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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

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Uma paciente de Freud

Por Marcelo Coelho
16/07/12 22:06

Tinha tudo para ser um grande livro. A escritora Hilda Doolittle, mais conhecida apenas pelas iniciais H.D., foi uma das principais figuras do movimento imagista na poesia anglo-americana; teve uma grande paixão por Ezra Pound, e alguns de seus poemas têm lugar em qualquer antologia do século 20.
H.D. foi paciente de Sigmund Freud nos anos 1933-1934, e seu relato dessa experiência, com prefácio de Elizabeth Roudinesco, sai agora no Brasil pela editora Zahar. Trechos do seu diário e da correspondência também estão incluídos em “Por Amor a Freud“.
Infelizmente, H. D. não explica nem um pouco por que razão procurou Freud, nem quais eram seus sintomas, nem o que Freud disse para ela, nem o que resultou de toda a terapia.
Fica apenas uma espécie de relato místico-esotérico, em que H.D. se estende sobre as estatuetas egípcias e gregas da coleção de Freud. Entra uma conversa sobre Hermes, Moisés, caduceus, Asclépio, serpentes, como se a poeta merecesse muito mais ser encaminhada a Jung do que a Freud.
Tudo isso se mistura a um tom de adoração reverencial ao “Professor”, de cuja sabedoria e dizeres délficos nunca temos notícia muito exata ao longo do livro.
O prefácio de Roudinesco é bem mais interessante, narrando as atitudes de Freud com relação à homossexualidade, mais tolerantes do que a de seus discípulos na época.
E também mostra o curioso ponto de encontro entre o movimento incipiente de liberação sexual desempenhado por intelectuais ingleses da época –de D.H. Lawrence a Virginia Woolf— e as descobertas de Freud. Um lado era mais “existencialista”, ou “aristocrático” e estetizante, enquanto a psicanálise ia minando a ideologia vitoriana a partir de um ponto de vista mais teórico e científico.

Hilda Doolittle, “H.D.” (1886-1961)- wikimedia

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Mil perdones

Por Marcelo Coelho
13/07/12 12:06

Desculpem a demora em responder aos comentários. Estou viajando com os filhos e a conexão tem sido mais doméstica do que internacional.

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Críticas de um conservador

Por Marcelo Coelho
13/07/12 12:04

O escritor e jornalista Ferdinand Mount está longe de ser uma pessoa de esquerda; na verdade, é membro do Partido Conservador e “baronete”, na ordem nobiliárquica inglesa.
Ele próprio, todavia, anda assustado com os índices de desigualdade social em seu país. Há dez anos, afirma no livro “The New Few”, a proporção entre a média salarial dos altos executivos e a do resto dos empregados era de 47 para 1 na Inglaterra. Atualmente, é quase o triplo: de 128 para 1.
Não existe, diz o conservador, nenhuma razão de mercado para ganhos tão elevados. O que ocorre é que a própria organização das empresas se tornou mais oligárquica, diminuindo o poder dos acionistas em benefício dos próprios executivos, que tomam naturalmente todo tipo de decisões a seu favor.
Essa oligarquização da sociedade inglesa também se reflete no decréscimo da participação política dos cidadãos. Em menos de 30 anos, a proporção das pessoas com filiação partidária caiu de 20% para 1%.
Não é simplesmente porque as pessoas “não se importam com nada”, explica Andrew Gamble na resenha do livro publicada no TLS de 22 de junho.  Segundo Ferdinand Mount, a razão é outra. Todos sabem que filiar-se e “participar” simplesmente não adianta nada quando as decisões já estão feitas em níveis superiores.
Defender menos desigualdade social certamente nunca foi bandeira conservadora –qualquer coisa tendente ao “igualitarismo” tende a ser vista como contrária à real natureza humana.
Mas em geral o pensamento conservador favorece a tomada de decisões em níveis locais, sendo contrário –novamente—a uma “igualitarização”, ou a uma ordem excessivamente homogeneizada a partir do governo central. Nesse ponto, Ferdinand Mount não se afasta da sua tradição de pensamento: defende uma revitalização dos órgãos democráticos locais, contra a concentração de poder nas mãos dos “Novos Poucos” a que se refere o título do seu livro.
Não se trata, como se vê, de um daqueles eufóricos defensores de uma situação obviamente injusta do ponto de vista social, tantas vezes legitimada com o discurso de que a esquerda é utópica, autoritária, e responsável por toda sorte de crimes contra a humanidade.

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A música de Guerra-Peixe

Por Marcelo Coelho
29/06/12 20:45

Eu era bem criança, e estava assistindo a um programa de música clássica na televisão –acho que nem a TV Cultura existia naquela época, mas pode ser que sim. O apresentador, à frente da orquestra, anunciou a presença do próprio autor da música que seria tocada. Um compositor vivo? Era a primeira vez que eu via um. Subiu ao palco o maestro César Guerra-Peixe, naquela época com seus cinquenta anos, bastante corpulento e de uma simplicidade completa.
Era uma pessoa comum! Apesar do nome, que nunca me sairia da cabeça. Guerra-Peixe. Da música apresentada não me lembro; só bem mais tarde apareceu um LP dele, com seu concertino para violino e orquestra de cordas, e várias peças para piano. Na época eu gostava bastante da música nacionalista brasileira (ainda gosto), na medida em que, apesar de moderna, tinha muito de reconhecível em termos de melodia e harmonia.
O concertino era rápido, nordestino e ríspido, com o violino imitando sons de rabeca; ouvi-o agora, depois de muito tempo, ainda com prazer.
Escrevo isso porque amanhã, às 16h, na Laseland (av. Rebouças, 2210), a pianista Guida Borghoff e a violinista Eliane Tokeshi lançam um CD com obras para violino e piano de Guerra-Peixe. Quis recordar das minhas impressões sobre o compositor, enquanto ouço sua “Sonata no. 2”, de 1978, que é a primeira peça da gravação.
Guerra-Peixe é um daqueles casos que, começando no dodecafonismo, mudaram de estética, optando por uma linguagem mais “atrasada” (isso para os cânones vigentes aí por 1950, 1960).
Violinista ele mesmo, Guerra-Peixe trabalhou como arranjador e instrumentista em emissoras de rádio, com muito contato com a música popular. Houve a fase de estudos com o professor Hans-Joachim Koellreuter, defensor rigoroso das ideias de Schoenberg.
Nos debates políticos da época, Koellreuter conheceu a oposição de Camargo Guarnieri, maior representante do nacionalismo; digo políticos porque a esquerda, em que o Partido Comunista era predominante, se inclinava pela defesa da “arte popular” (como se sinfonias e sonatas para violino e piano ficassem mais ou menos populares se adotassem ritmos de baião).
De todo modo, há peças ainda dodecafônicas no CD lançado agora. Não vejo muita graça não, porque essas coisas parece que poderiam ter sido feitas por qualquer compositor em qualquer parte do mundo. Ainda que datadas, as peças nacionalistas pelo menos representam um momento, um espírito, da história brasileira.
Nesse caso, Camargo Guarnieri tem uma capacidade de elevação, de abstração, maior que Guerra-Peixe, a meu ver. Mas o nacionalismo deste, um pouco mais tardio no tempo, traz sem dúvida alguma dose maior de agonia; há algo de “murro em ponta de faca” no uníssono misterioso com que começa a segunda sonata para violino e piano, e o final da primeira sonata (1951) não é tão alegre quanto deveria.
São impressões iniciais, apenas. Guida Borghoff, a pianista, tolerou minha total falta de talento durante seis meses, em 1977, na escola Pró-Arte. Seu bom humor era notável. Fico contente de reencontrá-la nesse CD. Eliane Tokeshi é prova de como se aperfeiçoou a arte do violino no país. Os velhos LPs de música nacionalista brasileira sofriam muito com as desafinações dos instrumentistas da velha geração. Aqui, tudo é ao mesmo tempo preciso e vigoroso.

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Deus, longe demais

Por Marcelo Coelho
20/06/12 18:43

Todo mundo conhece o movimento final da Nona Sinfonia, de Beethoven, mas as palavras de Friedrich Schiller, na “Ode à Alegria”, nem sempre são valorizadas pelo ouvinte. Pego alguns trechos do poema, na sua tradução da Wikipedia.

Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
…

Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóbada estrelada
Deve morar o Pai Amado.
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes o Criador?
Buscais além da abóbada estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar.

Esses versos, de grande otimismo, receberam outro dia um comentário muito sóbrio e inteligente.

As palavras retomadas pela Ode à Alegria, de Schiller, ressoam vazias para nós, aliás, não parecem ser verdadeiras.

Não experimentamos de modo algum as centelhas divinas do Elísio.

Não estamos inebriados de fogo mas, ao contrário, paralisados pela dor diante de tanta e incompreensível destruição, que ceifou vidas humanas, que privou muitos da própria casa e lar.

Até a hipótese de que por cima do céu estrelado deve habitar um Pai bom nos parece discutível.

O Pai bom está sozinho acima do céu estrelado? A sua bondade não chega até nós aqui em baixo?

Um prêmio para quem adivinhar o autor do comentário.

Friedrich Schiller, 1759-1805 (wikimedia)

 

 

 

 

 

 

 

O autor do comentário foi o Papa Bento XVI, num discurso no Scala de Milão, no começo deste mês. O texto é curto, e pode ser lido aqui.

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Através do vidro

Por Marcelo Coelho
19/06/12 16:37

Começa hoje a exposição/instalação de Debora Muszkat, sobre a qual tenho dado palpites e, aqui, notícias. Ela transformou o jardim de sua casa numa instalação, feita com peças de vidro reciclado.

Frascos de perfume são derretidos ou quebrados, formando um jardim que sobe, como erva, pela estrutura de uma ponte móvel, que se reflete sobre uma piscina e sobre espelhos colocados nos muros da casa. Criam-se ângulos sem fim, e o objeto industrial, sempre igual e descartável, ressurge orgânico e nunca igual a si mesmo.

Copio os dados do release.

SERVIÇO: “Através do Vidro”. De Debora Muszkat
www.deboramuszkat.com.br
Informações para a Imprensa:
Vicente Negrão Assessoria – (11) 3060.8397
Vicente Negrão – vicente@vicentenegrao.com – (11) 9203.0475
Patrícia Rabello – patirabello@uol.com.br – (11) 8196.9290
Abertura: Dia 19 de Junho a partir das 20h (para convidados)
Funcionamento: De 22 de Junho a 19 de Agosto
Endereço: Rua Dr Rui Batista Pereira 125 – Caxingui
Dia e horário de funcionamento: Sexta-feira das 17h às 24h
Sábado das 14h às 20h
Domingo das 10h às 14h
Entrada Gratuita

 

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a mentalidade conservadora (4)

Por Marcelo Coelho
14/06/12 12:17

Continuo a expor os “seis cânones do pensamento conservador”, segundo Russell Kirk, que os defende num livro de 1952, a ser lançado no Brasil.

Além do “respeito à sabedoria dos seus ancestrais”, o conservador (eis o segundo ponto da lista), manifesta

Afeição pela profusa diversidade e pelo mistério da existência humana, em oposição à estreiteza dos objetivos de uniformidade, igualitarismo e utilitarismo da maioria dos sistemas radicais; os conservadores resistem ao que Robert Graves chamou de “logicalismo” na sociedade. Esse preconceito foi chamado de “o conservadorismo do gozo”—uma sensação de que vale a pena viver a vida, de acordo com Walter Bagehot “a própria fonte de um vívido conservadorismo”.

Eis um ponto que, de 1952 para cá, mudou bastante. Poderíamos dizer que a esquerda aprendeu esse traço com os conservadores, em especial depois de 1968. A “política das identidades”, com os muitos defeitos que possui, é uma característica do pensamento de esquerda hoje. Esses fóruns mundiais, como se sabe, juntam as tribos mais diversas, dos índios aos adeptos do carro elétrico, dos budistas ao punks. Não impede, naturalmente, que a direita/ a maioria dos conservadores, ironize e esbraveje contra isso.

O “princípio do gozo”, do prazer, da vida em sua diversidade, é um avanço com relação ao puritanismo, ao ascetismo das versões igualitárias rígidas que vigoravam, digamos, entre os stalinistas ou no socialismo trabalhista inglês.

Como conciliar, de resto, essa afeição pela diversidade da existência humana com a resistência ao movimento gay? Aí ficamos entre dois princípios diferentes: o famoso “respeito pelos ancestrais” e a “afeição pela diversidade”.

Os conservadores à moda de Kirk encontram uma solução para esse dilema, como veremos depois.

manifestação do forum social em Paris (wikimedia)

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Guia de estilo para políticos

Por Marcelo Coelho
13/06/12 18:14

Fiz um pouco de ironia com o livro “Guia de Estilo para Candidatos ao Poder”, hoje na Ilustrada, mas confesso que também aprendi algumas coisas.

Além dos tipos de sapatos para diferentes ocasiões, como o barcroft e o derby (conhecimento que não pretendo aplicar), fiquei conhecendo a origem do blazer. Vem do comandante da fragata H.M.S. Blazer, que arranjou uma espécie de japona para os seus marinheiros, ao saber que a Rainha Vitória ia visitar o navio.

O livro também ajuda os políticos a se virarem com twitter e facebook. Inclui até um glossário de tuitês, para mim novidade total: BRB (be right back), fikadik (fica a dica), 9DA10 (novidades), OMG (oh, my God).

Outra que aprendi, e que deveria ter aplicado em recente participação no programa televisivo “Hora da Coruja”, é a seguinte recomendação, ao candidato entrevistado na TV: “Não se jogue na poltrona como se fosse ver o jogo de futebol em sua casa”.

Eis uma regra quase impublicável: “quanto maior for a plateia e mais baixo for o nível intelectual dos ouvintes, mais acentuados devem ser os gestos”.

A que se poderia acrescentar esta outra: quanto mais dissimulado e finório o pilantra, mais convincente será o seu estilo.

 

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voltaire de souza

Por Marcelo Coelho
12/06/12 10:21

Algumas intervenções do cronista no debate contemporâneo, publicadas no jornal “Agora”.

É PRECISO DECIDIR

Votos. Tendências. Pesquisas.
Os candidatos se movem.
Objetivo: a prefeitura de São Paulo.
Roberto estava em reunião com os assessores.
–Será que eu tenho chance?
–Bom. Você precisa ser mais conhecido.
A dúvida surgiu na alma do jovem político.
–Será que eu vou na Parada Gay?
Um assessor dizia que sim.
O outro lembrou o voto evangélico.
–E então? O que é que eu faço?
A tarde caía com suas cores pelos lados da Paulista.
Roberto ficou pensativo.
–Minha primeira comunhão… as aulas do padre Pelozzi…
A vida interiorana. Pescarias. Insetos. Bananais.
A secretária Lúcia Ignês só mais tarde notou pela falta do batom.
O candidato nega ter desfilado no evento.
O coração de todo homem é uma urna.
Esconde, por vezes, os votos mais secretos.

UM SINAL NA ESCURIDÃO

Frio. Vento. Garoa.
É o inverno paulistano.
Gianni estava preocupado.
–E a parada gay? Como é que fica?
Ele consultava as previsões do tempo.
Na gaveta, a fantasia para a ocasião.
–Vou de Robin.
Camiseta de manga curta.
–E a sunga cavadinha.
O melhor, nessas ocasiões, é cuidar da saúde.
–Mel com limão. E a vodca para esquentar.
Ligou a música bem alto.
–Também ajuda.
O vento soprava com força nos altos do Sumaré.
Já eram onze da noite quando ele apareceu na sacada do apartamento.
–E esswa chwuva gwe não pwara…
Entre as nuvens e a escuridão, ele viu um sinal.
–Batman? É você?
Quis descer até a Batcaverna.
O síndico se chamava dr. Ohara e reprovou a nudez dentro do elevador.
Conforme a hora, o melhor é ficar com a identidade secreta.

SAFIRAS E RUBIS

Pompa. Festa. Celebração.
A rainha da Inglaterra comemora 60 anos no trono.
No Brasil, as reações variam.
Dona Delmira dava um suspiro.
–Sessenta anos? Uma hora no trono já é demais.
A prisão de ventre castiga a terceira idade.
O netinho sorriu.
–Para mim você é uma princesa, vovó.
O tio do menino se preocupava.
–Como é que eu me visto na Parada Gay?
De repente, a inspiração.
–Taí. Vou de Rainha Elizabeth.
Peruca branca. Vestido clarinho.
A tiara era mais difícil.
–Dá isso aí.
Uma grande imagem de Santa Bárbara enfeitava a entrada do sobrado.
Raios caíam nos lados de Perus.
O irmão deu palpite.
–Coisa de metal… não sei não. Atrai.
A discussão foi feia.
Cada família é como uma coroa real.
Pedras diferentes se engastam no conjunto.

EM FOGO LENTO

Perigo. Medo. Insegurança.
Crescem os arrastões nos restaurantes da cidade.
Nildo e Susana mantinham o romantismo.
Jantares à luz de velas faziam parte da rotina do casal.
–Olha… abriram um bistrozinho bacana aqui perto.
–Hum, Nildo… será que vale a pena?
O bairro deles era dos mais visados pelos assaltantes.
Uma sirene ao longe.
–Bom… quem sabe a gente pede uma paella delivery.
O elaborado prato espanhol estava entre os preferidos de Nildo.
Em quarenta minutos o interfone tocou.
Nildo foi buscar na portaria.
Voltou com mais três pessoas.
E a ameaça de uma azeitona na cabeça.
O arrastão no prédio durou duas horas.
Fogo lento. Ritmo de alta culinária criminal.
Quando o serviço é em domicílio, ao menos não se paga o manobrista.

TOQUE DE RECOLHER

Silêncio. Quietude. Escuridão.
Para muitos, a noite vem trazer a paz.
Selma olhava pela janela do conjunto habitacional
–Está tudo tão parado…
O marido dela se chamava Augusto.
–Não sabe? É o toque de recolher.
Organizações criminosas impõem o medo na região.
–Como assim? E a minha bronquite?
Selma precisava com urgência de um remédio para a tosse.
Augusto não se moveu.
–Ninguém sai mais de casa.
O rapaz era prudente.
–Ah, faz então um chazinho para mim, meu bem…
Mel. Carinho. Dedicação.
O casal se beijou assim que passou a crise de tosse.
No quarto, o clima esfriou de repente.
Disfunção erétil. Tem remédio para isso.
–Mas nem dá para passar na farmácia…
Quando começa o toque de recolher, nem sempre é possível entrar na toca.

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Madagascar 3, a apoteose

Por Marcelo Coelho
05/06/12 15:27

Adorei o esquilinho azarado e neurótico de “A Era do Gelo”, quando o vi pela primeira vez. Vieram mais dois filmes da série, e para mim a graça se perdeu.
Sendo pai de dois meninos (8 e 10 anos atualmente), meu interesse pelos desenhos animados foi aos poucos dando lugar à exaustão. Eles também vão crescendo, e depois de vencer alguns medos entraram firme no mundo de Thor e do Capitão América –para o qual minha paciência é bem menor.
Fomos todos ver a pré-estreia de “Madagascar 3”, e de minha parte era mínima a disposição para gostar do filme.
A menos que já se trate da senilidade que avança, achei o melhor “Madagascar” até agora. Como espetáculo visual, supera de longe os dois anteriores, e o fim da história não podia ser mais apoteótico.
É que os quatro amigos do Zoo de Nova York têm de fugir de uma policial-caçadora psicopata, e conseguem se abrigar num circo. É bem caracterizada, aliás, a altivez corporativa dos animais-artistas diante dos heróis recém-chegados. Uma onça pintada, sempre direta, franca, e ao mesmo tempo desconfiada, faz o vaidoso leão passar maus bocados.
Não vou contar mais, a não ser para dizer que, em duas ocasiões, números no estilo do “Cirque du Soleil” são apresentados num teor de delírio de só os melhores desenhos animados são capazes de fazer.
Os roteiristas resolveram que, num desenho animado, afinal tudo é possível. Claro que, mesmo num mundo de animais falantes e proezas físicas diversas, algumas regras de plausibilidade sempre são mantidas; é certo que um animal não quebre as costelas ao cair de um precipício, por exemplo. Mas se, em qualquer circo, coisas inacreditáveis se tornam possíveis, imagine-se o que um circo de desenho animado é capaz de fazer, quando ameaçado de destruição. O impossível não existe, diz um personagem de “Madagascar 3”, e o filme celebra isso muito bem.

Madagascar- divulgação/dreamworks

 

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