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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Vai Que Dá Certo

Por Marcelo Coelho
09/04/13 14:32

Adolescentes, e também crianças um pouco maiores, não desgrudam dos filmezinhos cômicos de “Porta dos Fundos”, que aparecem regularmente no youtube. Não sou dos que morrem de rir, mas admiro a arte de alguns atores quando se trata de manter a absoluta cara de pau –há cenas em que o mau humor de um personagem fica realmente engraçado.

“Vai Que Dá Certo” reúne algumas estrelas desse novo humorismo, como Fábio Porchat e Gregório Duvivier. Não achei especialmente engraçado, mas deu para levar meus dois filhos (10 e 8 anos) sem expô-los demasiado a cenas de sexo e palavrões –com que eles se saciam na internet.
Um grupo de amigos atrapalhados planeja levar o dinheiro de um carro-forte. Para fazer rir, exageram na incompetência, e o filme inteiro perde uma característica indispensável das boas comédias –o mecanismo implacável, matemático, das situações desastrosas e absurdas.
Em todo caso, comento mais o filme no artigo de amanhã para a Ilustrada.
Nessa linha de comédias, é bem melhor “A Parte dos Anjos”, filme que se passa na Escócia, dirigido por Ken Loach.
Novamente, são quatro amigos sem eira nem beira, cumprindo penas alternativas por pequenos roubos e agressões. Não estamos no mundo de classe média imaginária de “Vai Que Dá Certo”: a miséria social e mental da classe baixa europeia é mostrada com realismo e ternura ao mesmo tempo.
O grupo acaba planejando roubar um uísque caríssimo, a ser leiloado numa destilaria. “Parte dos anjos” é o nome que se dá à quantidade de bebida que evapora de um tonel com o passar do tempo. É isso o que Robbie (Paul Brannigan) e seus amigos irão reivindicar. O filme é uma graça de desespero e salvação.

“A Parte dos Anjos” -divulgação

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Um clássico japonês

Por Marcelo Coelho
03/04/13 18:11

Transcrevo um trecho do livro de Sei Shonagon, escrito entre os anos de 994 e 1001, tema do meu artigo de hoje (ver post abaixo).
Escolho parte de um capítulo daqueles em forma de lista, o 240:

Pessoas que se acham espertas.

As crianças de três anos dos dias de hoje.
Mulher que cura crianças doentes por rezas ou massagens na barriga. Solicita diversos materiais para utilizar nas rezas. Empilha grande quantidade de papéis e tenta cortá-los usando uma faca sem fio, que parece não cortar sequer uma folha, mas como costuma usá-la, insiste pressionando, e entorta até a boca para assim fazê-lo; usa um instrumento com muitos dentes para cortar varas de bambu e, preparando tudo de forma solene, balança as tiras de papel cortado e reza, tudo com muita propriedade. E ainda fica a contar: “ O filho de tal príncipe, o herdeiro de tal nobre, que estavam muito doentes, foram curados por mim e fui bem recompensada. Outras pessoas haviam sido chamadas, mas não foram eficazes, eis porque ainda solicitam a minha pessoa. Graças a isso, sinto-me afortunada!”. Senti desagrado só de lhe mirar o rosto.

Outra passagem, do capítulo 251:

Quem se irrita com alguém que fala dos outros é que é inconcebível. Como podemos ficar sem falar mal dos outros? Haverá coisa melhor do que falar mal dos outros, evitando referir-se a si próprio?

Mais um trecho, em que a nota explicativa faz diferença. Sei Shonagon é dama de companhia de uma das mulheres do imperador, e lhe diz:

“Quando estou muito irritada com o mundo, desgostosa, sem um momento de paz e quero desaparecer, não importa para onde, consolo-me por completo ao me chegar [sic] às mãos papéis de simples, alvíssimos e belos […] Ou, então, se vejo uma esteira Korai nova, grossa e de trançado minucioso, de bordas decoradas vivamente de nuvens e crisântemos em preto sobre fundo branco, e a desenrolo para apreciá-la, penso: ‘Como poderia eu realmente abandonar este mundo?’ E me apego à preciosa vida.” Sua Consorte se pôs a sorrir e disse: “Vós vos consolais com coisas tão insignificantes! Como deve ter sido diferente a pessoa que apreciou a triste lua da montanha Obasute!”

A nota esclarece. A Consorte faz referência a um poema que diz: “Como consolar/O meu pobre coração?/ Ah! Sarashina/ Contemplo a lua que banha/ A montanha Obasute”. Nessa montanha foi abandonada a mãe já idosa do autor, para morrer. Nessa altura do livro, a própria Consorte estava sendo abandonada pelo imperador, em favor de uma mulher mais jovem.

Avisam-me por email que já havia outra tradução do livro. Foi editado em Porto Alegre, em 2008, com o título de “O Livro de Travesseiro”. É tradução direta do japonês também, e pode ser comprado na Livraria Cultura por R$ 38,00.

Mais barato que a edição da 34, mas não sei se tem o mesmo aparato crítico. Há quase três páginas, por exemplo, explicando por que não é correta a tradução “Livro de Cabeceira”, que pareceria mais natural. Os japoneses, na época, não liam antes de se deitar. Quanto ao porquê de “travesseiro”, parece que ninguém sabe ao certo.

Sei Shonagon (wikimedia)

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O livro das coisas parecidas

Por Folha
03/04/13 03:00

Por vezes, num livro escrito séculos atrás, encontramos uma voz tão atual, tão presente quanto a de qualquer contemporâneo nosso. Os “Ensaios” de Montaigne (1533-1592) são o maior exemplo disso.

Outro caso, ainda mais notável pela distância no tempo e no espaço, é o de “O Livro do Travesseiro”. Foi escrito há mais de mil anos por Sei Shônagon, dama da corte imperial japonesa.

Numa série de textos curtos, Sei Shônagon anota impressões do cotidiano e fala de suas preferências em matéria de roupas, cores, pessoas e comportamentos. Parte importante do livro é reservada às listas, ou “catálogos de coisas parecidas” (“mono-zukushi”). A sensibilidade da autora tem o poder de entrar em sintonia conosco, apesar de todas as separações do tempo.

Coisas que causam insegurança. Coisas distantes que parecem próximas. Coisas que soam de modo diferente do habitual. Coisas que aborrecem. Coisas que a noite realça. Para cada uma dessas estranhas categorias classificatórias, Sei Shônagon dedica uma página, ou até menos do que isso.

Entre as “coisas que perdem a pose”, por exemplo, o livro relaciona “um grande barco encalhado na maré baixa” e “uma esposa que, por causa de ciúme infundado, deixa sua casa, pensando que certamente a procurariam”. Depois, continua Sei Shônagon, “não podendo mais continuar ausente, reaparece”.

Numa lista desse tipo, é como se tivéssemos a matéria-prima para um conto que não é preciso escrever. Ao mesmo tempo, há possibilidades, ou promessas de metáfora, que ficariam esquisitas num texto mais formal.

Muito do livro —que foi adaptado, com excesso de maneirismos a meu ver, por Peter Greenaway em “O Livro de Cabeceira”, filme de 1996— parece ter uma linguagem mais visual do que literária; as frases sem verbo, como ocorre com frequência nas listas, assemelham-se a descrições de pinturas, ou sugestões de quadros que poderiam ser feitos algum dia.

Sei Shônagon descreve os modos de um homem que sai da casa da amada antes do amanhecer. “Lembrando-se de um compromisso, levanta-se resoluto (…) por estar escuro, tateia ao redor, dizendo ‘onde estão, onde estão?’, em busca do leque e dos papéis dobrados deixados à cabeceira na noite anterior, que naturalmente haviam se espalhado.”

Havia muitos encontros furtivos no Palácio Imperial, pelo que conta a autora. Os galanteios e comunicações vinham na forma de poemas, muitas vezes alusivos a outros poemas. A autora não se reprime: mostra sempre como foi engenhosa em responder com outras citações eruditas os versos de uma carta que recebeu.

É por isso, e pelas rivalidades político-amorosas da corte, que Sei Shônagon foi estigmatizada como pretensiosa pela outra grande escritora da época, Murasaki Shikibu, a autora de “A História de Genji”. O livro de Sei Shônagon foi escrito entre os anos de 994 e 1001, e o de Murasaki pouco tempo depois. São os dois grandes monumentos da literatura clássica japonesa.

Muita coisa —em especial as páginas sobre cargos na complicadíssima hierarquia da corte— tem interesse hoje restrito a antropólogos e historiadores. Mesmo assim, a escrita de Sei Shônagon dá vida e humanidade ao que acontece.

Nada mais triste, diz ela, do que ver a casa de alguém tomada pelas expectativas de uma nomeação que termina sem acontecer. Os servidores antigos, os parentes, chegam de longe esperando a boa notícia, “comem, bebem saquê e fazem grande alvoroço”.

Mas a madrugada avança sem sinal, continua Shônagon. “Estranhando a demora e apurando o ouvido”, os convivas percebem que a comissão encarregada das nomeações já está indo embora. “À chegada do serviçal que estivera à espera de notícias, em meio ao frio, ninguém tem coragem de perguntar-lhe o resultado.”

O livro ganha se lido aos poucos, ao acaso, deixando que cada pequena vinheta exerça, aos poucos, seu encanto. A equipe de tradução (cinco pessoas, desde 2001, preparam o texto para a editora 34), não economizou em notas, glossário e textos complementares. Desse modo, mesmo algumas alusões obscuras recuperam sua força estética.

Uma dama de antigamente havia se jogado nas águas do lago Sarusawa. Shônagon cita um poema sobre os cabelos em desalinho de uma mulher —que se parecem com as algas daquele lago. Não se fala em suicídio: a objetividade silenciosa da observação vale mais que páginas e páginas de sentimentos.

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FHC na ABL

Por Marcelo Coelho
29/03/13 14:12

Vejo, sem surpresa, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é candidato à Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por João de Scantimburgo. Não me digam que não é uma evolução.
Minha maior estranheza provém das declarações de Nélida Piñon, presidente da instituição. Assinalando o favoritismo de FHC entre os acadêmicos, saiu-se com esta: “Chega um momento da vida, após tanta luta, que é justo receber a realidade já acolchoada”.
O que será uma realidade acolchoada? Será parente da ficção acochambrada? Ou de poltronas estofadas?
E o que significa “receber a realidade”? Tipo assim, um presente? Seria Fernando Henrique a “realidade” que Nélida e a ABL finalmente estão “recebendo”? Ou é Fernando Henrique que recebe o convite para a ABL como “a realidade”? Seja como for, a realidade tem isso, para os realistas: é irrecusável, não pode ser negada. Tem de ser aceita, sempre.

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Keep calm and carry on

Por Folha
27/03/13 03:00

A moda pegou, com mais de 70 anos de atraso. Camisetas, mensagens no Facebook, capas de caderno, não há lugar onde não esteja reproduzido o velho cartaz britânico: “Keep calm and carry on”.

Ou seja, “fique calmo e vá em frente”. O slogan, pelo que vejo na Wikipédia, foi criado pelo governo inglês em 1939, para ser divulgado na eventualidade de uma invasão nazista. A versão clássica traz a coroa do império encimando as palavras, que se destacam sobre o fundo da bandeira do Reino Unido.

O cartaz não foi muito usado na época, e ficou nos arquivos governamentais. Uma rara cópia foi encontrada num sebo em 2000, e só nos últimos anos a frase virou febre. O mais comum é encontrá-la com letras brancas, sobre um fundo monocromático.

A graça da coisa está em modificar o slogan para todo tipo de situações. “Keep calm e faça um boletim de ocorrência.” “Keep calm and call Batman.” “Keep calm e aguarde o feriadão.” “Keep calm e coma chocolate.” A lista é infinita.

Existem também as modalidades inversas, que começam com “Get excited”, e com “Freak out”: “Dê a louca e quebre tudo”, por exemplo.

Manter a calma eu acho melhor. Qualquer pessoa pode apreciar a sugestão, mas não é casual que a moda tenha começado na Inglaterra.

Teoricamente, o slogan deveria servir como incentivo à resistência. Poderia ter sido utilizado durante o bombardeio alemão sobre a Inglaterra, num momento em que o país estava sozinho contra Hitler.

Talvez não tenha sido sequer necessário difundir os tais cartazes. Enquanto choviam sobre Londres as bombas da blitz, a pianista Myra Hess apresentava, imperturbável, seus recitais de Beethoven; há um filme em que ela aparece, com um bombeiro ao seu lado para qualquer emergência.

Teríamos aí um bom motivo para a frase entrar na moda. Manter as mesmas atividades, num clima de ameaça, equivale a dar um sentido novo, e mais alto, à própria rotina.

O slogan traz também o sabor nostálgico de uma época em que governo e população poderiam, por vezes, parecer uma coisa só. As bombas caem sobre todos.

A liderança de Churchill naqueles anos de guerra —que também volta a ser reverenciada atualmente— colocava em cena algumas funções do Estado democrático que, talvez, estejam em desuso.

Coordenação, organização, motivação, por exemplo. Uma coisa são as reações individuais que possamos ter diante de um problema; outra, a atitude que sabemos ser melhor adotar coletivamente. Uma terceira coisa é um governo que, ouvida a vontade da maioria, torna-se legítimo ao apontar o rumo a ser seguido.

Depois de décadas de individualismo e desregulamentação, entretanto, o “keep calm and carry on”, parece adquirir o sentido oposto. Em primeiro lugar, imagino que a força da crise econômica europeia tenha tido seu peso na ressurreição do cartaz.

Mantenha-se calmo, aguente, que um dia passa. A frase naturalmente se aplica a tudo o que não tem solução, ou cuja solução está entregue a um governo fraco, incompetente e corrupto: o trânsito nas cidades brasileiras, a criminalidade, o desemprego, os aeroportos, tudo o que quisermos.

Ao mesmo tempo, o slogan foi “privatizado”, por assim dizer. Torna-se um convite ao conforto (fique calmo e coma chocolate), ao aperfeiçoamento pessoal (keep calm and play volleyball), ao consumo (fique calmo e use jeans da nossa marca).

As adaptações deixam de lado a segunda parte da frase —“carry on”, “siga em frente”. Seguir em frente não é tão fácil. Embora não tenha tanto destaque, essa recomendação me parece a mais significativa para o momento atual.

Trata-se do slogan de todo zumbi. Como se sabe, esses monstros também voltaram à moda. Depois dos filmes de vampiro, no estilo de Anne Rice, dos filmes de catástrofe e dos filmes de história em quadrinho, recorre-se ao velho depósito do terror “trash” para manter em movimento a indústria cinematográfica.

Vem aí uma superprodução de zumbis com Brad Pitt. Na época em que o capitalismo financeiro era mais charmoso, Brad Pitt era um dos belos atores de “Entrevista com o Vampiro”. Os zumbis são um pouco como essas instituições financeiras que quebraram em 2008 mas seguem vivas até agora, arrastando seus pedaços e “seguindo em frente”.

Pedem calma, naturalmente, ao distinto público.

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O papa e os gays

Por Marcelo Coelho
21/03/13 14:31

Como muita gente, citei com desagrado as palavras do então cardeal Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, contra o casamento gay. Para ele, tratava-se de coisa criada pelo “Pai da Mentira” (isto é, o Diabo) para destruir os “planos de Deus”.
Opiniões à parte, a fraseologia era de um reacionarismo ímpar. Já como papa, ele voltou a falar no “Diabo”, em pronunciamento dirigido aos outros cardeais.
Pois bem, o Diabo não é tão feio como parece. Ao menos é o que senti lendo reportagem de Simon Romero e Emily Schmall no “New York Times”. Num encontro episcopal em 2010, Bergoglio teve atitude conciliatória com relação aos direitos dos homossexuais.
A lei permitindo o casamento gay na Argentina estava para ser aprovada. Diante do inevitável, o arcebispo propôs que se aceitasse, como um “mal menor”, a proposta de uma união civil homossexual, ainda que se continuasse a rejeitar o casamento.
A proposta de Bergoglio ficou em minoria. Provavelmente para se reforçar, então, ele acabou soltando o palavrório demoníaco. Isso não torna menos alarmante o seu vocabulário, mas sem dúvida é sinal de que, como papa, ele pode ser menos radical do que eu pensava.

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Bolsa-traficante

Por Marcelo Coelho
20/03/13 14:23

Joaquim Barbosa apontou, com a severidade de sempre, o eventual “conluio” entre advogados e juízes no sistema judicial brasileiro.
Outro conluio me parece mais preocupante.
Como se sabe, cresce o número de faculdades de Direito no país –e, mais do que isso, há a boa notícia de estar mais fácil o acesso de pessoas pobres a essas instituições.
Um morador da periferia paulistana me conta o seguinte. O crime organizado procura os jovens estudantes de Direito. Oferece ajuda para pagar a faculdade, para comprar livros, para fazer cursinhos da OAB ou dos concursos públicos.
É o Bolsa-Traficante. Financiamento a ser restituído ao longo de toda a vida do beneficiário.

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Da Arca de Noé ao papamóvel

Por Folha
20/03/13 03:00

O homem mais moderno da Europa, dizia o poeta Guillaume Apollinaire em 1912, “sois vós, papa Pio 10º”.

Vinda de um dos mais importantes representantes da vanguarda artística, amigo de Picasso e inspirador dos surrealistas, a frase só podia ser irônica. Ainda mais porque Pio 10º era ferrenho inimigo de qualquer renovação.

Tinha publicado poucos anos antes uma encíclica, “Pascendi Domini Gregis”, cujo objetivo era precisamente condenar as ideias “modernistas” no interior da reflexão católica.

No começo do século 20, já existiam teólogos que buscavam relativizar alguns pontos mais antiquados do ensinamento bíblico. Por exemplo, a tese de que o mundo foi criado em sete dias, de que Eva nasceu da costela de Adão, de que Noé salvou todos os animais da Terra abrigando um casal de cada espécie na sua arca.

Não sendo especialista nesses assuntos, não sei como atualmente a Igreja Católica reage ao “modernismo” teológico. Qualquer um pode perceber, entretanto, que a igreja não enfatiza a ferro e fogo as afirmações mais estranhas do Antigo Testamento. Nem por isso o catolicismo perdeu sua “identidade”.

O pensamento conservador, como é óbvio, resiste a mudanças e reformas. Sua mais recente bandeira em termos religiosos, pelo que andei vendo nestes dias de sucessão papal, é o termo “identidade”.

O catolicismo tem de preservar suas posições. Caso contrário, perderá sua identidade. Comentando o último conclave, Luiz Felipe Pondé elogiou o cardeal Bergoglio por ter combatido a “contaminação marxista” na igreja.

Sem dúvida, o excesso de marxismo pode representar riscos à integridade dos ensinamentos católicos. Entretanto, cabe observar que o cristianismo já esteve às voltas com outras “contaminações”.

A contaminação copernicana, por exemplo. A contaminação de Sêneca e de Cícero. A contaminação de Galileu. A contaminação de Darwin.

Haja camisinha para enfrentar tantas contaminações. O catolicismo não foi tão puritano. Preferiu adaptar-se, vacinar-se, atualizar-se numa série de questões —e nem por isso se dissolveu no mundo laico.

Claro que não foi fácil. Pio 9º desaprovava as estradas de ferro. João Paulo 2º adotou o “papamóvel” —coisa que, para o meu gosto, talvez fosse sacrílega demais.

A igreja demorou muito para aceitar as formas republicanas de governo. Mas Leão 13, na passagem do século 19 para o século 20, decidiu que esse tema da monarquia versus república não era especialmente importante para o futuro da fé.

Idas e vindas. Pio 12, em 1950, recorreu aos poderes, raramente utilizados, da “infalibilidade papal” para decretar que a Virgem Maria subiu aos céus de corpo e alma. Repito: não apenas a alma foi para o céu, mas seu corpo também.

Dito isso, os clérigos tiveram o cuidado de não insistir demais no
assunto.

Foi pensando nesse tipo de dogmas que Apollinaire escrevia, meio século antes, seu misterioso verso. O papa era o europeu mais moderno de todos porque a crença em santos e profetas voadores, tão bizarra aos olhos dos descrentes, estava se realizando com o milagre da aviação.

A religião se manteve simples como os hangares de um aeroporto, continuava Apollinaire; o que houvesse de pueril em suas convicções se concretizava, no início do século 20, como um verdadeiro brinquedo de criança.

Na esfera estética, o modernismo também pretendia esse gênero de simplicidade e de pureza.

Tratava-se de afirmar que a poesia não está num conjunto convencional de ornamentos, na superstição dos temas convencionalmente “poéticos”, no que tradicionalmente se considera “belo”, mas em alguma essência mais profunda.

A arte da pintura, por exemplo, não está na reprodução perfeita de um rosto bonito, mas numa certa capacidade de organizar o espaço em linhas, cores e volumes.

Certamente, a fé não está em aceitar tudo o que, culturalmente, fazia sentido para os povos do Mediterrâneo há mais de 2.000 anos.

A balsa de São Pedro foi jogando ao mar toda a tralha supérflua: quem sabe não seria esse o verdadeiro desapego, a verdadeira pobreza, a serem defendidos pelo novo papa.

É duvidoso que Francisco esteja disposto a muita renovação doutrinária. Mas, com menos peso nos porões do preconceito, do puritanismo, da superstição em torno do sexo —todos justificados em torno da bandeira da “identidade”—, essa embarcação talvez pudesse seguir mais solta em seu caminho, sem atravancar tanto os que estão por perto.

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Pega, mata e come

Por Folha
13/03/13 03:00

O sr. Heinz tem uma boa quantia de dinheiro no banco. A mulher dele sofre de um câncer raro e pode morrer a qualquer momento. Vem a notícia: um novo remédio pode ser comprado na farmácia.

O farmacêutico da cidade, entretanto, cobra uns US$ 20 mil pela medicação. O sr. Heinz sabe que ele está tendo um lucro abusivo. Propõe pagar só US$ 5.000, um preço justo. O farmacêutico recusa.

O que você faria no lugar de Heinz? Assaltaria a farmácia para levar o remédio ou se resignaria à morte de sua esposa?

O dilema é interessante, e foi apresentado por Lawrence Kohlberg (1927-1987) num estudo sobre as fases do desenvolvimento moral nas crianças e nos adultos.

Uma criança, mostra Kohlberg, segue a cartilha: “É feio roubar”. Ou, então, é mais pragmática: “Ninguém vai descobrir, porque ele roubou uma coisa pequena”.

Conforme crescem, as pessoas elaboram raciocínios mais complexos. “Heinz roubou, mas foi para fazer o bem.” Outro contestará: “A regra deve valer para todos, se não seria o caos”.

Num estágio mais avançado de reflexão, alguém pode perguntar: “Mas essa regra é boa?”. Ou ainda: “Em que medida os direitos individuais podem falar mais alto do que uma lei democrática?”.

Os trabalhos de Kohlberg são, como se vê, fascinantes. Interessa notar que, para o autor, não importa muito se o entrevistado aprova ou não o roubo do remédio. Interessa o tipo de raciocínio, simplista ou sofisticado, com que se fundamenta a resposta dada.

Fiz correndo a minha lição de casa. Contardo Calligaris invocou as teorias de Kohlberg, no seu artigo da semana passada; eu não fazia ideia de quem era Kohlberg.

Para Contardo, o pensamento moral envolve dúvidas desse tipo, e não há como escapar de dilemas difíceis. Querer evitá-los é simplesmente seguir cegamente uma cartilha; é ser moralista e rígido, é coisa de gente totalitária.

Não discordo, embora possa ser estranho dizer a alguém: “Você é totalitário, segue a cartilha dos direitos humanos”. 

Sigo, sim, a cartilha dos direitos humanos e, por isso, abomino, por exemplo, a tortura. Claro que pode haver uma situação excepcional em que nenhuma cartilha valha.

Contardo propôs uma dessas situações excepcionais, no caso da tortura (“Ilustrada”, 21/2). Uma criança morrerá sufocada dentro de uma hora se o seu sequestrador não confessar o lugar do cativeiro. Você tortura ou deixa a criança morrer?

Não sou contra dilemas morais. Mesmo Kant, ao contrário do que sugere Contardo, pensa em termos de hipóteses.

O problema da pergunta de Contardo, a meu ver, é que não coloca nenhum dilema moral verdadeiro. Apresenta uma situação extrema e “hollywoodiana”. Não estamos no plano das hipóteses, mas de uma ficção, como as dos seriados de Jack Bauer.

Fugimos do mundo moral para entrar num ambiente de desespero e de força maior. “Que se dane, você tem só 60 minutos para agir.”

No caso de Heinz e do farmacêutico, há o conflito entre uma consideração pessoal e uma lei abstrata. Família ou sociedade? Marido ou cidadão? Roubo justo ou legalidade injusta? Resigno-me a algo que é da ordem normal das coisas (morre-se de câncer por falta de remédio) ou posso dar um passo adiante?

A questão da criança sufocada não tem sutilezas. Agarra-me pelo pescoço. Resume-se, na verdade, a uma pergunta bem mais simples. O que é pior, uma criança inocente ser sufocada ou um criminoso ser torturado?

É claro que quem faz a pergunta sabe perfeitamente a resposta. Não se trata de um dilema moral plausível para ninguém. Trata-se, na verdade, de uma pergunta de torturador. Eu me reservo o direito de não respondê-la. É como se me perguntassem: “Quem é mais burro, um negro ou um índio?”. Não quer responder? Nossa, como você é antidemocrático! Detesta debater, hein?

A questão da tortura não foi inventada no sentido de sofisticar o meu pensamento moral, mas de embrutecê-lo. Volto ao exemplo que dei em artigo anterior. Se você estiver morrendo de fome num naufrágio, você mataria o seu companheiro para sobreviver na base do canibalismo?

Sim? Não? Como saber? Depende da minha fome, do meu desespero, da minha coragem, do meu medo. Coisas muito concretas.

Mas numa situação dessas não posso dizer que estaria agindo livremente, como sujeito moral. Estou à mercê de uma força maior do que a minha consciência.

É esse o tipo de “dilema” que alimenta os regimes totalitários.

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
10/03/13 15:18

Algumas crônicas publicadas no “Agora”.

CAMINHOS DA FÉ

Pasmo. Perplexidade. Reflexão.
Em Roma, o papa renuncia.
Em Parelheiros, o padre Pelozzi respirou fundo.
–Que complicazione.
A Igreja precisa se renovar.
Escândalos. Pedofilia. Impopularidade.
Veio a inspiração.
Padre Pelozzi fez o anúncio aos paroquianos.
–Camisinhe. Nello domingo eu faccio a distribuiçó.
A incredulidade tomou conta dos fiéis.
–Senza il papa, mando io.
Mais de uma centena de preservativos foi distribuída.
–É assi que dgiunta dgente nella igredjia.
Autoridades eclesiásticas temem que Pelozzi esteja perturbado.
Mas ele explica com tranquilidade.
–As camisinhe que eu dei… sono tutte furate.
Garantia de mau funcionamento.
–Daqui a nove mese, faccio il batismo da figliarada.
São obscuros, por vezes, os caminhos da fé.

TUDO EXPLICADO

Obediência. Disciplina. Mansidão.
As crianças modernas nem sempre atendem a esses ideais.
Lariane tinha orgulho do filho.
–O João Cláudio. Um santinho.
O menino ajudava nas tarefas do lar.
–Posso lavar as panelas, mãe?
Lariane fazia afagos no menino.
–Ah, se sua irmã fosse como você.
Luanna prometia uma adolescência difícil.
–Só quer saber de roupa e de fazer malcriação.
Domingo tranquilo na Vila Romana.
João Cláudio não saía do quarto.
Lariane foi ver o que era.
Choque. Surpresa. Indignação.
João Cláudio estava usando o vestido vermelho da irmã.
Veludo. Mangas bufantes. Detalhes em renda.
A explicação interrompeu os tabefes.
–Mamãe. Não sou gay. Estava só brincando de papa.
O lar é como a Igreja.
Explicando direitinho, tudo se perdoa.

ORDENS MÉDICAS

Verbas. Prejuizos. Superlotação.
O número de doentes crescia na Clínica Santa Ismênia.
A enfermeira Márcia sofria pressões.
–Precisamos liberar as vagas na UTI.
–O que é que eu faço, doutor Marco Aurélio?
O diretor do hospital falava no celular.
–Alô? Estou esperando faz vinte minutos…
Ele andava tendo problemas com a TV cabo.
–Ah, é? Corta a assinatura.
–Doutor Marco Aurélio…
–Arranca o cabo. Desliga o terminal.
Márcia entrou silenciosamente na sala do pós-operatório.
–Desliga o terminal. Será possível?
Um velhinho de cabelo branco dormia placidamente.
–Coitadinho. Parece o Bento 16…
A família ainda não recebeu a notícia triste.
Leitos hospitalares, por vezes, são como o trono de São Pedro.
Ficam vazios na base do susto.

OLHOS AZUIS

Apostas. Esperanças. Incertezas.
Quem será o próximo papa?
Patrícia ficava pensando.
–Seria legal um papa africano…
O marido se chamava Eduardo.
–Só faltava. Que bobagem.
–Nossa, amor. Por que essa implicância?
–Ué. Não dá.
Luiz Eduardo explicava.
–Papa é meio que nem Papai Noel. Entendeu?
–Como assim?
–Gordinho. Rosadinho. Olho azul.
–Ai, Eduardo. Como você é racista.
–Não é questão de racismo, pô.
Ele bateu os talheres no prato.
–Catolicismo é coisa séria, Patrícia.
–Então. Somos todos irmãos.
–Papa não é babalaô. Caramba.
O preconceito foi demais para Patrícia.
Ela saiu de casa na segunda-feira.
Um amigo avisou Eduardo.
Patrícia está saindo com o Ettore.
Italiano. Budista. Olhos azuis.
Na hora do pecado, a religião não conta.

O SOL POR TESTEMUNHA

Renúncia. Despedida. Reflexão.
O papa Bento 16 se retira.
Iolanda deu um suspiro.
–Falam mal dele, mas…
Sua família era de origem alemã.
–Ele parece tanto o vovô Fritz…
Imagens distantes da serra gaúcha ocuparam a mente de Iolanda.
–Ele me contava histórias do lobo mau…
Na gaveta, o retrato em preto e branco.
–A gente brincava de pega-pega…
Um senhor de cabelo branco sorria de ladinho.
–Ele me punha no colo…
Um calor intenso cresceu entre as pernas de Iolanda.
–Me dava balinha pra chupar.
É verão.
–Ai. Preciso tomar uma ducha.
O desmaio foi no caminho do banheiro.
Uma voz com forte sotaque parecia vir da gavetinha.
–Fokko da inferrrna, Ioláánta… é taqui ke fem esta calorrón.
Não se lavam com duchas os erros do passado.

CULTURA EM CASA

Rumores. Boatos. Palpites.
Quem será o próximo papa?
O mundo espera a fumaça branca.
Rogério dava um risinho.
–Aqui, a fumaça é todo dia…
Aos trinta anos, ele ainda não havia abandonado o hábito da maconha.
–É a minha religião.
Hora de cultura. Hora de um filminho em casa.
Lincoln. A vida do presidente americano narrada com emoção.
–Parece que ganhou o Oscar.
Guerra. Escravidão. Democracia.
–Esse chapéu do Lincoln parece uma chaminé.
A visão surgiu cheia de mistério.
Fumaça saía da cartola. Lincoln dava o recado.
–American pope. Pááp amerwicáán.
O cheiro de queimado despertou Rogério.
Curto-circuito na fiação do televisor.
–Não compro mais DVD pirata.
O mundo precisa de líderes.
Mas os liderados também precisam fazer a sua parte.

À ESPERA DE UMA DECISÃO

Edifícios. Condomínios. Incorporações.
A cidade precisa crescer.
Na Construtora Quatro Chaves, muita expectativa.
–Conseguimos o terreno?
–Não sei. O loteamento…
Na mesa ao lado, a secretária Izildinha deixava o pensamento voar.
–O Bento 16…
Ela estava na torcida.
–Um papa brasileiro. Já imaginou?
Pelas janelas envidraçadas do escritório, ela contemplava a região da Marginal.
–A fumaça branca. Vai se tingir de verde e amarelo.
O chefe dela largou o celular.
–Grande notícia! Dá para ver a fumaça?
Izildinha achou que era o papa. Mas o dr. Sabóia correu para a janela.
Rolos de fumaça preta se levantavam da Favela Dom Hélder Câmara.
–Sem os barracos, vai depressa. Maravilha, Ronaldo.
Não só preces sobem aos céus de uma metrópole.

OS OLHOS DA FÉ

Samba. Mulatas. Futebol.
Muitos estrangeiros adoram o Brasil.
O americano Norton era um deles.
Só que mulatas não são tudo na vida nacional.
–O pááp. Siráh quil vai séhr brwasilééhr?
Ele estava na torcida pelo novo papa.
No Hotel Gran Belmont, ele ligou a TV a cabo.
Muita animação.
–Vai dar Brasil na cabeça, minha geeente…
–Ligál. O neicionaliizm du pouv.
–Brasil favorito!
Mas as notícias não vinham de Roma.
Era o Galvão Bueno antecipando um campeonato de vôlei.
Norton mudou de canal. Um senhor usando crucifixo apareceu.
Roupas pretas. Ar iluminado.
–O demônio será venciiidooo…
–Aah, dév seyr o dón Odyil.
Era o Zé do Caixão.
Norton continua confiante no Brasil.
O futuro é como um conclave.
Mesmo com fé, ninguém enxerga direito.

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