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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Maria Miss

Por Marcelo Coelho
07/08/12 01:26

“Esses Lopes” é uma história curtíssima de Guimarães Rosa, publicada em “Tutameia”.

Dessa pequena narrativa de vingança feminina, em que uma moça é seguidamente maltratada por vários membros de uma mesma família, fez-se uma ótima adaptação teatral. Está em cartaz às terças e quartas, no Teatro Eva Herz.

É “Maria Miss”, com Tania Castello, Daniel Alvim e Cacá Amaral. Os dois atores encarnam diversos membros da família Lopes, sempre estúpidos e adeptos do estupro doméstico.
Tania Castello é a vítima, e quem narra os acontecimentos.

Não vale contar o que acontece, mas basta dizer que a protagonista apresenta uma multiplicidade de atitudes possíveis, do encabulamento à ousadia mais espevitada.
Os três atores mostram o pleno prazer de estar no palco, e principalmente, de estar no palco com uma ótima direção. O texto de Guimarães Rosa, sempre literário demais para surgir “naturalmente” numa encenação teatral, nasce espontâneo a cada frase, com todo o humor e a estranheza de que é capaz.

A diretora da peça, Yara Novaes, aproveita cada sugestão do texto para criar uma verdadeira coreografia entre os atores, que na primeira cena –com os homens imitando cavalos—parece um tanto forçada; logo em seguida, entretanto, a ideia ganha o público.

Sai-se desta peça curta com um sorriso nos lábios e, sobretudo, com uma sensação rara no teatro: a de que não haveria nada a mudar, nada a corrigir, nada a acrescentar numa encenação precisa como um relógio, e inspirada como um improviso.

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Fachadas do abandono

Por Marcelo Coelho
04/08/12 19:00

Vai até dia 15 de agosto, no Sesi Ipiranga, a mostra de fotografias de Antonio Ramirez Lopez, mostrando casarões abandonados em São Paulo.

Seria preciso fazer um levantamento completo desses lugares; às vezes nem são tão grandes nem tão históricos, mas têm um encanto próprio. Havia duas casas assim, até que de médio tamanho, em frente de onde eu morava –a graça estava nas duas torrinhas que serviram, em tempos idos, de mirante para o Pacaembu. Já foram demolidas, é claro.

As fotos abaixo, de Ramirez Lopes, exploram o potencial dramático do branco e preto, em ângulos que as protegem do seu entorno já modernizado.

Nos Estados Unidos, onde a própria urbanização muitas vezes favorece o isolamento (aquelas casas de subúrbio, sem muros e com jardim em volta), casas abandonadas podem parecer ainda mais abandonadas, como na série de fotos de Kevin Bauman, neste site.

Kevin Bauman, uma de suas 100 casas abandonadas

SESI Ipiranga – Rua Bom Pastor, 654, Ipiranga

Datas e horários: de 1º a 15 de agosto – segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, exceto feriado.
Informações: (11) 2065-0184

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Vergonhas com Gore Vidal

Por Marcelo Coelho
03/08/12 21:10

Ruy Castro e Barbara Gancia narram, na “Folha” desta sexta-feira, episódios da visita de Gore Vidal ao Brasil. Nos dois casos, compatriotas nossos dão motivo de vergonha.
O mais leve é o contado por Ruy Castro: numa visita a Unicamp, mostram ao célebre escritor as “obras de arte” penduradas nas paredes da reitoria. Não passavam de reproduções recortadas de fascículos da Abril.
Barbara Gancia, por sua vez, conta que a brasileirada grã-fina, numa festa, divertia-se e conversava em português, enquanto Gore Vidal foi deixado sozinho numa sala, sentado numa poltrona.
Verdade que, pelo me lembro, Gore Vidal ficou tempo demais no Brasil. Pessoas que o ciceroneavam na “Folha” já não estavam mais aguentando carregar o homem de um lado para outro, e chegaram-no a apelidar de “Bore Vidal” –chato Vidal.
Injustiças, dada a exaustão dos materiais, diante de uma personalidade obviamente interessante e de uma inteligência das mais ferinas.
Mas talvez a maior vergonha, como brasileiro, que senti com relação a Gore Vidal foi numa entrevista que fizeram com ele para a TV Bandeirantes.
Como até eu sabia, Gore Vidal passava o tempo inteiro criticando Ronald Reagan –e, no artigo de Ruy Castro, há uma boa piadinha que Vidal gostava de repetir contra o presidente americano.
Na entrevista na televisão, Gore Vidal ia começar sua saraivada anti-Reagan. Disse que, de certa forma, considerava-se responsável por incentivar a carreira política do ator hollywoodiano.
Explicou que, a propósito de um filme de Reagan, criticara tão violentamente seu desempenho. Qualquer um, depois de ter lido aquela crítica, teria desistido de continuar como ator, então…
Gore Vidal ia continuar quando foi interrompido nervosamente pelo entrevistador, que falava inglês.
“O senhor votou em Reagan nas últimas eleições?”
Vidal nem piscou.
“Não, não”.
Depois disso, acho que nunca mais deve ter voltado ao Brasil.
O entrevistador era João Dória Jr, que podia ter deixado Gore Vidal contar apenas a sua história, sem perguntas.

Gore Vidal, por Carl van Vechten (wiki)

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Peppino di Toffoli

Por Marcelo Coelho
03/08/12 12:20

Quem torcia pela suspeição do ministro Toffoli, no julgamento do mensalão, certamente se surpreendeu nesta quinta-feira. Ele se alinhou com a tese dos acusadores, recusando o pedido do advogado Márcio Thomaz Bastos de que parte do processo fosse levado à primeira instância.
É só uma impressão, mas com isso Toffoli parece ter procurado “vacinar-se” contra as alegações de ser suspeito para julgar. A tendência do plenário era mesmo impedir a manobra de Thomaz Bastos. Não valia a pena para Toffoli se queimar nessa questão.
Em matéria de se julgar suspeito, Toffoli não tinha comportamento capaz de inspirar grandes expectativas.
Em junho de 2011, ele viajou para a ilha de Capri, convidado para o casamento de um advogado, Roberto Podval. A festa foi abrilhantada por Peppino di Capri Não esclareceu se foi com o próprio dinheiro, ou se, a exemplo de outros convidados, teve suas despesas pagas pelo anfitrião. Toffoli era relator de dois processos que tinham, como advogado, o  noivo.
Talvez não fosse o caso de declarar suspeição nesses processos. Mas era o caso de não ir ao casamento em Capri.
Nesta quinta-feira, saiu a notícia de que, em 2006, Toffoli manifestava-se oficialmente no sentido de rejeitar as acusações do mensalão. “Acusações que jamais ficaram comprovadas”, disse ele, representando como advogado a campanha de Lula junto ao TSE.
Toffoli foi assessor de José Dirceu no Gabinete Civil entre 2003 e 2005.
Toffoli é namorado de uma das advogadas dos réus.
Não se considera suspeito para julgar o caso.
“Viram como sou isento? Até votei contra o desmembramento!”, poderá dizer se lhe perguntarem agora.
Só espero que não faça a festa de casamento em Capri. Fico pensando na lista dos convidados.
Mas, repito, isso é só impressão. Um ministro do Supremo sempre pode surpreender.

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Mensalão: a compra de votos

Por Marcelo Coelho
02/08/12 10:47

No julgamento do mensalão, a defesa acentua a tese do “caixa 2”: sobras do dinheiro de campanha, não declaradas, foram repassadas a deputados da base.
Nunca houve “mensalão”, argumenta-se. O que significa duas coisas: uma, o pagamento não era mensal. Outra, que os deputados não recebiam dinheiro para votar contra o governo. “Já eram da base governista, por que precisariam ser pagos?”
Vale a pena reler uma reportagem de Marcelo Salinas, publicada no dia 7 de agosto de 2005 na Folha.
Os meses em que houve maior volume de retiradas de dinheiro do mensalão coincidem com os meses das votações mais importantes para o governo no Congresso.
Foram ao todo 22 meses, de janeiro de 2003 a outubro de 2004 (a primeira reportagem sobre o mensalão foi em setembro desse ano).
O mês em que houve maior retirada (R$ 3,8 milhões) foi setembro de 2003 –quando foi aprovada a reforma tributária na Câmara.
“No dia da primeira votação, João Claudio Genu, assessor do líder do PP na Câmara, José Janene, começou uma série de saques que totalizaram R$ 1 milhão em 28 dias. De 49 pepistas, só três votaram contra a reforma.”
A reportagem continua: “O deputado José Borba (PMDB-PR), então vice-líder do partido na Câmara, sacou R$ 500 mil em duas parcelas: um dia antes da votação no primeiro turno e um dia depois da aprovação em segundo turno, no dia 25”.
Não, não foi mensalão. Dar parcelas fixas por mês talvez fosse ter confiança demais num deputado como José Borba.
Isso, com relação ao PMDB. “Pelo PTB, houve saques um dia depois da votação de cada turno. Jairo dos Santos, ligado ao então presidente do PTB, José Carlos Martinez, morto em outubro de 2003, sacou R$ 200 mil no dia 18, R$ 100 mil no dia 25 e R$ 300 mil no dia 29: total de R$ 600 mil”.
Assinantes do UOL podem ler aqui a íntegra da reportagem.

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"Fausto", de Sokurov

Por Marcelo Coelho
25/07/12 12:40

“Acabar!” Que ideia mais ridícula, resmunga o demônio, no final de “Fausto”, filme excelente e desafiador de Alexander Sokurov. Mefistófeles acaba de ser enterrado debaixo de um montão de pedras, por um Fausto triunfante –na plena confiança de suas capacidades para a descoberta científica.
Encerrando sua tetralogia de filmes sobre tiranos –Hitler, Stalin e Hiroíto foram os temas de “Moloch”, “Taurus” e “O Sol”–, Sokurov parece dizer que, por mais vitorioso que se sinta o espírito iluminista do Ocidente, o mal sempre está pronto a retornar.
O fato de ser carregado de alegorias não tira as qualidades do filme. Algumas cenas têm, é verdade, o clássico defeito estético do gênero alegórico: não existem por conta própria, nem se explicam por si mesmas; só fazem sentido se atinarmos com sua “tradução” conceitual.
Assim, a uma certa altura Fausto e Mefistófeles pegam carona numa carruagem, que transporta um nobre russo para Paris. O russo está dormindo, mas quando acorda expulsa, aos gritos, a dupla de lá de dentro. Não há motivo para esse episódio, exceto o de que, muito provavelmente, representa a velha Rússia, tradicional e mística, livrando-se das tentações do espírito ocidental. O sono do aristocrata corresponderia, assim, ao período soviético –quando as tentações de domínio racional sobre o mundo trouxeram consigo todas as consequências de um pacto com o diabo.
Mas o filme se sustenta admiravelmente sem esses episódios –e sem essas interpretações. A história de Goethe é adaptada com muita liberdade, e ganha mais plausibilidade psicológica aos olhos do espectador cinematográfico de hoje.
Fausto não assina tão depressa o seu pacto de sangue com Mefistófeles. O processo de sua sedução é bem mais longo, e tem uma característica maravilhosamente contemporânea. Ninguém, hoje em dia, se entrega ao diabo num único e consciente ato de vontade: as pessoas se corrompem aos poucos, e os males que vão fazendo se tornam objeto imediato de racionalizações.
O Fausto de Sokurov não mata voluntariamente o irmão de Margarida. Foram as circunstâncias, numa cena muito bem filmada na sua confusão; foi o próprio Mefistófeles; foi o tumulto na taverna… não sabemos direito, e nem mesmo está tão certo que o assassinado fosse mesmo irmão de Margarida. A moça, por sua vez, não é tão inocente assim: o pecado da sedução, modernamente, tem mais de um só responsável.
Outra diferença importante entre o filme e a peça de Goethe é que o Fausto de Sokurov não é só uma nobre alma sequiosa de vida e conhecimento. Está sofrendo da maior penúria material possível; para matar a fome, come até alguns órgãos do cadáver que disseca.
Cenas nojentas, mas não muitas, contrabalançam a grande beleza visual do filme: quadros de Brueghel e dos românticos alemães se reconstituem a todo momento, dentro do gosto de Sokurov pelos tons de verde, pela luz aquosa, que já aparecia em “Moloch”.
Tive preguiça de encarar o filme, com mais de duas horas de projeção. Mas não me arrependi nem me chateei. Ao contrário, dentro do seu espírito filosófico, alegórico, expressionista, o roteiro é muito movimentado, os diálogos entre Fausto e Mefistófeles (nos quais de vez em quando aparece uma citação de Goethe) são sempre vivos e interessantes. As legendas cochilam um bocado no começo –falas longas se reduzem a poucas palavras. Não é um filme que se recomende a todo mundo, mas saí entusiasmado do cinema.

Margarida, após o enterro do irmão, com Fausto (do site oficial)

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Para Roma ,com Amor

Por Marcelo Coelho
24/07/12 18:29

No final de “Para Roma, com Amor”, um personagem declara que seremos descontentes de qualquer jeito: se ricos e famosos, ou se pobres e anônimos. Mas, acrescenta, entre os dois, é melhor ser rico e famoso.
A frase fica valendo mais ou menos como uma moral da história; nada parece contestar, na prática, o que foi dito. Ao mesmo tempo, desperta uma inconformidade no espectador. “Não, não pode ser assim”; acabamos de ver, em várias cenas onde a influência de Fellini é bem marcante, a futilidade, o absurdo e o desconforto que há nas perseguições dos “paparazzi” e dos repórteres de televisão.
Haveria algo mais a ser procurado na vida, afinal de contas. Mas, sem dúvida, não o amor. Mais uma vez, os personagens de Woody Allen se mostram incapazes de resistir às tentações do instante, e se descobrem apaixonados de uma hora para outra, mesmo quando tinham certeza de que não se deixariam cair nessa esparrela.
A maneira como se dão esses encantamentos –a pessoa sabendo que não deveria fazer o que vai fazer de qualquer maneira—é uma das coisas mais bonitas do filme.
Liga-se a outra característica que Woody Allen vai dominando como ninguém: o poder de tornar elástico o tempo da narrativa. Determinado personagem se mete numa aventura que teria de durar várias horas, ou vários dias; só que, quando a aventura se desfaz, vemos que teriam se passado no máximo uma ou duas horas.
Essa mistura entre o sonho e o real está na base de muitos filmes de Fellini, e Woody Allen se refere a vários deles –a visita do jovem provinciano à capital, em “Roma”; os “paparazzi” de “Oito e Meio”; a oportunidade de entrar no mundo do cinema, em “A Entrevista”: e as chuvas artificiais, o microfone que aparece no quadro da filmagem, em tantas cenas semelhantes do autor de “Casanova”. São referências a Fellini bem mais felizes do que as que Woody Allen tentara fazer em “Celebridades”, um de seus piores filmes a meu ver.
Mas a irrealidade felliniana das situações e dos cenários ganha, em “Para Roma com Amor”, esse outro componente, o do tempo; eis os amores (e as celebridades) evanescentes na cidade eterna, fotografada aliás lindamente nesse filme.

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a mentalidade conservadora (5)

Por Marcelo Coelho
19/07/12 17:09

Respeito à “sabedoria dos ancestrais”; oposição aos objetivos de “uniformidade, igualitarismo e utilitarismo da maioria dos sistemas radicais”. Estes são os dois primeiros princípios do conservadorismo, segundo o livro de Russell Kirk que andei comentando aqui. Seguem-se outros quatro. Aqui vai um.

Convicção de que a sociedade civilizada requer ordens e classes, contrariamente à noção de uma “sociedade sem classes”. Com razão, os conservadores têm sido chamados de “o partido da ordem”. Se as distinções naturais são apagadas entre os homens, oligarcas preenchem esse vazio. A igualdade definitiva no julgamento divino e a igualdade perante a lei são reconhecidas pelos conservadores; mas igualdade de condição, pensam eles, significa igualdade na servidão e tédio.

Falta explicar, a meu ver, por que as diferenças de classe são qualificadas de “distinções naturais” por Russell Kirk.

Falta explicar, também, por que “oligarcas preenchem o vazio” apenas quando as tais distinções são apagadas. Numa sociedade de classes, é também comum, até demais, que o poder se concentre na mão de poucos.

Nobre concessão, da parte dos conservadores, essa de reconhecer “a igualdade definitiva no julgamento divino”. Como não há meios de zelar pela realização desse preceito, a frase soa como uma espécie de terceirização da justiça… para que se cumpra no além-túmulo.

Por último, a ideia de que a igualdade de condição traz “tédio” é das que mais voltam nas páginas de Kirk. Com certeza, países como Suíça e Dinamarca são mais “tediosos” do que o Sudão, mas não sei se os tipos de entretenimento ali vigentes são do agrado de todo mundo.

Falo sarcasticamente, mas “tédio” e “servidão” são categorias muito amplas, e abrem espaço para certa ilogicidade no argumento. Suponha-se que, numa sociedade convenientemente desigual, ao gosto de Kirk, exista de fato menos tédio. Essa ausência de tédio seria distribuída igualmente entre todos os membros da sociedade? Ou se trata de pouco tédio para alguns, e de muito tédio para a maioria dos que lavram a terra, tecem tapetes e fazem o serviço doméstico para os menos entediados?

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Partido do Chá

Por Marcelo Coelho
18/07/12 17:29

Já melhor da gripe que me impediu de escrever para a edição desta quarta-feira, comento um pouco o livro “Você Está Falando Sério?”, do crítico cultural americano Lee Siegel.
Encontro várias observações simpáticas no texto. Siegel mostra-se solidário com John Updike, que no fim da vida começou a receber pancadas de todos os lados. Motivo: escrevia demais, e os críticos já não aguentavam resenhar tantos romances dele.
Siegel também acerta ao fazer algumas reservas com relação a George Steiner: sua erudição por vezes disfarça muita banalidade pomposa.
O problema de “Você Está Falando Sério” é aquele tipo de frenesi dos livros de crítica cultural em que tudo leva a tudo, e sintomas de um mesmo fenômeno se espalham em todos os campos de referência, da última coluna de fofocas à mudança do papel do intelectual público de 1950 para cá.
Neste caso, tudo se agrava porque o livro é excessivamente focado no cenário americano. Lá, pelo que diz Lee Siegel, existe uma mania de “seriedade”, ou melhor, uma banalização do termo. Fala-se em “seriamente rico”, em “investimentos sérios”, em “um hambúrguer sério”.
O autor discute esse fenômeno. Mas será que temos alguma coisa a ver com isso? Sem contar que você precisa saber direitinho a quem Siegel se refere quando, no meio de considerações sobre Irving Kristol, fala dos “Becks, os Limbaughs e os Hannityis”. Acho que são comentaristas de extrema direita, não sei se no rádio ou na TV, dos EUA.
O público que os conhece, aqui no Brasil, certamente não precisa comprar um livro desses em tradução. Ainda mais quando topamos, por exemplo, com “o Partido do Chá”, em vez de “Tea Party”. A editora de “Falando Sério” no Brasil tem, caracteristicamente, o nome inglês de Panda Books.

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A rosa de H.D.

Por Marcelo Coelho
17/07/12 10:06

Adapto para o português (não é bem tradução) um poema de Hilda Doolittle.

ROSA DO MAR

Rosa, rosa rude,
Machucada, raras pétalas,
Magra flor, tão delgada,
Sem folhas quase,

Mais preciosa
Que uma rosa úmida
Solitária no seu caule—
Foste colhida na maré.

Encolhida, folhas poucas,
Foste jogada na areia,
Levada
Pela areia áspera
Que gira com o vento.

Pode a rosa do jardim
Guardar tão ácida fragrância,
Tão forte, dentro da folha?

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