos arrastados (coisa que a divisão em pequenos desafios, tipo gincana, evitava). Mas, sem deixar de ser engraçado, “Caleidoscópio” consegue algo mais difícil –é uma peça poética, delicada, sem agressões fáceis, ao mesmo tempo em que mostra o virtuosismo e humor dos atores. Formalmente, pelo menos, avança com ousadia para além dos limites do improviso que eu já tinha visto.

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Tarado é quem reprime

Por Folha
15/05/13 03:00

Obeso, bundudo, de terno e colete, um senhor de certa idade dá ordens peremptórias ao garçom. “Menino! Aqui. Mais gelo! Mais ge-lo!”

A palavra se repete sempre em maior volume, crescendo em precisão, em clareza, em especificidade. “Ge-lo! GE-LÔ!”

Trata-se do Doutor Camarinha, o ginecologista alcoólatra de “O Casamento”, adaptação teatral do romance de Nelson Rodrigues em cartaz no Tuca.

Difícil dar ideia por escrito da variedade de sugestões que, na voz do ator Élcio Nogueira Seixas, transparecem nesse simples pedido por mais gelo.

Há, naturalmente, a bebedeira do doutor. Tudo é motivo de comemoração, e ele quer mais gelo como alguém poderia querer mais de tudo —mais música, mais mulheres, mais barulho.

Ao mesmo tempo, sente o prazer do mando, da ordem, da dominação. Repete a palavra “gelo” como se o garçom fosse incapaz de entendê-la. Ou quem sabe porque há muito ruído no salão de festas.

Por ser alcoólatra, talvez o Doutor Camarinha quisesse frisar que está pedindo apenas gelo, e não mais uma dose da bebida. Ou o contrário: tudo não passa de um código entre ele e o garçom, que sabe perfeitamente como encher o copo.

Tudo isso seria o bastante se o universo de Nelson Rodrigues fosse puramente realista. Mas sabemos, como diz o anúncio para desligar os celulares no início da peça, que na imaginação de Nelson Rodrigues “tudo pode acontecer”.

O Doutor Camarinha pede gelo de um modo diferente. Ele tem aquele tipo de exigência obsessiva, de fixação no detalhe, de relação com o objeto, que é típica do perverso, do fetichista sexual.

Ele diz “gelo, ge-lo, GE-LO” como alguém poderia dizer “velas!” ou “chicotes!”. É implicante, detalhista, cri-cri, absurdo, no que tange a seu pedido.

Esse ambiente de perversão generalizada, de sexualização do que não é sexualizável, marca sem dúvida toda a obra de Nelson Rodrigues. O outro burguês da peça, vivido memoravelmente por Renato Borghi, é o doutor Sabino Uchoa Maranhão (“nome límpido e nostálgico de defunto”, segundo o próprio).

O doutor Sabino implica com a secretária, que disca o telefone antigo com a ponta do lápis.
“Por que não usa o dedo? O dedo, doutora Noêmia”, e ele mostra o dedo, “o dedo!” Ele grita. “O dedo serve para discar!”

E o verbo “discar”, ainda mais quando usado no infinitivo, ganha obscuras conotações. Roland Barthes dizia que os atos da perversão sempre se declinam de forma intransitiva.
“Você escreve?” —a pergunta já é suspeita, reflete Barthes. Do mesmo modo, uma das mocinhas da peça pergunta à amiga: “E com ele, você fez? Fez tudo?”.

Tudo, e mais do que tudo, de fato acontece nessa peça; é o que se espera de Nelson Rodrigues: incesto, assassinato, estupro, arremessando cada personagem contra o outro na satisfação mais bestial e triste dos instintos. O ato sexual, desculpa-se um padre, “o ato sexual é só uma mijada”.

Mais pecaminoso, evidentemente, é ter esse pensamento.

Esses pais de família, essas mocinhas casadoiras, não se revelam apenas quando se entregam ao desejo.

O que “O Casamento” ajuda a entender é precisamente o contrário. A repressão aos instintos sexuais é tão pornográfica, tão bestial, tão sombria quanto o ato de libertá-los.

Quando o Doutor Camarinha pede gelo ao garçom, ou faz um discurso contra o homossexualismo (“nem os ratos escapam dessa desgraça!”), ele está tomado por instintos tão irracionais e grotescos quanto os que julga ver nas pessoas que critica.

Situada, como não podia deixar de ser, no Rio de Janeiro dos anos 1950, a encenação de “O Casamento” traz muitos toques estilísticos, no figurino por exemplo, da década de 1970.

Engano pensar, contudo, que aquele mundo repressivo desapareceu junto com as lambretas, a revista “Manchete” e o iê-iê-iê. Basta ver o pastor Feliciano e seus adeptos.

O chefe de igreja pentecostalista que se esfrega em cédulas de dinheiro, o padre pedófilo, o evangélico que abusa de meninos estão todos os dias nos jornais. São perfeitos personagens de Nelson Rodrigues.

“Uma bichinha”, diz Renato Borghi já no fim da peça, “não pode desprezar cinco milhões de patacas!”. Era um ato de desapego ao dinheiro incompatível com seu comportamento sexual. Deve ser por isso que tantos líderes evangélicos são contra os gays.
Pensando bem, o melhor que posso esperar desses deputados é que sejam completos corruptos. A corrupção não é de todo ruim; suponho que seja a melhor arma contra o fanatismo.

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Livros: Rubem Braga em Paris

Por Marcelo Coelho
14/05/13 16:19

Tinha tudo para dar certo: o maior cronista brasileiro, Rubem Braga, escrevendo perfis de personalidades como Picasso, Cocteau, Sartre e Duke Ellington. Escritos entre 1950 e 1952, para o “Correio da Manhã” e para a “Folha da Tarde”, estes “Retratos Parisienses” constituem apesar disso uma decepção.
Pesa em quase todas as páginas a melancolia, ou melhor, o desinteresse melancólico do autor. A mesma característica de personalidade que fazia Rubem Braga tirar maravilhas de um evento sem importância acaba operando, aqui, uma mágica em sentido oposto. As personalidades mais interesses da época aparecem reduzidas a sua dimensão mais corriqueira e banal.
“Picasso evita indagar minha opinião política: não tenho interesse em dizer-lhe e também não quero fazê-lo falar sobre política. Na verdade, estou fazendo uma visita à toa, e não quero nada (…) Há brinquedos de criança pelo chão, e na paisagem do morro há pinheiros, palmeiras, hortas e pomares, cactos no jardim do lado da casa, um tufo de hortênsias floridas do outro lado, uma cigarra que canta em algum canto, uma galinha que cacareja em algum quintal perto.”
As opiniões políticas de Picasso eram totalmente previsíveis naquela época, em que ele desenhava pombas para a campanha soviética “em prol da paz”. Mesmo assim, Rubem Braga sempre há de preferir ouvir as cigarras do que Picasso. Afasta-se do pintor para ficar brincando com a filha pequena, “Colomba”. Não será Paloma?
Falta cuidado nas notas e na revisão, que deixa passar, por exemplo, a seguinte pergunta de Rubem Braga (a respeito de uma exposição de Frans Post): “Por que nos comove tanto esse pedaço da rue Vermeer?”
A menos que exista alguma “rue Vermeer” em Paris, ele se refere a um pedaço de rua num quadro de Vermeer.
Rubem Braga se interessa mais por Sartre, em cuja aparência atarracada identifica mais o camponês alsaciano do que o filósofo então na moda. A aparência de Juliette Gréco naturalmente o deixa mais animado –mas é bem simpático ver de que modo Braga destacou as qualidades e os interesses intelectuais da bela cantora existencialista.
Talvez, no caso de Picasso, Braque, Cocteau, a culpa não seja apenas do desinteresse do cronista; eles já haviam se transformado em monstros sagrados, longe do debate estético mais encarniçado daqueles anos. Nesse sentido, é notável o encontro de Rubem Braga com André Breton, dirigindo ainda, trinta anos depois da “revolução surrealista”, um grupo de seguidores que o jornalista compara, com tristeza, aos maçons e aos positivistas que sobreviviam no Rio de meados do século 20.
Também o tédio parece surgir como reação à condescendência com que Braga julga estar sendo recebido. Um jornalista brasileiro? Ah sim, como não. Amigo de Cícero Dias. Certo, sente-se. O Brasil é muito interessante. Em silêncio, Braga parece responder: “e você não.”

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
13/05/13 18:12

Novos comentários do cronista.

A CAPA CONFUNDE

Orgias. Abusos. Sem-vergonhice.
O pastor Silênio estava preocupado.
Ele consultava a Bíblia.
–Onde será que erramos?
As notícias, entretanto, não eram favoráveis.
–Quem diria, o pastor Mikelson…
Silênio escrevia uma nota explicando o comportamento do colega.
–Exceção é com s?
Largou a Bíblia e foi procurar o dicionário.
Encontrou o caderninho dos telefones.
–Tudo capa preta…a gente confunde.
Veio a inspiração.
–Vou ligar para o padre Pelozzi.
O experiente clérigo católico talvez pudesse sugerir uma estratégia.
Pelozzi deu uma gostosa e compreensiva risada.
–Io non disse? Quando se é padre, miglior ficare soltero. Dá menos confuzó.
Religiões são como números de celular.
Mudam bastante. Mas as pessoas são sempre as mesmas.

BOTINHAS BRANCAS

Emoção. Carinho. Fofura.
Dia das Mães. Hora de recordar o passado.
A apresentadora Xuxa reúne suas antigas paquitas.
Era grande a raiva de Bibiane.
–Não me convidaram?
O marido se chamava Valtinho.
–Ué. Nunca soube que você foi paquita.
Ela fez cara feia.
–Você nunca se lembra de nada, Valtinho.
–Se eu soubesse…
–Que diferença ia fazer? Hein?
Não ia bem o relacionamento.
–Aqueles vestidinhos… aquelas botinhas.
A chama do amor ameaçava reacender.
–Prova. Prova que você foi paquita.
As fotos estavam no closet.
De uma caixa de papelão, saiu outra coisa.
A foto de Valtinho com os Menudos. Botinha branca e macacãozinho azul.
–Ai, lindinho… vem cá.
A noite foi para maiores de 18 anos.
O verdadeiro amor, sem dúvida, jamais envelhece.

COPO DE CÓLERA

Fraude. Ganância. Adulteração.
Estão pondo formol no leite das crianças brasileiras.
Evanda não continha a indignação.
–Absurdo. Até no leite.
A substância é nociva para a saúde a longo prazo.
–Ouviu isso, Salém?
O marido não respondia. Largado no sofá.
–Vai demorar o dia em que esse aí se preocupa com o leite.
Evanda pôs o rádio no máximo volume.
–Quando falsificarem a cerveja…
O copo escorregava das mãos do sexagenário.
–Ele nem vai perceber.
Evanda foi varrer o chão.
–Vai, Salém. Afasta o pé.
A indiferença e a falta de comunicação eram a norma daquele lar.
–Desço a vassoura esse cretino.
Teria sido inútil. O marido estava morto desde o meio-dia.
Alguns casamentos são como o leite.
Quando não azedam, é que encheram de formol.

INGRESSO REDUZIDO

Drama. Comédia. Aventura.
O cinema é, ainda, a maior diversão.
Ronaldo era um bem-sucedido consultor financeiro.
Sua estagiária tinha olhos verdes e cabelos tipo samambaia.
–Ísis… que tal um cineminha?
–Nooossa… Ronaaaaldo… tava pensando nissoôô…
Na hora de entrar no cinema, veio o problema.
–Xi, Ronaldo. Não trouxe a carteirinha.
Ele tinha comprado duas meias.
O problema do ingresso reduzido causa polêmica no país.
O homem da catraca se chamava Agostinho.
–Não. A ordem aqui é que a gente só aceita com carteirinha.
Ronaldo criou caso. Ísis desconfiou.
–Será que é mão de vaca?
No escurinho da sala, o beijo morno.
No motel, a disfunção erétil.
O amor é como o cinema.
Para passar pela catraca, é necessário exibir o documento.

A TELA NÃO É TUDO

TVs. Geladeiras. DVDs.
Os eletrodomésticos tornam a vida melhor.
Eduarda chamou as amigas.
–Para estrear meu home theater.
Tela gigante. Alta definição.
Filmes europeus preenchiam a solidão do apartamento.
–Uns petiscos… um cinzano…
As amigas chegaram animadas.
–Hum. O que vai ser hoje?
Eduarda mostrou o filme pirata.
–Gladiadores de Tibério.
Produção italiana de alto conteúdo erótico.
Na hora de ligar o DVD, uma faísca. Imagens escuras tomaram conta da tela.
–Cinquenta tons de cinza. É isso?
O técnico Felício apareceu no dia seguinte.
O cinzano foi oferecido com biscoitinhos.
Eduarda curte bastante o físico atlético do rapaz.
–Alta definição. E nem precisa de óculos 3 D.
Quando a tecnologia falha, a natureza dá o seu recado.

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Teatro: Vilcabamba

Por Marcelo Coelho
11/05/13 18:43

Com um ator e uma atriz se revezando em 13 papéis, com 40 trocas de figurino (não contei, mas o anúncio diz), a comédia “Vilcabamba” está em cartaz num teatro novinho e simpático na rua Apinajés.
Roberto Camargo, conhecido por sua participação na “Terça Insana”, é um detetive atrapalhado que irá resolver, ou não, o mistério da morte de velhinhos na pequena cidade equatoriana que dá nome ao espetáculo.
No papel de um barman fanho, de uma inocente garota judia à procura de sua irmã gêmea, e de uma super-heroína bombeira, está Alexandra Golnik, também responsável pelo texto e pela direção, ao lado de Carla Candiotto.
As duas formam a Cia. Le Plat du Jour, muito premiada por seus espetáculos infantis. Talvez seja esse o principal problema dessa montagem para adultos.
Investe-se num tipo de humor muito infantilizado e circense, com bordões, por exemplo, cuja repetição deveria arrancar risadas da plateia sempre que aparecem –mas não arrancam.
Assim, cada vez que, numa espécie de metalinguagem bem no nível “Turma da Mônica”, fala-se do patrocinador da peça, os dois atores interrompem tudo para saudá-lo com gestos de adoração religiosa. A boa vontade que temos para rir da primeira vez desaparece nas seguintes.
A maluquice da história não seria em si um defeito, claro, mas termina irritando: a menininha judia só é judia para que se possam fazer piadinhas sobre shabat ou coisa parecida. Quando a piada é sem graça, só a maluquice permanece.
Uma boa comédia, acho, mistura o absurdo com uma lógica implacável. O absurdo, em “Vilcabamba”, origina-se de uma mentalidade muito infantil, e a lógica simplesmente não existe –deixando o preciso mecanismo das trocas de papéis girando em falso, numa trabalheira danada.

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Mais sobre o aborto

Por Marcelo Coelho
09/05/13 19:22

Um adendo ao que escrevi sobre aborto na quarta-feira (ver post abaixo). O poema de Claudel se refere, de forma evidentemente mística, a um amor que existe por mim mesmo antes de eu ter nascido.
É preciso ter muita fé para acreditar nessa ideia, coisa que não tenho.
No fundo, acho que essa fé provém de uma cultura que não é mais a da modernidade. Trata-se de pensar mais ou menos o seguinte.
Somos criaturas de Deus. O mundo é coisa criada. Cada ser, vivo ou não, foi produzido por uma vontade, por um criador, por um Sujeito. Somos o Predicado, ele é o Sujeito.
A modernidade trouxe o que já se chamou de uma “revolução copernicana” a esse modo de pensar. Acreditava-se que o Sol girava em torno da Terra; graças a Copérnico, e depois a Galileu, demonstrou-se o contrário.
O humanismo faz do homem não mais o predicado, mas o sujeito de seu destino. Naturalmente, a religião cristã aceita o livre-arbítrio, mas isto não elimina a concepção de que o homem está dentro de uma ordem divina, à qual o certo é se submeter.
Eliminar o embrião, que veríamos como um direito da mulher, seria desse modo mais do que uma agressão ao direito à vida “do” embrião. Seria atuar contra um ato de amor de Deus, que tem “o” embrião, ou seja o que for que exista até “antes” dele, como seu objeto.
Imagine-se (isto é, eu, um moderno, imagino) a seguinte situação. Uma mulher grávida adormece e um médico psicopata injeta nela uma substância abortiva. Ela perde o bebê.
Para mim, essa é uma agressão inominável contra o direito que aquela mulher tinha de dar à luz a um filho. A pessoa atingida foi a mãe.
De uma maneira muito radical (uma vez que o aborto em caso de ameaça à saúde da mãe nem sempre é admitido, acho, pelos religiosos), o militante fervoroso anti-aborto acha que o maior agredido, no caso, foi o embrião. A mulher não perdeu a vida. O embrião sim.
Não consigo me convencer dessa visão.

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Mistérios do aborto

Por Folha
08/05/13 03:00

Fico um pouco incomodado quando os defensores do aborto dizem que o tema deve ser analisado “como questão de saúde pública”.

Claro que é questão de saúde pública. Mas dizer isso só faz sentido quando todas as outras questões já foram resolvidas. Para quem considera o aborto um atentado à vida humana, ou seja, como algo próximo do assassinato, não adianta nada falar em saúde pública.

Se a polícia fizesse uma “blitz” nas clínicas clandestinas, e prendesse todos os “fazedores de anjinhos”, também a famosa questão da “saúde pública” estaria resolvida em grande parte.

Além disso, o objetivo dos antiabortistas é convencer as gestantes de que elas não devem cometer um ato, em última análise, criminoso. Estariam livres, ademais, dos graves riscos que esse ato implica.

Falar em termos de “saúde pública” equivaleria, nessa mentalidade, a se preocupar com o mau funcionamento das armas de fogo. Podem explodir nas mãos do assassino. Cumpriria às autoridades zelar para que não ocorra esse tipo de acidente.

Claro que nenhum antiabortista leva seu raciocínio a esse extremo. Mas não tenho dúvidas de que recebe mais ou menos assim o tal discurso da “saúde pública”. Para ele, o problema da saúde pública está eliminado por princípio, uma vez que a ninguém é permitido abortar.

No fundo, a tese da “saúde pública” é uma contorção lógica, uma daquelas maneiras típicas de colocar o carro na frente dos bois. Os marqueteiros políticos são excelentes nesse gênero de eufemismos.

Provavelmente, a ideia só ganhou o destaque que possui hoje em dia porque se tornou, nos debates, a resposta padrão dos candidatos que são a favor do aborto.

Do lado oposto, achei interessante um artigo recente de dom Odilo Scherer no “Estado de S. Paulo”. Sua intenção, em si louvável, foi retirar da discussão qualquer aparência dogmática e religiosa.

Pelo que entendi do que escreveu o arcebispo de São Paulo, a questão independe da crença que se tenha na Bíblia ou na existência da alma. Diz respeito aos direitos humanos.

O direito à vida, inscrito na Constituição, teria de ser especialmente respeitado nesse caso —uma vez que a vítima do aborto é a mais indefesa das vítimas.

Nada melhor, do meu ponto de vista, do que eliminar da discussão o seu aspecto religioso. Mas criticar o aborto em termos de “direitos humanos” me convence.

O embrião é sem dúvida uma vida humana. Mas não consigo me convencer de que seja uma pessoa. Pode alguém ser uma pessoa antes de nascer? Pode alguém ser “alguém” antes de nascer? Seus direitos nascem antes do nascimento? Como posso dizer que sejam “seus”?

A questão é totalmente subjetiva. Envolve um “reconhecimento” de pessoa para pessoa. Não consigo “reconhecer” no embrião uma pessoa como eu. No feto, provavelmente sim, e me chocaria ver aqueles filmes em que um ser vivo com dedinhos e pezinhos se debate para não ser abortado.

A tese dos “direitos humanos” tende a um impasse quase “materialista” —termina nas profundidades do microscópio. Não vejo como prosseguir a partir daí. Mas andei lendo algo que oferece uma saída —das mais religiosas— para quem quiser criticar o aborto.

Numa antologia de poesia cristã francesa recentemente publicada, “O Rumor dos Cortejos” (Editora Fap-Unifesp), traduzem-se versos de uma das “Cinco Grandes Odes” de Paul Claudel (1868-1955).

Ele escreve sobre o mistério da graça cristã. “Tu me chamas a Musa e meu outro nome é a Graça, a graça que se traz ao condenado”, dizem os versos.

“Não há mais que este amor que existe entre mim e ti”, continua Claudel. “Não me escolheste, fui eu que te escolhi antes que nasceras. Entre todos os seres que vivem sou a palavra de graça endereçada apenas a ti (…) Eis que fui a teu encontro como a misericórdia que abraça a justiça (…) Não busques confundir-me. Não tentes dar-me o meu em teu lugar. Pois é a ti que peço.”

Ou seja, a graça, a salvação da alma, consiste num ato divino de amor a mim que precede o meu próprio nascimento. Naturalmente, a dificuldade de acreditar numa coisa dessas é proporcional à beleza de toda a concepção.

Antes de nascer, eu não era nada. “Era sim”, responde a Graça. Não é um raciocínio que me convença a ser contra o aborto. Mas, pelo menos, me faz entender porque a religião é tão importante para quem discute do tema.

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"Rain Man" no teatro

Por Marcelo Coelho
03/05/13 19:28

Talvez por sorte, nunca tinha assistido a “Rain Man”, o filme com Dustin Hoffman e Tom Cruise. Fui ver sua adaptação teatral praticamente sem saber do que se tratava –só que havia um autista e seu irmão na história.
A peça, traduzida e adaptada por Miguel Paiva, funciona otimamente. Rafael Infante, no papel de um sujeito egoísta e enrolador, convence com um sotaque carioca carregado, mas que não projeta necessariamente nenhum estereótipo nacional ou regional. Sabe despertar ao mesmo tempo a simpatia e a antipatia do público, sem deixar de conceder a Marcelo Serrado, que faz o seu irmão autista (e herdeiro da fortuna do pai), a primazia do espetáculo.
Aproveita-se qualquer oportunidade para fazer o público rir –até o advogado e testamenteiro do pai, que traz a Rafael Infante a má notícia de que foi deserdado, rende a Jaime Lebovich bons momentos cômicos.
Não se descaracteriza a história com isso: quando a peça chegar ao final, há o bastante para comover o espectador. Ninguém se cura do autismo, imagino, nem da falta de caráter –mas, na medida do possível, o coração humano é também um músculo que melhora depois de um pouco de exercício. Relaxa, em vez de endurecer, e essa transformação, encenada de forma sóbria, aparece de modo muito bonito na peça.
A cenografia deixa um bocado a desejar. Não haveria outra solução para evitar que os atores tenham de ficar empurrando o tempo todo uns caixotes com rodinhas? Esses caixotes foram imaginados para significar mudanças de lugar na história: um escritório (o caixote é escrivaninha) vira quarto de hotel (o caixote é a cama), e lá vão Rafael Infante e Marcelo Serrado de um lugar para outro. Como a peça é bastante realista, não há motivo para essa “quebra de ilusão”, feita ao que tudo indica apenas por razões de economia.
Do mesmo modo, para indicar a passagem de tempo entre uma cena e outra, obrigam Fernanda Paes Leme a trocar de roupa de quinze em quinze minutos, numa espécie de desfile de modas que mais distrai do que chama a atenção.

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
02/05/13 16:02

Novos comentários do cronista.

NÃO ESQUECE O ROLEX

Luxo. Riqueza. Viagens internacionais.
Maristelly achava muito certo.
–É direito meu.
No restaurante francês La Chochotte, a conta veio salgada.
Maristelly se levantou com indignação.
–Como assim? Pagar? Eu?
O dono do restaurante se chamava Pierre.
–Madáám… qual o prrobléme.
–Não sabe quem eu sou?
Os colares de Maristelly se agitavam como chocalhos.
–Sou amante do cara. Não lê jornal?
Pierre puxou pela memória.
–O prresidént… parréss que tínie uma secrretárrie.
Maristelly deu um sorriso.
–Então? Vai cobrar?
Pierre calculava o prejuízo quando foi interrompido.
Era o bando do Escúbi. Atuando nos Jardins.
Pierre ajudou no arrastão.
–O relój… nón esquéss o relój dessa sinhórra.
O crime, por vezes, é como a lei.
Vale para todo mundo.
PORTAS ABERTAS

Fé. Religião. Moralidade.
O pastor Oselias tinha convicções claras.
–Casamento gay? Coisa de Satanás.
No templo, ele dava seu recado.
–Exorcismo toda quarta. Horário comercial.
Fechou os olhos.
–Que o demônio se afaste.
Ao final do culto, uma visita.
Era a Polícia Federal.
O investigador Carlos Hélio mostrou no laptop as filmagens comprometedoras.
Oselias aparecia enfiando dólares na própria sunga.
–Gente, que loucuraaah.
Era uma dança erótica numa boate masculina.
Dinheiro proveniente das contribuições do Vadão.
Poderoso chefe do tráfico na zona Norte.
Oselias explica tudo.
–Foi possessão. Satanás entrou dentro de mim. Mas passou. Pode confiar.
O capeta, por vezes, é como a Polícia Federal.
Faz suas visitas quando menos se espera.

A LÍNGUA DE FORA

Medo. Violência. Terror.
Uma bomba na maratona de Boston.
Irineu conferia as fotos dos suspeitos.
–Impressionante. O fanatismo.
A filha dele tinha quinze anos e se chamava Larisse.
–Humm… achei esse aí um gatinho.
Os terroristas, por vezes, têm aparência normal.
–Será que ainda dá para ser amiga dele no face?
Redes sociais conectam jovens de todo o mundo.
Irineu ficou irritado.
–Um assassino. É isso o que ele era.
–Deixa eu entrar com a minha senha, pápi.
Os dedos da bela adolescente saltavam sobre o teclado.
–Dá licença, pai? Quero privacidade.
–Ah. Você teclando com terroristas e tudo bem?
O tapão explodiu no rosto de Irineu.
Ele não reagiu.
A adolescência é uma difícil maratona.
Ou algo explode ou todos ficam de língua de fora.

ENTRANDO NA DISPUTA

Beleza. Esporte. Sensualidade.
Está de volta o concurso da internet.
Belas da Torcida.
Mulheres de todos os times disputam um título com T maiúsculo.
Josielly era palmeirense.
–Que você acha, Róbson?
O namorado não gostava da ideia.
–Você pelada na internet? Para corinthiano ver?
Ela provava a miniblusa do time.
–Não vou ficar pelada. Só tiro a parte de baixo.
–Ah. A entrada do vestiário.
–A camiseta combina com meus olhos.
–O pessoal vai olhar é a qualidade do gramado.
Josielly perdeu a paciência.
–Sua mente, Robson, é mais suja que a de qualquer corinthiano.
O sorriso do rapaz trouxe a conciliação.
–Nóis não é porco?
Depois do amor, Josielly desistiu do concurso.
Todos gostam de gol. Mas por vezes o melhor é a bola na trave.

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Perigo ao volante

Por Folha
01/05/13 03:00

O país, como se sabe, vai evoluindo aos poucos. Tempos atrás, uma das grandes reclamações de todo motorista era as Kombis.

Costumavam entalar-se no trânsito, nunca sabiam o próprio destino, e deviam trazer algum entrave na visibilidade do para-brisa –de modo que resfolegavam meio às cegas por ruas sempre erradas.

Pois bem, as Kombis desapareceram da cidade. Pertencem ao passado; foram igualmente esquecidos outros vilões do trânsito de 1970: as mulheres e os homens de chapéu.

As mulheres deixaram de ser minoria, tornando impossível a identificação de incompetências específicas. Quanto aos homens de chapéu, emblema de quem já está numa idade mais avançada, pode-se dizer que continuam por aí.

São os últimos que ainda reclamam das mulheres no trânsito, aliás. Trata-se de rivalidade antiga.

Mas nós, os sem-chapéu, temos outros motivos de inquietação. Não digo os motoqueiros, que a esses nos acostumamos, e bem ou mal buzinam quando passam.

Os alcoolizados estão provisoriamente sob controle. Não se pode dizer o mesmo de quem guia falando ao celular.

Com dez cervejas na cabeça, o motorista pode até estar pacificado, entregue à letargia do momento. Geralmente age em horários determinados, nos quais é de todo modo imprudente sair de casa, com bêbados ou sem eles.

Pelo menos o motorista alcoolizado usa as duas mãos. Não é assim com o usuário do celular. Usa só uma, ou então prende o aparelho entre o ombro e o pescoço, o que muda o eixo de sua orientação dentro do carro e fora dele.

Seja como for, ele está falando e ouvindo, ao contrário de quem bebeu, que fica em silêncio. Já falou e ouviu o bastante por aquela noite.

O homem do celular (há mais homens do que mulheres usando celular? Acho que sim) fala, mas não tem certeza de estar sendo ouvido. Está em relação com o seu aparelho, não com o interlocutor.

Deduzo uma regra sobre isso. Podemos nos relacionar com um ser humano e uma máquina ao mesmo tempo  –tanto que conversamos bem com o passageiro enquanto estamos ao volante. Mas não com dois aparelhos ao mesmo tempo. Juntos, o carro e o celular são demais para o cérebro normal.

É assim que vemos um Audi com muitos cavalos de potência deslocando-se na transversal entre várias faixas da avenida, como se fosse um carrinho de pipoqueiro. De repente, ele arranca: acordaram-no, caiu a ligação.

O carro então emborca para a direita –é que o motorista largou essa mão do volante para teclar novamente o número perdido. Consegue a linha; corrige em seguida a própria rota, girando à esquerda. Talvez pratique iatismo nas horas vagas.

Não sabemos nada a seu respeito, claro, pois ele está protegido pelo insulfilme. Assim, não apenas ouve mal e fala com dificuldade, como também enxerga pouca coisa.

O homem do celular era minha maior angústia até pouco tempo atrás. Surgiu outra, contudo, até pior. Refiro-me aos ciclistas.

Dez da noite, numa avenida movimentada, três deles tangenciaram a direita do meu carro; eu, barbeiro confesso, tentava ir pela faixa da direita para dar passagem a um ônibus que, saindo do túnel à esquerda, logo teria de cruzar várias faixas para entrar, por sua vez, na faixa da direita reservada à sua circulação. Enfim, é complicado.

Os três que eu quase abalroei tinham muita pressa, e medo também. Precisavam juntar-se ao grupo, de mais de 50, que fazia seu passeio noturno.

Passeio? Ao contrário dos motoqueiros, é verdade que o ciclista não está ali a trabalho. Está fazendo loucuras por um motivo nobre. Ele se manifesta politicamente. Afirma que você, o motorista, é um imoral, um cretino, um reacionário, um destruidor do planeta.

O fato de ele ter razão não aumenta, naturalmente, minha simpatia pela causa. Não gostaria, entretanto, de atropelá-lo. Sinto quase como se ele me forçasse a isso.

O motoqueiro, ao menos, faz barulho. O ciclista é insidioso, frágil, secreto. Conspira contra o carro: confia no poder das massas –às dezenas, e logo às centenas, conquista a faixa do ônibus, entre os quais se esconde, e conquistará as outras.

Não sei andar de bicicleta. Mas já me vejo tendo de aderir ao movimento. O motorista nada pode –moralmente, tecnicamente, geracionalmente– contra os jovens da bicicleta. São rápidos demais, ousados demais, não ligam para ninguém –até porque nem usam celular.

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