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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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A Igreja pode tudo!

Por Marcelo Coelho
30/04/13 17:13

No debate de que participei em Curitiba (ver post abaixo), insisti na ideia de que Bento 16, ao mesmo tempo em que foi muito humano e inteligente ao tratar das dúvidas que podem passar pela cabeça de todo mundo, ateu ou não, foi também excessivamente conservador em questões sexuais.
Não é obrigatório que um papa seja assim. Um papa pode tratar de milhares de assuntos. Pode esquecer-se de outros. Não se faz campanha contra o divórcio com a mesma intensidade, hoje em dia, da campanha contra a camisinha.
Papas mudaram a doutrina da Igreja ao longo do tempo. Antes, a própria forma do governo republicano era considerada errada pelo Vaticano.
Recentemente, debati o assunto com um professor da PUC, que afirmou o seguinte. Há coisas que podem ser mudadas, porque não fazem parte do que a Igreja considera “verdades reveladas”. O casamento dos padres, por exemplo, vigorou durante séculos. Outras coisas, como a condenação ao aborto, não mudarão nunca, porque pertencem à ordem da revelação divina.
Perguntei ao teólogo onde encontrar as verdades reveladas. Na Bíblia? Só no Novo Testamento? Se nos fixássemos em tudo o que a Bíblia diz, não seria fundamentalismo? De fato, respondeu o teólogo, a Revelação não é só o que está escrito na Bíblia. As interpretações, os escritos dos papas etc., podem também ser incluídos.
Tudo depende, portanto, do que se considera “revelação”. Nesse ponto, Francisco Catão disse coisas muito interessantes no encontro que tive em Curitiba. O texto escrito da Bíblia é palavra “congelada”, fixa, disse ele. E a palavra de Cristo é viva.
Catão citou um documento, segundo ele pouco estudado, no qual se listam (e o texto bíblico vem em último lugar) as fontes da revelação.
Em primeiro lugar, antes de qualquer dogma ou pensamento teológico, existe uma revelação especial: o próprio Jesus. É em Jesus que se revela a palavra divina. O resto –evangelhos inclusive—são manifestações, reflexos, dessa revelação real e carnal.
O que concluir disto?
Que “a Igreja pode tudo!!” Foi o que exclamou Francisco Catão. Mais não quis dizer. Mas entendia-se o sentido de sua mensagem.
Acima das considerações culturais e históricas, que por exemplo abominam (ou não) a tortura e a pena de morte, o divórcio ou o casamento gay, existe a mensagem viva de Cristo. O que Cristo diria, hoje, na cultura atual, a um casal gay? Amem-se? Ou nunca mais se vejam e penitenciem-se? Teríamos um Cristo militando contra o amor, porque é entre pessoas do mesmo sexo?
Conclusões minhas, não do teólogo Catão. Ele disse apenas “a Igreja pode tudo”. E acrescentou comum latinzinho. “Intelligenti pauca”. Poucas palavras bastam a quem ouve com inteligência.
A questão é, naturalmente, saber quem tem “poder” para dizer o que Cristo faria hoje, na cultura atual. Não estaríamos tornando arbitrário demais o julgamento da Igreja? Bem ou mal, o que prevalece hoje em dia é uma “jurisprudência” teológica acumulada. Para usar termos weberianos, é uma burocracia altamente racionalizada, sem carisma. O resultado é que os tempos avançam e o papa continua correndo atrás do prejuízo.

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Sombras da teologia

Por Marcelo Coelho
30/04/13 17:11

Francisco Catão é teólogo, e foi frade dominicano até 1968. Já o ouvi falar uma ou duas vezes. Aos 86 anos, é de um vigor intelectual e de uma capacidade expositiva incomparáveis. Poucas vezes assisti a alguém falar com tanta clareza, com tanta eloquência, com tanto domínio verbal.
É um verdadeiro espetáculo. Os problemas mais obscuros, ou pelo menos totalmente desconhecidos para quem não é do ramo, ganham uma vida extraordinária –determinada opinião de São Boaventura ou de São Gregório Nazanzieno, sei lá de quantos séculos atrás, é apresentada como se fosse o mais emocionante filme-catástrofe. Ou filme-salvação, se é que existe o gênero.
Semana passada, na PUC de Curitiba, pude participar de um colóquio, com Francisco Catão e na mesma mesa, sobre “O Legado de Bento 16”. Não acrescentei muito ao que já andei escrevendo na Folha, e citei novamente a frase do papa ao visitar Auschwitz –“onde estava Deus naquela hora?”
Catão falou de outros assuntos, destacando a modernidade de Bento 16 em termos teológicos. Mas no final me perguntou se eu conhecia a resposta de Santo Anselmo à pergunta. Eu não fazia ideia.
Onde está Deus numa hora dessas? “Está sacrificando o próprio filho”, disse Santo Anselmo.
Teologia não é brincadeira.

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Um peso nos ombros

Por Folha
24/04/13 03:00

Quando a casa dela pegou fogo, na década de 1970, o desespero foi grande na família. O marido chorava, tirando a água e a espuma do extintor, tentando salvar os últimos bens. Ela preferiu encontrar as amigas para jogar buraco.

Quando o irmão dela morreu, em Nova York, ela tampouco se importou muito. Ir ao enterro? Para quê? Ele já morreu mesmo…

Depressão, melancolia, são coisas que ela desconhece. “Para estar triste é preciso ter algum motivo.” Raiva, menos ainda. Aos 85 anos, aparentando muito menos, Lili
Jaffe não tem raiva de ninguém.

Não tem raiva nem mesmo dos nazistas, que a mantiveram por cerca de um ano no campo de extermínio de Auschwitz. “Não gosto de ter raiva”, diz ela.

Lili Jaffe também diz não ter sentido medo quando estava nas mãos dos nazistas. O famigerado dr. Mengele foi examiná-la certa vez. Ela tinha acabado de passar por um castigo que ferira seriamente os seus joelhos.

“Mengele era muito detalhista. Eu estava nua, mas fiquei carregando minhas roupas sobre os joelhos, para que ele não visse. Eu tinha uma aparência boa e, por sorte, ele não viu meus joelhos e deixou passar”.

Qualquer incapacidade para o trabalho, naturalmente, significaria a câmara de gás. Lili Jaffe sobreviveu até 1945, quando foi salva pela Cruz Vermelha e levada à Suécia. Tinha 19 anos.

Sua filha, Noemi Jaffe, publicou agora pela editora 34 “O Que os Cegos Estão Sonhando?”.

O livro reúne o diário que sua mãe escreveu quando estava na Suécia e vários fragmentos e comentários da própria Noemi, interpretando a experiência das vítimas do nazismo e dos seus descendentes. Dando um passo a mais na genealogia, Leda Cartum, filha de Noemi e neta de Lili, escreve o posfácio.

É muito difícil, como se sabe, dar forma literária a uma coisa tão traumática como o extermínio dos judeus nos campos nazistas. Mais difícil ainda, apesar de tudo o que já se escreveu sobre o tema, é entender como aquilo pôde acontecer.

Com muita arte, Noemi Jaffe abordou o assunto de forma indireta —procurando entender não o nazismo, mas o modo de ser de sua própria mãe. Para tornar tudo ainda mais indireto e menos sentimental, adotou a terceira pessoa para falar de si mesma e de suas relações com Lili.

Como vítima do nazismo, Lili recebe uma pequena indenização mensal do governo alemão.

“Sua filha”, escreve Noemi, “sempre se perguntou se era legítima a aceitação desse dinheiro. Não funcionaria como uma tentativa, por parte dos alemães, de eximir-se de uma culpa impagável? Por outro lado, não se trataria de uma forma minimamente aceitável de pagar pelo que se fez?”

A mãe, entretanto, não se questiona. “Filhos de sobreviventes”, analisa Noemi, “são muito mais afeitos a conflitos morais que os próprios sobreviventes.” Quem passou pela tragédia, diz a autora citando José Miguel Wisnik, não faz dramas.

De toda a tragédia, Lili Jaffe concentrou suas lembranças num só acontecimento básico. Certo dia, por pensarem que ela tinha roubado um pedaço de manteiga, os nazistas mandaram que ela ficasse ajoelhada por muitas horas, carregando uma enorme pedra na cabeça.

Foi o que deixou seus joelhos feridos no momento do exame com Mengele. Mas a pedra, como na história de Chapeuzinho Vermelho, parece ter sido costurada na barriga do lobo, junto com a raiva, o medo, a incompreensão, as outras memórias do campo. A menina de 19 anos se salvou.

“Qual a moral da pedra?”, pergunta Noemi ao visitar, em pleno inverno, o lugar em que existiu Auschwitz. “Quem se compadece compreende a dor, e a dor não pode ser compreendida.” Não se pode sentir a mínima tentação de transformar Lili em heroína, continua Noemi; “ali, no campo, o sofrimento era comum e seu castigo foi até moderado”.

Esquecer, diz a autora em outro trecho, é “cair para fora: ‘ex cadere’”.  Equivale, assim, a escapar, a sair, a fugir. Mas é também um ato voluntário. “O que se esquece não é um volume oco, em oposição ao volume maciço das lembranças. O que se esquece pode ser uma massa totalmente preenchida, com imagens e palavras que não falam.”

Mudas, como pedras. Mas é possível escutá-las, ou ao menos tocá-las com os dedos, sentir seu peso, descobri-las sob a poeira, enxergá-las através da cegueira do passado. “O Que os Cegos Estão Sonhando?” faz isso, sem violência, como quem tira um peso dos próprios ombros.

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Americanos em 64

Por Marcelo Coelho
22/04/13 13:03

O mais interessante de “O Dia que Durou 21 Anos”
é a pesquisa feita junto a arquivos americanos, para mostrar a participação ativa dos governos Kennedy e Johnson na derrubada do governo João Goulart.
O documentário apresenta, por exemplo, um diálogo entre o presidente Johnson e seu secretário de Estado, Dean Rusk, a respeito do modo como deveria ser tratado o novo governo de Castelo Branco.
Uma das figuras principais do filme, o embaixador Lincoln Gordon, recomendava que o regime militar fosse saudado em termos calorosos. Dean Rusk, o secretário de Estado, preferiria uma fórmula protocolar, sem maiores comprometimentos. Vamos ser calorosos, decide Johnson.
Não podia ser diferente, dado o óbvio envolvimento dos Estados Unidos na conspiração. O documentário mostra, com maquetes e mapas, a operação “Brother Sam”, deslocando navios de guerra americanos no rumo do porto de Santos, às vésperas do golpe.
Era uma maneira de dizer que os Estados Unidos estavam dispostos à intervenção direta, caso Goulart insistisse em se manter no poder. Ele preferiu, para “evitar derramamento de sangue”, conforme sua correta avaliação, deixar o país.
O Brasil amargaria 21 anos de ditadura. O filme de Camilo Tavares entrevista autoridades de Washington, dois cientistas políticos também americanos, e quase não desgruda da figura sorridente de Lincoln Gordon.
Outro aspecto interessante do documentário –que valeria uma pesquisa à parte—foi entrevistar alguns dos seiscentos e tantos militares cassados pelo regime. Há depoimentos emocionantes de alguns oficiais que não se envolveram com a ditadura. O que pensavam, o que souberam depois, o que sofreram? Seria ótimo saber mais sobre eles, até para dissipar um pouco a identificação que ainda temos hoje em dia, totalmente automática, entre ser militar e ser de direita antidemocrática.
Dito isso, o documentário está longe de traçar um quadro satisfatório das tensões e dos dilemas do governo Jango. Sempre me pergunto como é que um presidente, com eleições marcadas para dali a um ano, consegue ver o seu próprio poder escoar-se das mãos.
Como pôde apostar numa aceleração das reformas sociais, quando as ameaças de golpe eram tão evidentes? Se achava que tinha o apoio da maioria da população, por que não resistiu? Como não via que os militares estavam prontos a derrubá-lo, com apoio da burguesia, da classe média, dos proprietários rurais e dos Estados Unidos? Um presidente mais hábil, mais forte, mais inteligente, teria conseguido segurar a onda? Não é justificar o golpe, claro, mas acho que a fraqueza de Jango ajudou no desencadeamento da tragédia.
Quem vê o filme pensa apenas que havia um presidente bem intencionado, que os americanos se encarregaram de derrubar. Sem apoio do Congresso, Jango quis fazer reformas contando apenas com a mobilização popular. Imaginou que os militares fossem aceitar de braços cruzados a movimentação nos escalões inferiores das Forças Armadas. Luis Carlos Prestes dizia, à época, que os comunistas ainda não estavam no governo, mas já estavam no poder. Em pleno sistema da guerra fria, isso era evidentemente brincar com fogo. A aventura custou caríssimo.

Dean Rusk e Lyndon Johnson -wikimedia

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O major Costinha

Por Marcelo Coelho
21/04/13 16:52

Por falar em crianças, acabo de ler Sob as ordens do major Costinha, de Jayme Loureiro, com ilustrações de Gene Johnson (editora ÔZé).
São historinhas da “vida animal”, como diz o autor. O personagem do título, por exemplo, é um galo que tiraniza o ambiente:
“Major Costinha não andava pelo jardim, e sim marchava. Major Costinha não cantava de madrugada, e sim tocava clarim. Major Costinha não cacarejava, e sim gritava ordens. Major Costinha não gostava de paz, e sim gostava de guerra.”
Pelas repetições, pelo humor, pelo fato de o protagonista ser um bicho, temos a certeza de que se trata de livro para crianças.
Será? Por mais que se aceite a presença da malignidade infantil, o texto transcende os limites do “indicado” para o público de cinco a sete anos. Os desfechos das histórias são desconcertantes, e por vezes cruéis. A ironia é mais cruel ainda. Depois de contar as aventuras de uma simpática formiguinha, o autor termina deste modo:
“…por um azar do destino, a formiga fica devendo o resto da história para os netinhos. Aliás, a história não tem resto. Quando ela acordou, já era tarde demais. Um sabiá a levava no bico para alimentar os filhotes. Parece um final muito triste para uma história que prometia tantas aventuras e alegrias. Mas basta imaginar a carinha de felicidade dos sabiazinhos quando viram chegar tão saborosa formiga que logo abriremos um gostoso sorriso.”
Jayme Loureiro tem uma tese sobre Machado de Assis, e suas histórias infantis parecem realizar essa improbabilidade: imagine-se o velho bruxo convidado a uma escolinha maternal, encarregado de divertir as crianças… mas incapaz de reprimir um senso de revolta e amargura diante do absurdo da vida.
Também a escrita, a sintaxe de Loureiro são altamente machadianas. Nasce na fazenda um passarinho com cara de porco, e um porco com cara de passarinho. Os bichos se reúnem para decidir o que fazer. Um galo vem dar a sua opinião.
“Com o peito estufado de sabedoria, o velho galo, mais uma vez, tomou a dianteira. E propôs, argumentando com extrema perspicácia, que se pedisse ajuda ao fazendeiro. Ora, um homem –e mais, um homem lido e viajado e que tinha visto tudo e mais um pouco na vida—não seria capaz de desvendar o enigma e solucionar a embaraçosa situação? A brilhante proposta foi saudada com esperança”.
Esse uso do discurso indireto livre –a voz do galo se sobrepondo à do narrador— e a interrupção depois de “ora, um homem” trazem clara a marca machadiana.
Outro conto, sobre um papagaio que faz declarações de amor no lugar do apaixonado, é praticamente “literatura adulta”. O que as crianças acharão disso? Fiquei assustado –ou melhor, admirado. É um livro para se ler com risos e calafrios, e para se colocar na estante entre os de La Fontaine e os de Machado de Assis.

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Cruelzinho e Malvadão

Por Marcelo Coelho
18/04/13 17:32

Que me desculpem a franqueza, mas que artigos horríveis andam escrevendo meus colegas de “Ilustrada”! O pior é que, no contato pessoal, Contardo Calligaris e Luiz Felipe Pondé são adoráveis. Tenho entretanto de buzinar mais uma vez quando leio as opiniões do Contardo sobre maioridade penal.
Não, sobre isso, como falei no post anterior, tenho muitas dúvidas. Não acho que aos 16 anos uma pessoa esteja fora dos limites da responsabilidade penal –e Contardo tem razão, se for para pensar em termos de “córtex cerebral” e maturidade, só aos 25 anos seria admissível sua plena culpabilização.
O que me choca no artigo de Contardo desta quinta-feira são suas opiniões sobre a infância. Ele “tende a pensar” que “as crianças são más (briguentas, possessivas, invejosas, mentirosas, ingratas etc.); às vezes, elas melhoram crescendo, ou seja, a cultura pode civilizá-las (ou piorá-las, claro).”
Ou seja, estamos todos presos ao mito da criança naturalmente boa. “Queremos que as crianças nos apareçam como querubins felizes como nós nunca fomos e como nunca seremos”.
Contardo navega pelas mesmas águas de Pondé, ao acreditar numa espécie de “maldade natural” do ser humano. A frase atribuída a Rousseau –o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe— torna-se responsável por todos os malefícios da tolerância contemporânea.
Nem Rousseau disse isso, nem é preciso concordar com o que ele não disse.
Parto simplesmente da hipótese mais razoável. Imaginemos que o ser humano, ao nascer, é apenas um animal. Naturalmente, tem instintos agressivos e egoísticos. Quer apenas o seu bem-estar. Não está pensando nem um segundo na felicidade do seu irmãozinho.
Acontece que o animal humano não sobrevive apenas de instintos agressivos e antipáticos. Se o bebê não se encarregasse (ou fosse encarregado geneticamente) de sorrir e bater palminhas, logo seus pais (igualmente canalhas) haveriam de querer esmagá-lo como ao mais repulsivo verme sanguessuga.
A capacidade de acariciar, de dar beijinhos e ser adorável (às vezes) é tão importante para a sobrevivência do pequeno animal quanto a de cuidar dos próprios interesses de forma desagradável.
Estará, em última análise, sempre sendo egoísta. Mas, em meio a outros egoístas, tem de dar a sua parte. Não morde apenas o primeiro que se aproxima do berço. Não é um gremlin.
Um dos primeiros gestos do recém-nascido, pelo menos do ponto de vista de quem é o pai da criança, é segurar com a mão (ia escrever mãozinha, mas isso seria muito sentimental) o dedo indicador do pai.
Impulso agressivo? Instinto consumista? Mera curiosidade? Vontade de se comunicar? Pedido de atenção? Ato de reconhecimento e carinho?
Ora bolas, tudo ao mesmo tempo. Prefiro chamar isso de ato humano.
Até cachorros são instintivamente carinhosos, do mesmo modo que são instintivamente agressivos. A sobrevivência depende das duas coisas. Talvez um réptil, que sai do ovo e já logo vai cuidar da própria vida, não precise desse aparato todo –dessa hipocrisia – dessa humanidade.
Acho evidente, para concluir, que bondade e maldade estão mais ou menos equilibradas em cada um de nós. E é evidente que quem vê mais bondade à sua volta retribui melhor –até para não ficar meio por fora— do que uma pessoa que foi sempre tratada cruelmente.
A moda, entretanto, é destacar a maldade humana nos artigos da “Folha”. Como não vejo maldade especial nas figuras amigas de Contardo e Pondé, imagino que alguma reação defensiva esteja em curso. Não querem ser piegas, não querem ser ingênuos, cansaram-se do “politicamente correto”. Mas investir na direção contrária não é garantia de sofisticação intelectual.

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No país das masmorras

Por Folha
17/04/13 03:00

“Ora, francamente”, escreveu Marcos Augusto Gonçalves, nesta segunda-feira, sobre o tema da maioridade penal.

Ele tem razão: passamos todos os dias por crianças miseráveis e adolescentes drogados nas ruas de São Paulo, e quando um deles se torna assassino, surge a proposta de mudar a idade mínima para a responsabilização criminal.

Marcos Augusto pede desculpas pelo clichê: a saída está na educação. Novamente concordo, e concordo também com a impaciência do articulista quanto ao problema da idade penal em si.

Dezesseis ou 18 anos? Leio diversos artigos a respeito, e há argumentos que simplesmente não fazem sentido para mim. Comento um pouco. Diz-se, por exemplo, que o assunto não pode ser debatido num clima emocional.

Discordo disso. É natural que, quando um problema chama a atenção, discutam-se as soluções possíveis. Todo país tem dezenas, centenas de problemas. Depois de um incêndio, discutem-se as falhas de fiscalização da prefeitura. Seria melhor que o incêndio não ocorresse. Mas teríamos de esperar um clima de menor comoção para tratar do assunto?

Quem reclama da discussão “emocional” sabe que, nesses momentos, o problema é outro.

A saber, o de que está em vantagem a tese do adversário.

Mas muitas teses simpáticas e liberais também entram em discussão em momentos de choque. Depois de acidentes em usinas nucleares, cresce o movimento pela energia alternativa. A tese do desarmamento, nos Estados Unidos, aproveita o mais recente massacre escolar.

O que haveria de errado nisso? De resto, todo mundo sabe que até determinada proposta se tornar lei, passa um tempo considerável. Confia pouco no “debate racional”, de todo modo, quem acha que só pode travá-lo num estado de indiferença generalizada.

De resto, pelo que li, o debate tem sido rico e detalhado. Há argumentos e mais argumentos contra a diminuição do limite penal, e eu mesmo já mudei de ideia umas três vezes.

Passo a outro raciocínio, entretanto, que não me convence, e é dos mais repetidos. Vai nesta linha: “Vocês querem diminuir para 16? E quando aparecer um assassino de 15 anos e meio? Diminui para 14? Para 12?”.

Obviamente esses limites são arbitrários. Mas eles se tornam mais realistas, ou mais absurdos, conforme uma realidade estatística. Se aumenta muito o número de criminosos com 16 anos, há argumentos para que essa idade passe a ser considerada para fins penais.

Não é o único argumento, claro. Pode-se dizer que aos 16 anos a personalidade de alguém não está plenamente constituída, e que seus atos não provêm de uma vontade tão autônoma, tão “responsável”, quanto a de quem tem 18 ou mais.

Tenho minhas dúvidas sobre isso, mas não importa. Passo a outro argumento. Prender o adolescente, ainda que em dependências especiais, seria submetê-lo a uma autêntica “escola do crime” —pois sabemos que as instituições existentes servem para tudo, menos para recuperar o criminoso.

Escolas do crime, sim. Mas e a rua? E a favela? E a escola pública? O crime organizado ensina os seus candidatos em toda parte. O raciocínio se encadeia a outro.

Na verdade, dizem os criminalistas, pelas leis atuais o menor infrator pode terminar mais tempo preso (ou “apreendido”, como estranhamente se diz) do que o marmanjo. De modo que diminuir o limite para 16 anos terminaria, em alguns casos, beneficiando o criminoso!

Ah, é? Mas quem defende a maioridade aos 16 anos também quer penas mais pesadas para os presos atuais. Não adianta dizer que o atual sistema é “bom”, pelo fato de que depois de poucos anos o assassino com mais de 18 está fora da cadeia.

Chegamos ao núcleo da questão. No estado atual das prisões brasileiras, é tão bárbaro prender quem tem 16 anos quanto quem tem 18 ou mais. Todos sabemos disso. O país não tem moral para exigir respeito à lei quando não tem moral para dizer: isto é uma prisão, você perderá a liberdade e aprenderá um ofício; trate de se recuperar.

Quem pede leis mais rigorosas simplesmente usa um eufemismo: queria que todo criminoso fosse fuzilado. Quem é contra leis mais rigorosas sabe que, na verdade, as que existem são outro eufemismo. Falam em “instituição correcional”, em “presídio”, quando deveriam dizer “campo de concentração”, “pocilga”, ou “masmorra”.
Antes, dizia-se “Carandiru”.

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
16/04/13 17:34

textos recentes do cronista, publicados no “Agora”.

ADAPTAÇÃO DIFÍCIL

Garantias. Direitos. Privilégios.
As empregadas domésticas contam com nova legislação.
Reunião de urgência no palacete dos Vasconcellos da Mota.
–Querida. Vamos ter de nos adaptar.
–Horas extras… pagamento de creche… que mais agora?
O dr. Egydio fez as contas.
–Vamos cortar a TV cabo da edícula.
–O radinho não é nosso também?
–Uniforme agora elas pagam.
–E tem mais. Vamos suspender o resto da pizza no domingo.
–Hum. Isso mesmo. Prefiro dar para a cachorra. Não é, Tiffany?
–Wáp. Wáp.
O casal teve a ideia ao mesmo tempo.
–Será que não dá para treinar a Tiffany em algumas coisas?
–Ela é tão inteligente…
O simpático animalzinho já guarda meias e cuecas na gaveta do closet.
Os animais se adaptam. O ser humano, nem sempre.

CONTRATO COM SATÃ

Negócios. Trocas. Transações.
O mundo se globaliza.
Carlos Edson tinha uma loja de artigos religiosos.
Ele esperava uma remessa da China.
–Dois mil bonecos do Zé Pelintra. Preço incrível.
O container chegou de madrugada.
Foi grande a decepção de Carlos Edson.
Eram canecas comemorativas. Com a cara de Bento 16.
“Habemus papam!” Roma, 2005.
Carlos Edson pensou rápido.
–Pinta o rosto de preto. Com um chapeuzinho em cima.
Sete funcionárias bolivianas foram encarregadas da tarefa.
A noite de Carlos Edson foi agitada.
Um pastor apareceu em sonhos.
–Coisa de Satanás. Amaldiçoo a caneca do demônio.
O rapaz guardou tudo num galpão. E prefere fazer negócios com a Argentina.
–Mais confiáveis. Com certeza.
Nos negócios, também é decisivo ter fé.

MELHOR ASSIM

Preconceito. Ignorância. Discriminação.
Um famoso pastor e deputado já declarou.
–A raça negra é amaldiçoada.
Armínio ficou na dúvida.
–Será que isso está na Bíblia?
O namorado dele se chamava Rubens.
–Que besteira, Armínio.
–Joab gerou Gedeão… Gedeão gerou Amnias… Onde é que eu entro na história?
Rubens era mais moderno.
–Faz um teste de DNA.
Nos Centro Urimax, o exame estava em promoção.
Hora do resultado.
–Será que é bom rezar?
Só de noite o envelope foi aberto.
–Ufa. Negativo. Nada de sangue africano.
Mais relaxado, o casal fez amor com animação.
Na luz da manhã, Rubens releu o resultado.
–Armínio. Você viu errado.
Não estava escrito negativo.
–É “negro ativo”. Bem melhor, né?
Não existe maldição quando está vivo o amor.

AO VIVO E EM CORES

Barraco. Baixaria. Pancada.
Nas novelas, personagens femininas partem para a ignorância.
Silvia Lúcia ligou a TV.
–Vamos ver quem vai bater em quem.
Uma famosa atriz global tirava os tamancos.
–Ridículo.
Um detalhe chamou sua atenção.
–O esmalte é bacana. Cores de outono.
O tamanco acertou na cara da loirinha.
–Será que ela vai ficar roxa?
Muita gritaria.
–Vou abaixar o volume.
Um vento frio chegava nos altos da Vila Mascote.
–Melhor fechar a porta da sacada…
Silvia Lúcia foi apreciar a vista do apartamento.
A gritaria vinha do sobrado em frente.
–Desgraçada. Eu te mato, vagabunda.
O tamanco voador acertou o olho direito de Silvia Lúcia.
Ela agora vê novela com um olho só.
A tela em 3-D, por vezes, é um investimento desnecessário.

É PRECISO O DIÁLOGO

Homossexualidade. Aborto. Camisinha.
Temas polêmicos.
O pastor Rosélio tinha importante cargo na Câmara dos Deputados.
–Caldeirão de Satanás.
Ele queria impor novas regras.
–Quero é o Velho Testamento.
A atitude de Rosélio gerava protestos.
A estudante Karina estava no Congresso.
–Abaixo o preconceito.
O pastor Rosélio tentava se defender.
–Preconceito? Só contra crioulo.
Karina era descendente de alemães.
E seguiu a moda do protesto internacional.
–Tiro a roupa.
Primeiro, a blusa. Depois, o sutiã.
O pastor Rosélio ia chamar a segurança parlamentar.
Mas o piercing no umbigo de Karina tinha o pingente em forma de cruz.
No Motel Muralhas, Rosélio procura entender as posições de Karina.
Depois do protesto, vem sempre a hora do diálogo.

ANEL DE SATANÁS

Baixo. Guitarra. Barulhada.
O rock pesado não sai de moda jamais.
O sr. Emídio reclamava.
–Esses vizinhos.
Acabara o sossego naquela vila do Ipiranga.
–O grito quem vai dar sou eu.
O sr. Emídio apareceu na janela.
Caveiras. Ossos. Anéis.
–Coisa de Satanás.
Não adiantava chamar a polícia.
Dois casos de latrocínio no bairro.
–Resolvo isso na marra.
Entrou na casa dando um tiro para cima.
Os garotos da banda não ouviram. Mas outro rapaz saiu de um esconderijo.
–Pronto. Eu me rendo.
Era o Surian. Dois latrocínios nas costas. E a vontade secreta de ser baterista.
Um anel de caveira brilhou estranhamente no escuro.
Momento de paz. Emídio baixou a arma. Surian foi integrado à banda.
Do interior das trevas, por vezes, vem a força do perdão.

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O mau, o cruel, o perverso

Por Marcelo Coelho
11/04/13 15:32

Hoje, a partir das 19h30, comento o livro O que os cegos estão sonhando?, com a autora, Noemi Jaffe, no Centro de Cultura Judaica –rua Oscar Freire, 2500. O livro inclui o diário de Lili Jaffe, mãe da autora, narrando o ano que passou no campo de extermínio de Auschwitz.
Cito alguns trechos do livro.
O mau é puro. É como o bom. O mau é como um produto direto, sem mediações, do próprio mal, do próprio demônio, da ideia platônica do mal em si. Será que o mau existe? Será que o mau puro, mau mesmo, é mau também com sua mulher, com seus filhos? Precisa ser; se é mau, é mau sempre; se não, não é mau. O mau não pode ter sido vítima de patologia, não pode ter sofrido problemas durante a infância que o tornaram mau. Ele deve ser como os maus dos contos de fadas; que surgem do nada e dizimam o bem, o ameaçam. O mau é temido pelo bom.
O perverso não. Esse não nasceu necessariamente mau. Ele verteu os caminhos da cultura; passou por eles, conhece o bem e o bom, pode sê-los com a família e com os eleitos, mas pratica o mal seletivamente. Seleção é a palavra. Era a palavra da guerra. O perverso seleciona; ele arbitra sobre os critérios de aplicação mensurada do mal. Frui deliciosamente o sofrimento sofisticado dos eleitos e compraz-se em compartilhá-lo com seus colegas perversos. O perverso tem colegas. O mau não os tem; o cruel também não. O perverso precisa de exposição, ostentar suas vitórias.

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Malandros sem chance

Por Folha
10/04/13 03:00

“Vai que Dá Certo” é uma produção da Globo Filmes que reúne alguns comediantes de grande sucesso na internet, como Fábio Porchat e Gregório Duvivier. O filme foi lançado em muitos cinemas, prevendo grande público.

Se você for um dos possíveis espectadores, aviso que vou contar algumas cenas e piadas neste artigo.

Boêmio e azarado, Danton Mello é Rodrigo, proprietário de um Maverick cor de barata metálica. O motor do carro está em petição de miséria. Aparece um assaltante. Rodrigo tem de lhe entregar aquela ruína sobre rodas.

Torce, naturalmente, para que o carro não pegue. Ao volante, o bandido não desiste: manda Rodrigo empurrar o Maverick para ajudá-lo a ir embora.

Tudo bem, é só uma comédia. Tudo bem, o filme tem patrocínio explícito da Fiat —e a necessidade de um carro novo envolverá outros personagens na trama. O espectador pode perguntar, em todo caso, por que um ladrão haveria de querer roubar um Maverick arrebentado.

Uma resposta possível é a de que não se trata de um filme sobre o Brasil real. É uma comédia sobre um país imaginado.

Esse país imaginado difere bastante dos antigos e novos clichês em torno de nosso “caráter nacional”, e ao mesmo tempo concorda com eles. Classicamente, sempre fomos um povo improvisador, otimista, pacífico, atrasado e preguiçoso.

O quadro mudou muito quando a malandragem se transformou em PCC, e quando caiu a ficha de que, bem ou mal, estamos entre as maiores economias do mundo. Enquanto isso, o sistema de favores comum na política tradicional se tornou uma espécie de variante parlamentar do crime organizado.

O jeitinho deixou de constar como um traço simpático, e hoje equivale à transação com o pequeno traficante: um dente pequeno na engrenagem maior da corrupção. O que não quer dizer que não se recorra a ele.

“Vai que Dá Certo” se baseia nessa percepção ambígua. A malandragem tem tanto futuro quanto o Maverick de Danton Mello, mas ainda assim não custa dar uma empurrada que, com sorte, o carro pega.

O problema não é tanto o de a sociedade não admitir mais o comportamento criminoso. Ao contrário.

O problema é que não há mais espaço para amadores. Rodrigo e seus amigos são ingênuos e atrapalhados demais para ter sucesso no golpe que planejaram.

Terminam se salvando graças a um político jovem e corrupto, bem caracterizado por Bruno Mazzeo. Claro, o grupo ficará “devendo uma” ao figurão. No final do filme, o deputado aparece para lhes pedir um servicinho. Voltamos, com isso, ao caso do ladrão do Maverick.

Que grande corrupto contrataria os préstimos daqueles patetas?

Mas talvez isso aconteça. Muitos escândalos são desvendados, no Brasil, graças ao otimismo, à autoconfiança, dos próprios envolvidos.

Fala-se em “certeza da impunidade”, o que não é incorreto. Mas há também a certeza, bem brasileira, de que tudo vai dar certo no final. Assim, esquemas aparentemente bem montados desmoronam na baixaria da ex-amante, no laranja semianalfabeto à frente do barraco onde deveria funcionar uma empresa de consultoria.

Conclui-se que, como em tudo, a corrupção brasileira vive uma crise de competência. Com mais investimento em educação, naturalmente esse problema será contornado. Os mequetrefes ficarão sem vez.

Há algo de doce, talvez, e certamente de ingênuo em “Vai que Dá Certo”. Estamos longe da violência mental de um site como “Porta dos Fundos”, onde Fábio Porchat e Gregório Duvivier fazem humor mais cínico e adulto.

Uma moça chamada Kellen procura o próprio nome entre as latas de Coca Zero; Fábio Porchat, no papel de atendente do supermercado, avisa. “Você tem um nome merda.” Só vai achar, com sorte, na promoção do guaraná Dolly.

Esse tipo de desplante não teria lugar no cinema comercial. Os participantes de “Vai que Dá Certo” precisam ser mais infantis, e menos realistas. Escolhem, na verdade, estilos de atuação heterogêneos.

Lúcio Mauro Filho é uma figura de cartum, enquanto Danton Mello é mais naturalista, e Fábio Porchat se desequilibra entre alguma “gayzice” e o tipo cervejeiro.

O filme é para ser em São Paulo, mas foge de uma localização precisa. No campinho de futebol, cada personagem usa a camisa de um time diferente. Ficamos, como o Brasil, entre o Fiat e o Maverick. Nenhuma das duas opções é de primeira linha.

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