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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

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A "boca enorme" de Roberto Jefferson

Por Marcelo Coelho
13/08/12 16:14

O Ministério Público, diz o advogado de Jefferson, “pede mandado de prisão para a galera”. “O povo quer sangue”, prossegue, mas “sangue não lhe poderá ser oferecido sem base na prova. O MP quer jogar o povo contra o STF –porque não fez o seu trabalho.
Esta ação penal é açodada. Diz que a origem desses recursos de Roberto Jefferson não foi identificada. “Alerto a imprensa: se este tribunal concluir que a prova não permite condenações, digam ao povo que isso foi coisa do procurador geral da república, que não fez o que devia.” Isso para não falar do caso Demóstenes-Cachoeira, o procurador geral ficou três anos sentado em cima disso. A moral da república reclama contra o presidente Lula, que se portou não como um pateta, mas como um omisso que traiu a confiança do povo. Porque denunciaram Roberto Jefferson, que seria a melhor testemunha da acusação? Para silenciá-lo. “Foi acusado só para não abrir a sua boca enorme.”

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Por Marcelo Coelho
13/08/12 16:06

Ao ouvir Roberto Jefferson, reclamando da existência do mensalão, Lula tinha ficado chocado e lacrimejado. Que providências ele tomou ao saber da denúncia? O advogado de Jefferson afirma que durante o processo pediu a Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, uma certidão que apontasse as providências tomadas por Lula diante dessa denúncia. Dilma disse que não encontrou nenhuma providência.
Esta ação penal, diz o advogado, vai gerar um festival de absolvições. Pois o mandante, Lula, está fora do processo. Não se imputou o mandante, como farei agora.
Esta ação penal, diz o advogado, vai gerar um festival de absolvições. Pois o mandante, Lula, está fora do processo. Não se imputou o mandante, como farei agora, diz o advogado de Jefferson.

Dirigentes do BMG pediram audiência com Lula. Lula emitiu medida provisória dias depois, permitindo a bancos em geral a entrar no mercado de crédito consignado. Um advogado interpretou, todavia, que só podem oferecer crédito consignado os bancos que já operavam nessa área. Lula emite um decreto –ação unipessoal, portanto. Graças a isso, o BMG entra no mercado. E em seguida o PT obtém empréstimos do BMG e do Banco Rural. É evidente o entrelaçamento entre esses fatos.
Um procurador da república em Porto Alegre, há mais de um ano, requereu que se inclua Lula na AP 470. O procurador geral não fez isso. Ora, a lei exige que o procurador-geral, num caso desses, escolha entre três opções: ou pede diligências, ou denuncia, ou pede arquivamento. No prazo de 15 dias.
Mas a caixa preta da Procuradoria Geral da República engavetou o processo.

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Roberto Jefferson se defende atirando

Por Marcelo Coelho
13/08/12 15:52

Luís Francisco Corrêa Barbosa, advogado de Roberto Jefferson, bagunçou o coreto até agora cuidadosamente orquestrado do julgamento do mensalão.
Diz que o Supremo recebeu a denúncia mas deixou de fora o presidente da República.
O Ministério Público sustenta a tese do “domínio do fato” para acusar José Dirceu. Diz que entre as quatro paredes do palácio do Planalto estavam sendo celebradas “tenebrosas transações”.
Mas o Ministério Público não pode sustentar que o presidente fosse um pateta, um deficiente. Ao contrário, diz o advogado, o presidente era “safo”, e é mesmo, doutor honoris causa em universidades brasileiras e fora do país.
É “safo”, e sabia, ordenou o desencadeamento do mensalão. Sim, ordenou. Os ministros eram apenas executivos dele. O MP recebe a denúncia contra os auxiliares, mas deixa de fora o patrão. Por que o procurador geral fez isso?

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Mensalão: a defesa do Bispo Rodrigues

Por Marcelo Coelho
13/08/12 14:50

Continuo vendo as sessões de julgamento do mensalão. Bruno Mascarenhas Braga é quem faz a defesa do Bispo Rodrigues.
Avisa que ele não é mais conhecido por “Bispo Rodrigues”, não tendo mais atividade parlamentar nem religiosa.
Novamente, a defesa argumenta não houve compra de votos, e nenhum “ato de ofício” que caracterizasse corrupção. Carlos Rodrigues, em 2002, primeiro turno, apoiou Anthony Garotinho como candidato. Após o fim do primeiro turno foi convencido pela bancada do PL a apoiar Lula. Mesmo após o apoio, o presidente do PT regional não ofereceu ajuda financeira para o PL do Rio. Rodrigues disse que não tinha condições para arcar com as despesas de campanha no segundo turno. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, disse que Rodrigues poderia arcar com os gastos, porque o dinheiro seria acertado depois com o PT.
Carlos Rodrigues mobilizou os 92 presidentes (municipais?) do PL no Rio, solicitando que todos apoiassem Lula. Efetuou diversas despesas de campanha, caminhão de som, santinhos etc.
Após a vitória de Lula, Carlos Rodrigues voltou a procurar Valdemar da Costa Neto para que ele solucionasse as questões financeiras pendentes. Valdemar da Costa Neto disse que naquele momento não tinha dinheiro. Em dezembro de 2003, recebeu bilhete de Costa Neto para buscar os 150 mil em espécie num endereço indicado. Combinou então que o motorista se dirigisse ao local indicado, sem nem saber que era o banco Rural. Com esse dinheiro, Carlos Rodrigues pode pagar as dívidas contraídas no segundo turno de 2002. Cabos eleitorais da campanha eram pessoas humildes, que nem tem conta em banco, razão pela qual foram pagos em dinheiro.
O advogado cita líderes comunitários que confirmam ter recebido o dinheiro apenas um ano depois da campanha, e que foram até ameaçados de morte por não estarem pagando as dívidas. “Procurei o candidato, mas quando acaba a eleição todo mundo some.”
Não houve nenhuma votação relevante em dezembro de 2003, época em que Carlos Rodrigues recebeu os 150 mil. A reforma tributária foi em 24 de setembro. A lei de falências foi em 15 de outubro de 2003. A PEC paralela foi em 17 de dezembro de 2003, sim, porém essa data, mencionada pelo procurador em sua sustentação, foi a da votação em segundo turno no senado. Na Câmara foi em 8 de julho de 2004, em primeiro turno, e em 2005, no segundo turno. Reforma da Previdência, 11 de dezembro de 2003: foi a da votação em segundo turno no Senado. A matéria já tinha sido votada na Câmara, em agosto de 2003. Por que falar nas votações do senado, quando todos os acusados são deputados federais?
O partido Liberal era governo, tinha compromisso político com o governo Lula. É claro que o PL tinha de votar favoravelmente aos interesses do governo Lula.

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Passado e presente do Rio de Janeiro

Por Marcelo Coelho
12/08/12 18:05

Géza Heller (1902-1992) nasceu na Hungria, onde estudou arquitetura. Veio para o Brasil e foi discípulo de Guignard. Seus desenhos do Rio de Janeiro estão em exposição no Parque das Ruínas, em Santa Teresa (rua Murtinho Nobre, 169), até 7 de outubro.
Na mostra, as imagens do Rio feitas por Heller são contrapostas a fotografias de Hermano Taruma, mostrando como é a vista hoje em dia.

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O PL e o mensalão

Por Marcelo Coelho
10/08/12 18:47

Continuo seguindo o julgamento do mensalão. Foi a vez de Marcelo Bessa, advogado de Valdemar da Costa Neto. Ele começou com uma discussão doutrinária, sobre a necessidade ou não de se especificar o “ato de ofício” numa acusação de corrupção.
“Ato de ofício” significa a ação efetivamente feita pelo deputado, ministro, presidente ou funcionário público, em troca de dinheiro.
A discussão é importante, porque a falta de definição desse “ato de ofício” foi o que determinou a absolvição de Fernando Collor de Mello no STF.
Mas a discussão nem vem ao caso agora, diz o advogado de Valdemar da Costa Neto. Presidente do PL na época, Costa Neto fez um acordo político com o PT: foi assim que José de Alencar, empresário do partido, tornou-se candidato a vice na chapa de Lula em 2002.
Como se sabe, PT e PL não comungam necessariamente da mesma ideologia. No âmbito estadual a aliança entre os partidos era muito complicada.
Ora, o TSE estabeleceu, para as eleições daquele ano, o princípio da verticalização: as coligações para a candidatura presidencal teriam de valer nos Estados. Isso dificultou a coligação, inviabilizando a candidatura de vários deputados do PL, que só poderiam se aliar a petistas e pecedobistas.
Foi assim que se fez a famosa reunião no apartamento do deputado Paulo Rocha, do PT, da qual participaram Lula, José de Alencar, José Dirceu, Delúbio e Costa Neto.
É José de Alencar quem conta, no programa Roda Viva: decidiu-se por um partilhamento do caixa. Os recursos eram de R$ 40 milhões, conforme previsões mandadas para a Justiça Eleitoral. Na proporção pela bancada dos deputados, o PL ficou com 10 milhões.
A Folha, prossegue o advogado, até noticiou a reunião, um dia depois.
A campanha acabou recolhendo mais do que isso, mas nada desse valor foi repassado para o PL, conta o advogado Marcelo Bessa. Como receber esse dinheiro?
A alternativa proposta pelo PT foi a de que o PL deveria tomar um empréstimo, e que o PT compensaria depois. O doleiro Lúcio Funaro, sob acordo de delação, conta que emprestou valores ao PL em agosto e setembro de 2002. Cinco milhões, diz o PL. Três milhões, diz ele, diminuindo os recursos por sofrer processo na Receita Federal.
O acordo e os pagamentos, argumenta a defesa, aconteceriam fosse Valdemar da Costa Neto deputado federal ou não. Ele estava recebendo o dinheiro como presidente de partido, não como deputado. Portanto, não pode ser acusado de corrupção passiva.
Tudo seria diferente se Valdemar tivesse, depois da eleição, feito um acordo para apoiar o governo. Mas tudo teve como causa, segundo a própria denúncia, um acordo eleitoral feito em 2002. O advogado triunfa.
Posso entretanto pensar o seguinte. O PT estava enrolando o PL, sem cumprir o acordo dos 10 milhões. E pode ter decidido: só começaria a pagar o combinado se o PL votasse com o governo.
É aliás o que eu faria, se tivesse feito algum acordo com o PL.
Sim. Acontece, diz o advogado, que o PL votava com o governo do mesmo modo, recebendo ou não suas parcelas. E mais: votou com o governo assim como também o PSDB votou com o governo!
Volta-se aqui à questão da correspondência entre votações e recebimentos. É dos assuntos em que faz falta, se não uma perícia, um levantamento imparcial.

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Acompanhando o mensalão

Por Marcelo Coelho
10/08/12 15:33

Assisto a quase tudo do julgamento no STF, para a coluna que tento escrever diariamente na “Folha” sobre o assunto.
O que não aproveito do que anoto, quem sabe dá para ir colocando aqui no blog.
Resumo a sustentação oral de Guilherme Nostri, advogado de Breno Fischberg, da Corretora Bônus Banval, no julgamento do mensalão.

Fischberg, na maior parte das alegações, é acusado apenas por ser sócio da corretora. Uma frase apenas da denúncia se volta contra ele.

Após contato com José Janene, Marcos Valério repassou-lhe a propina determinada pelo PT, valendo-se de modo profissional dos serviços da Bônus Banval, da qual era diretor Breno Fischberg. A frase da denúncia está alicerçada em nota de rodapé: “vide, entre outros, os depoimentos de MV, especialmente o que diz que os interlocutores do declarante junto à Banval era Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg.”

Nenhum outro elemento contra Breno Fischberg existe nos autos, exceto depoimento de Marcos Valério dizendo que Breno era seu interlocutor. Nenhum outro documento: depósito, email, conversa, recibo…

Essa menção a Breno Fischberg levou o Ministério Público a acreditar que ele tinha participação nos fatos. A menção é inverídica. O próprio Marcos Valério desmentiu isso depois: não conhece Breno Fischberg, tendo-o visto numa única oportunidade na corretora. A frase se coaduna com o resto dos autos, onde não há mais menção a Fischberg.

Depois, o Ministério Público acrescentou novos elementos: Breno Fischberg e Enivaldo Quadrado participaram, na medida em que funcionários da BBanval sacaram dinheiro para o esquema. Há aqui um erro lógico: continuamos supondo responsabilidade do sócio pelos atos de um empregado.

E um erro de percepção: não se prestou atenção no teor do depoimento desses funcionários! Erro compreensível, dado o gigantesco tamanho do processo. Os funcionários, em seus depoimentos, não fazem uma única menção a Breno Fischberg. Pelo contrário, quem mandou não foi Breno: isso está em seis páginas de depoimentos, apenas em seis páginas, cuja leitura precisa ser feita pelos ministros do STF.

Lavagem de dinheiro? Como poderia Fischberg, sem vínculo com partidos ou Marcos Valério, desconfiar que os recursos fariam parte de um esquema de compra de votos? Não se diz se houve ou não mensalão, isso não interessa no caso. Como sócio de uma corretora de valores, ele tem responsabilidades inerentes a seu cargo, mas nada a ver com o “crime antecedente”, isto é, irregularidades anteriores que levariam depois à atividade de lavagem de dinheiro.

O Ministério Público fala em “organização criminosa” como o “crime antecedente” da lavagem de dinheiro. Mas isso não existe no direito penal brasileiro. Como seria possível a Fischberg ter consciência da origem do dinheiro que, fiscalizado por todos os órgãos, sem irregularidade, que chegou à corretora?

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Voltaire de Souza

Por Marcelo Coelho
10/08/12 14:02

Algumas crônicas do jornal “Agora”.

FALTA UM

Expectativa. Dúvida. Tensão.
O julgamento dos mensaleiros se aproxima.
No bar, Rogério era o mais exaltado.
–Uma corja. Uns bandidos.
Rogério tomou mais um gole.
–E quer saber de uma coisa?
Pôs o copo na mesa.
–Não vão pegar o chefe da quadrilha.
Ele se levantou da cadeira de metal.
–Cadê o chefe da quadrilha? Hein?
Foi até o banheiro com passos inseguros.
Pela porta da frente, começou o arrastão.
O bando do Lilico agia organizadamente.
Rogério voltou do banheiro com a pergunta que não quer calar.
–Cadê o chefe da quadrilha? Hein?
Lilico apresentou-se com educação.
Rogério ignorou o assaltante.
–Só tem pé de chinelo.
Calou-se quando a bala de Lilico atravessou sua garganta.
Na lei e no crime, é melhor se contentar com o que se tem.

CAEM AS SOMBRAS

Acusações. Dúvidas. Argumentos.
É o mensalão.
Elpídio era um velho militante de esquerda.
–Nunca acreditei nessa justiça burguesa.
A tarde caía mansa dos lados de Santa Cecília.
Ele acompanhava pela TV.
–Vamos lá.
Os advogados faziam o seu trabalho.
–Farsa. O mensalão foi uma farsa.
Foi quando o televisor de Elpídio começou a piscar.
–Opa. O que é isso?
–Não há nenhuma evidên… crrakh…
A telinha apagou.
Elpídio saltou do sofá. O copo de conhaque caiu no chão.
–Censura. É censura, caramba.
As sombras do regime militar caíram sobre a saleta.
Na raiva, Elpídio chutou o velho Colorado RQ de trinta polegadas.
Uma válvula entrou no lugar. A telinha voltou ao normal.
A democracia, por vezes, é como um velho televisor.
Funciona no tranco.

O PILOTO NÃO VIU

Miami. Orlando. Cancún.
O turismo cresce.
Dayane e Alcides viviam um grande amor.
A lua de mel ia ser na Disney.
–Você é a minha princesa…
–Huhuh… e você é um pateta, Alcides.
No aeroporto, a preocupação.
–Leu a notícia?
–Qual?
–Os pilotos brasileiros. Não sabem inglês.
De fato. Certificados fajutos cruzam os céus do Brasil.
No avião, o aperto da classe turística favorecia o amor.
O aviso do comandante não era claro.
–Hã… fasts cilds belts.
Dayane queria entender.
–Belt não é cinto?
–Isso, Dayane. Alcilds belts.
A moça desapertou o cinto de Alcides.
A fuselagem portentosa entrou em forte turbulência.
Mas logo o avião decolou rapidinho rumo às nuvens do prazer.
O inglês nem sempre se entende.
Mas é universal a linguagem do amor.

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"Valente"

Por Marcelo Coelho
09/08/12 19:43

Não só uma boa história, sem encompridamentos inúteis, “Valente”
é um desenho animado que também pode oferecer bons instantes de tensão real (um combate entre ursos impressiona bastante) e, naturalmente, humor simpático (os três pretendentes da princesa, cada um pior do que o outro).
A protagonista é uma mocinha que, contra a vontade, tem de se comportar como dama e preparar-se para o casamento. Sua verdadeira vocação é caçar com arco e flecha e cavalgar pelas belas montanhas de sua Escócia natal.
Para as crianças que assistem ao desenho da Pixar, estamos em território mais ou menos conhecido, e até mesmo um pouco semelhante à velha história de Chapeuzinho Vermelho. Quem desobedece às recomendações maternas e inventa de se perder na floresta pode se dar muito mal.
De fato, o defeito dessa aventura está na atitude da menininha, pedindo à bruxa que enfeitice a própria mãe. Talvez, no folclore ou nos contos tradicionais, esse tipo de impulsividade malvada fizesse sentido –mas nem a mais selvagem criança de hoje cairia nessa tentação.
Ainda mais porque o roteiro poderia caprichar mais num diálogo entre a menina e a bruxa, de modo a fazer, por exemplo, que seu pedido fosse efeito de um mal-entendido, em vez de formular-se em termos tão imprudentes.
Seja como for, para um adulto a história tem conotações diversas, e imagino que conscientemente planejadas pelos roteiristas.
A mãe da menina se transforma numa ursa. A menina recua de horror diante do que ela própria desejou. Aos poucos, percebe que a mãe ainda se comporta como mãe, tenta comunicar-se, pensa ser ainda humana.
Acontece que isso não dura muito. A mãe vai “desaprendendo” a ser humana; tem acessos cada vez mais frequentes de selvageria. Já não consegue andar exceto sobre as quatro patas; não sabe mais usar o garfo e a faca. A menina passa a cuidar da mãe.
Sem dúvida, a qualquer adulto que estiver assistindo o filme, a experiência de ter algum familiar com mal de Alzheimer não parecerá muito diferente dessa situação. Ao contrário do que acontece no filme, o final dessa história nunca é feliz.

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Doze homens e uma sentença

Por Marcelo Coelho
07/08/12 18:57

Se fossem onze, poderia ser o mensalão. Felizmente não é. Trata-se de uma boa peça em cartaz no Tucarena.

Ainda sobre o título, agora que ando escrevendo minhas rabulices na “Folha”, observo um erro.

Não devia ser “Doze homens e uma sentença”. Sentença quem dá é o juiz. Dez anos de prisão, cadeira elétrica etc. O que os jurados pronunciam é o veredito.

Pois bem, são doze jurados no palco do Tucarena, discutindo um caso que parece óbvio: o rapaz pegou a faca, matou o pai com um golpe no peito, o vizinho ouviu a ameaça, viu o rapaz sair correndo pela escada, e além disso a mulher que morava em frente presenciou o crime pela janela.

Todos estão de acordo: o garoto (16 anos) merece a cadeira elétrica. Todos os jurados, menos um. Ele insiste no que diz a lei. Só condenar se a culpa do réu estiver estabelecida, acima de qualquer dúvida razoável.
Os detalhes do crime são esmiuçados, com os problemas narrativos que exige a transposição de uma situação real para o tempo teatral de uma hora e meia.
Não aproveita muito a peça (nem o filme com o mesmo argumento) quem se fixa no aspecto policial da história.
O que faz de “Doze Homens e uma Sentença” um bom programa é a teatralidade da coisa. A começar, pelo desafio de caracterizar, em pouco tempo, doze personagens diferentes, a partir de uma única pergunta: o réu é culpado ou inocente?
As brigas, os rompantes, as piadas, a seriedade de uns e a frivolidade de outros, encontraram atores ótimos nessa montagem de Eduardo Tolentino de Araújo.
Minha preferência é para Riba Carlovich, o ator careca, grande como um armário, fascistão como poucos, capaz de intimidar qualquer um –menos o “chato” que insiste na inocência do réu.

A plateia adora, o que é bom sinal. Nos tempos da peça, que deviam ser mais progressistas que os de hoje, era minoria o fascistão que quer condenar o menino porque ele não tem remédio, nasceu assim, é pilantra mesmo e mente o tempo todo.

Na peça, quando esse jurado destampa seu preconceito, todos os demais se afastam dele. Hoje em dia, a tendência geral seria já começar com o preconceito, como se fosse coisa normal, e não um desabafo dramático, em desespero de causa, de um personagem específico.

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