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Marcelo Coelho

Cultura e crítica

Perfil Marcelo Coelho é membro do Conselho Editorial da Folha

Perfil completo

As fotos de Lartigue

Por Marcelo Coelho
14/03/14 07:21

Vão aqui algumas fotos de Jacques-Henri Lartigue, cuja exposição no Instituto Moreira Salles comentei no post anterior.

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Existe quase sempre, nas imagens de Lartigue, essa procura de captar alguém “fora do ar”, em pleno voo, mas microssegundos antes de estatelar-se no chão (ou na água).

Outra coisa que não deu tempo de comentar é que o instante do “voo” muitas vezes vem acompanhado do registro de um reflexo –na água, na terra molhada –como se o reflexo, nítido ou impreciso, representasse a própria realidade fotografada. Desse modo, o reflexo parece simbolizar a ação de quem fotografa, é a imagem do próprio negativo fotográfico, do esforço de registrar o que está acontecendo. Imagem da fugacidade da imagem, fotografia da fragilidade da fotografia…

lartigue5

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Se não há reflexo, há pelo menos a sombra…):

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Esta é a foto de que mais gosto, e que comentei mais extensamente no texto:

 

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(fotos pinterest)

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Duas felicidades

Por Folha
12/03/14 02:00

De Santos Dumont, o normal seria ver fotos num aeroplano, ou sentado à mesa de trabalho. Mas nunca tinha visto imagens do pai da aviação… dirigindo um carro de corrida, ou —pior ainda— praticando equitação num dos parques mais chiques de Paris.

As duas fotografias aparecem numa exposição do Instituto Moreira Salles, dedicada a Jacques Henri Lartigue (1894-1986). Chama-se “A Vida em Movimento”, e não por acaso Santos Dumont surge como um personagem fugaz nas incontáveis fotografias que Lartigue tirou ao longo de sua vida quase centenária.

Os primeiros aviões, os primeiros carros de corrida, os campeonatos de balonismo, muitas festividades do turfe, jogos de tênis e tombos de bicicleta fazem parte do cotidiano encantado desse filho da alta burguesia francesa.

O pai, engenheiro e diretor da Companhia Franco-Argelina de Estradas de Ferro, era ele próprio entusiasta do automobilismo. Deu a Lartigue sua primeira câmera fotográfica em 1902, quando o menino tinha oito anos.

O culto da velocidade, dos aviões e dos esportes é bem típico, como se sabe, da estética modernista —em especial antes da Primeira Guerra, momento em que se percebeu o potencial assassino de tantas invenções técnicas.

Apesar de sentir a perda de vários amigos no morticínio de 1914-1918, Lartigue não parece guardar, em suas fotografias, nenhum vestígio das grandes tragédias do seu século.

A Segunda Guerra o encontra na Côte d’Azur, clicando os grandes hotéis brancos entre palmeiras, assentados nas praias de cascalho. No castelo da família, todos organizam palhaçadas na piscina.

Futilidades, sem dúvida. Um dia, Lartigue passou uma boa meia hora tentando fazer seu gatinho dar o salto justo para ser fotografado em pleno voo. Pendurou uma bola de papel na linha de uma vara de pesca, de modo a atrair o bichano.

A foto, de 1918, associa-se na exposição à grande quantidade de pessoas também surpreendidas em pleno ar. Num grupo que joga bola na praia, alguém se estica para realizar uma defesa acrobática; um primo gordo se imobiliza no papel de prata logo depois de largar o trampolim; mulheres adultas brincam de pula-sela.

Na foto que com justiça foi escolhida para o cartaz da exposição, um menino sorridente e descabelado, fora de foco devido à rapidez do movimento, se arremessa sobre um grande castelo de areia, rodeado de um daqueles fossos com que se espera manter domada a água do mar.

A praia, como tantas do litoral europeu, é longa, triste, chuvosa. O menino se destaca contra a água prateada e calma, num lampejo escuro de ideograma japonês.

Traduzir o ideograma não é difícil: para Lartigue, é a felicidade. Vale a pena prestar atenção, contudo, na parte inferior de cada foto. Ou temos uma areia úmida, quase negra, que só de olhar nos enregela, ou se trata da água da piscina, onde todos se divertem sem sentir o quanto é espessa, sombria e sem fundo.

Eram piscinas antes de se descobrir, creio, o uso do cloro. Não há nada de californiano, de solar, de leve nesses verões franceses.

Os personagens de Lartigue estão sempre sobrevoando a realidade —mas ele deixa pressentir que esse voo é curtíssimo, dura apenas o tempo de um clique fotográfico, e faz parte do programa, logo em seguida, estatelar-se no chão.

Bem diversas, sem dúvida, são as imagens de felicidade feitas por Cartier-Bresson (1908-2004). Penso nas fotos que ele tirou celebrando, nos anos 1930, a recente conquista das férias coletivas para os trabalhadores, no breve governo de esquerda da Frente Popular.

Não há sensação de fugacidade ali; o inigualável senso de Cartier-Bresson para a composição espacial parece acomodar grupos de pessoas, objetos, paisagem e gestos num equilíbrio sem fim.

Sabemos que as harmonias de Cartier-Bresson também foram resultado do acaso; são precárias, irão desfazer-se logo depois de tirada a foto. Lartigue não parece pensar, entretanto, em simetria: tudo é uma sucessão de instantes, a reencenar sempre —mas nenhum será abençoado pela perfeição.

Duas ideias de felicidade, talvez. A de Lartigue feita de excitabilidade insaciável, de explosões de energia, de desafio às leis da gravidade e da vida. A de Cartier-Bresson mais feita de estados que de instantes, de pacificação consentida e de aceitação do tempo.

Nenhum dos dois haverá de estar errado, apesar de visões tão distintas a respeito do assunto. Viveram, ambos, quase até os cem anos —e o que a vida pode ter de negativo eles deixaram, sem dúvida, no estúdio de revelação.

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As tentações de Joaquim Barbosa

Por Folha
05/03/14 03:00

Começo com uma banalidade. É natural que uma pessoa pobre sonhe em ficar rica. Mais forte, entretanto, é o sonho de enriquecer de novo quando se perde a fortuna possuída.

É mais fácil se contentar com o pouco que sempre se teve do que com o muito que se tinha, e que já não se tem mais.

Acredito que a regra funcione não só em matéria de dinheiro, mas em questões de poder também. Digo isso pensando no caso do ministro Joaquim Barbosa.

O presidente do STF deixou claro, tempos atrás, que não tinha intenção de concorrer a nenhum cargo eletivo; pelo menos, a disputa pela sucessão de Dilma Rousseff não estava no seu horizonte.

Uma coisa, entretanto, é não ter esse tipo de ambições quando tudo lhe parecia sorrir no caso do mensalão. A vitória sobre as teses da defesa estava garantida; a maioria dos réus, a começar de José Dirceu, tinha sido condenada.

Outra coisa é sentir, como Joaquim Barbosa declarou na semana passada, que todo o seu trabalho estava sendo “posto por terra”. Com a presença de Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, não foi apenas na questão da quadrilha que o jogo parece ter virado no STF.

Corretamente ou não, Barbosa pode imaginar que, dada a nova composição dos membros do tribunal, dificilmente os responsáveis pelos próximos escândalos políticos serão punidos com a mesma severidade.

Tendo a acreditar, como dizem alguns inconformados com as decisões da última semana, que no STF de hoje nem mesmo a denúncia do Ministério Público contra os mensaleiros seria aceita.

Derrotado, Joaquim Barbosa está na situação de quem já teve o doce nas mãos e vê, de repente, que tudo não passara de um sonho. Não tem o poder de construir uma nova maioria no STF, e muito menos (embora pareça acreditar nisso) a capacidade de impor no grito suas próprias opiniões.

Ponho-me no lugar de Joaquim Barbosa. Como não acalentar a ideia de, um belo dia, nomear sozinho os futuros membros do STF? Vingar-se de Barroso, Teori e Lewandowski a partir de um lugar com muito maior poder de fogo?

A conjuntura eleitoral parece favorável a esse tipo de pretensão. Todo o clamor das manifestações de junho, contraditório como era, desapareceu sem ter sido atendido.

Eduardo Campos e Aécio Neves podem ser tão oposicionistas quanto desejem, mas não expressam aquele tipo de impaciência, de revolta, presente nas ruas. Mesmo porque, qualquer o partido a que se pertença, sempre há mensalões parecidos no fundo de alguma gaveta.

Isso é um movimento de direita ou de esquerda? Perguntava-se isso a propósito das manifestações. Havia as duas coisas. Também as duas coisas estão presentes, provavelmente, no ímpeto de Barbosa.

Violento contra o PT, ele não é menos antipático com relação aos erros ou hábitos da “mídia burguesa”. Quer figurões petistas na cadeia, não porque sejam ou tenham sido de esquerda, mas porque se recusa a aceitar que na cadeia só fiquem os pobres, os pardos, os negros.

Está desvinculado dos partidos. Parece disposto a condenar tucanos e petistas com a mesma fúria dos muitos manifestantes que rejeitavam Feliciano, Dirceu, Alckmin e Haddad num único, amplo e vago movimento.

Falta-lhe tempo na televisão (mas como ele teve tempo ao longo deste julgamento!); falta-lhe um partido de tamanho conveniente (mas é por ter achado um que Marina Silva esvaziou-se de seu potencial expressivo); falta-lhe capacidade de negociação política (mas é disso que tanta gente está cansada).

André Singer apontou, em sua coluna de sábado passado, o potencial de Joaquim Barbosa como candidato capaz de levar a sucessão de Dilma Rousseff ao segundo turno. É fato que as pesquisas, mesmo quando incluem o nome do ministro, garantem boa vantagem para a atual presidente, especialmente nas menores faixas de renda.

Mas é possível repetir-se aquele conhecido fenômeno que abala a política brasileira, a cada duas ou três décadas: primeiro Jânio Quadros, depois Collor de Mello, representaram a impaciência com os partidos e com a corrupção. O destino administrativo, político e pessoal desses personagens não foi, como se sabe, coerente com seu sucesso eleitoral.

Inflexível, autoritário, popular, emocional, Barbosa não é um demagogo nem um charlatão; suas diferenças com os dois antecessores são inegáveis. Não é impossível, entretanto, que a função —ou o drama— que ambos protagonizaram venha a repetir-se com seu nome.

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Robôs

Por Folha
26/02/14 03:00

Eles estão entre nós. Muito diferentes, contudo, do clássico modelo em que se incluem a doméstica Rosie, dos Jetsons, a “lata velha” da família Robinson em “Perdidos no Espaço”, ou o R2-D2 de “Guerra nas Estrelas”.

Para preencher esse modelo de robô típico, o indispensável seria, provavelmente, ter rodinhas, ou trilhos, no lugar de pés. Quanto ao resto do corpo, embora sólido como uma máquina de lavar, o robô se divide em partes correspondentes às do corpo humano.

Os braços, ainda que terminem em forma de chave inglesa, haverão de ser braços de gente. A cabeça, podendo girar em 360 graus, ainda assim é cabeça; boca e olhos serão de zinco e titânio, mas funcionarão como os órgãos de qualquer humano.

Assim era Rosie, que para melhor indicar sua função na família de desenho animado, mantinha o avental e a touquinha de uma empregada da primeira metade do século 20.

Pegue-se, em suma, uma assalariada normal, substitua-se seu corpo de carne por uma estrutura de ferro cinzento, eliminem-se as suas pernas. Eis o robô das imaginações gerais, e provavelmente não o conheceremos em nossa vida cotidiana. Vale repetir, todavia: logo teremos todos robôs em casa. Talvez já os tenhamos sem perceber. Não falta muito.

Temos notícia de geladeiras que já avisam o proprietário se falta algum produto; podem inclusive encomendar diretamente ao supermercado a reposição do estoque familiar.

Qualquer carro nos avisa quantos quilômetros podemos rodar ainda com a reserva do tanque de combustível. Com o GPS acoplado, ele também fala, explicando o caminho até o próximo posto. Outros estacionam automaticamente na vaga.

Em parte, esse carro já é um robô; a luz do espírito, da linguagem, do diálogo, já se vislumbra em seus circuitos e atravessa a lataria. Logo chegará o dia em que o motorista de táxi humano deixará de existir.

O que teriam imaginado os escritores de ficção científica ou os produtores de desenho animado? Provavelmente, em vez de um carro inteligente, teriam criado um motorista de lata. Pensava-se na anatomia de um ser humano; não se antecipou a ideia de que o segredo para fazer robôs estava em outro lugar.

A saber, no processamento de informações, na resposta a estímulos. É assim que funciona, por exemplo, um modelo já disponível no mercado brasileiro, ao preço de R$ 1.500 mais ou menos.

Trata-se do aspirador-robô. Ele elimina todo traço humano. Seu formato é de uma embalagem térmica redonda, do tipo que os entregadores de pizza carregam no compartimento da motocicleta.

Essa pizza média deve ser carregada na tomada e, ao toque de um botão, começa a andar sozinha pela casa. Sabe subir no tapete, desvia-se das paredes e dos móveis, girando a esmo, enquanto na parte de baixo uma vassourinha circular empurra a poeira a ser sugada.

Não tem arestas, prolongamentos, olhos ou pezinhos. Sua “robozice” está no fato de que não precisamos controlá-lo. É, em suma, um eletrodoméstico que se move —não um empregado de metal.

Construa um telefone que se aproxime de você quando alguém estiver chamando; um cabide de roupas que o acompanhe até a piscina; uma geladeirinha que traga um copo d’água até a poltrona, um micro-ondas em miniatura que leve sacos de pipoca a cada espectador do cinema: serão robôs.

O que os caracteriza, do ponto de vista físico, é a mobilidade —e não a imitação do humano. Do ponto de vista tecnológico, sua capacidade está em atender a uma demanda específica do consumidor, num esquema de demandas e respostas.

Verdade que vi recentemente, num aeroporto brasileiro, um robô ao velho estilo. Não tinha boca nem olhos de metal, mas sim uma tela, onde se via um rosto feminino desenhado. Oferece, na barriga, serviços de informação: mapa do aeroporto, contato com táxis, não sei se emissão de passagens.

Deslocava-se lentamente com rodinhas, num corpo esmaltado e branco que evocava a figura de uma mulher de saia. As crianças adoravam o brinquedo. De fato, a geringonça não tinha muita razão de ser; poderia ser apenas um posto de informação fixo, sem imitar a mobilidade humana.

Tratava-se, apenas, de uma homenagem “pós-moderna”, isto é, irônica e lúdica, a um futuro imaginado antigamente, que não existe mais. A imagem do humano, que se projetava naqueles seres de rodinhas, dissolveu-se da tecnologia contemporânea.

Logo estaremos, isso sim, rodeados de bichos com luzinhas e sensores, celulares alados e aspiradores aracnídeos, cortadores de unha semoventes, laptops à espreita, patinetes em nosso encalço. Será, para recorrer a outra fábula de ficção científica, uma verdadeira invasão de marcianos.

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Black blocs, um depoimento

Por Marcelo Coelho
22/02/14 14:43

Um leitor do Rio de Janeiro me escreve, deixando valioso depoimento.

Na curiosidade de cientista social e de quem vê a filha de 13 anos questionar os gastos com a construção de estádios para a Copa, comparando-os com os parâmetros internacionais (…) fui tentar entender estes jovens, em especial os Black Blocs.

Acampei por 3 dias na frente da casa do governador junto a eles.

Nesta ocupação, havia desde movimentos organizados, nucleados por lideranças, até infiltração de gente de oposição. Havia participantes puramente ideologizados, com algum conhecimento de pensadores como Gramsci, Marx, Chomsky e até mesmo o pop agitado do Zizek. Nesta mistura, nada de diferente do que conhecemos, ao menos desde meus tempos de faculdade.

Nesta ocupação você também encontrava jovens que, apesar de achar que tinham um pensamento de esquerda, não se viam representados pelas organizações e movimentos sociais. Quando você conversava um pouco, via que eles nada mais representavam que um “neo-udenismo”, um conservadorismo com algumas ações de mobilização.

E havia os Black Blocs. Eles se aproximaram, e pude conversar com eles.

Alguns pontos pareciam ser comuns a todos, e acho interessante ressaltá-los.

1. Eles não têm liderança. Não da forma que conhecemos. Logo, negociar com eles é quase impossível. A pauta é difusa.

2. Eles não percebem a diferença entre um Lula e um Sarney. Para eles, os dois representam o poder constituído.

3. O ascenso da classe C, num quadro onde o consumo foi o indicador de inserção social, tornou inevitável a existência de pautas específicas e pragmáticas. Digamos que, ao “aburguesar a periferia”, a política social do governo na verdade criou um gigantesco pensamento classe média que tende a ser muito mais pragmático que ideológico.

4. Boa parte dos black blocs tem emprego. Outros apenas estudam. Mas não têm uma organização de presença de rua de fato. E não foram instrumentalizados por quem teria intenção de fazer a ocupação. Tudo é como se eles tivessem lido um tutorial da internet. E junto a isto, sim, um rancor contra a sociedade da forma em que é constituída. Eles não leram Proudhon nem Bakunin. No máximo citam frases soltas, que bem poderiam ser da Clarice Lispector. Mas eles são sim, um caldeirão passível de instrumentalização. Este é o meu receio.

 

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Mutilação e outros tipos

Por Marcelo Coelho
22/02/14 14:10

Num post anterior, escrevi que em Cingapura a mutilação genital feminina é legalizada. Um leitor, que mora lá, escreve para esclarecer o ponto.
Há quatro tipos de circuncisão genital feminina, e só o primeiro, mais leve, seria permitido em Cingapura. O link é muito esclarecedor.

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O avesso e o direito

Por Marcelo Coelho
21/02/14 19:50

O avesso e o direito

Dirceu, Genoino, Delúbio cometeram vários crimes juntos. Contaram, ademais, com a ajuda de dirigentes do Banco Rural, que se encarregaram da lavagem do dinheiro do mensalão.
É o bastante para chamar o grupo de “quadrilha”? A resposta a essa pergunta vale dois anos e pouco no cálculo das penas, o que para alguns réus significa a diferença entre ficar em regime fechado ou poder ficar fora da cadeia durante o dia.
Com vários argumentos, os advogados iniciaram os debates na sessão de ontem do Supremo. Oscilou muito, entretanto, a qualidade das suas intervenções.
Com ares de tenor enfurecido, o advogado de José Genoino chamou Roberto Jefferson de “mentiroso”, e foi longe na politização do debate. Os petistas não formaram quadrilha nenhuma. Formaram, isso sim, um “partido político”, que desde 1980 luta por seu “projeto de poder”.
Projeto vencedor, frisou Luiz Fernando Pacheco, e que tem o apoio da maioria do povo brasileiro. Se fosse quadrilha, estaria o povo disposto (como dizem algumas pesquisas de opinião) a reeleger Dilma já no primeiro turno?
A pergunta do advogado –bastante otimista, aliás—esquecia que a presidente nunca foi acusada de participar do mensalão; partiu do pressuposto, sem dúvida o de muitos petistas, de que é o PT inteiro quem está em julgamento.
Os advogados dos banqueiros puderam colocar a discussão em termos mais adequados. Ainda que tímida e sem fluência oratória, a jovem Maria Saloni desenvolveu com clareza o problema conceitual em torno da “formação de quadrilha”.
Uma coisa é cometer crimes com a ajuda de outras pessoas. Na linguagem jurídica, trata-se de “co-autoria”, ou “concurso de agentes”. Roubar um banco é coisa que não se faz sozinho.
Outra coisa é montar uma equipe, que existirá de forma estável, ao longo do tempo, com o fim de realizar diversos crimes.
Para a advogada de José Roberto Salgado, o dirigente do Banco Rural não pode ser acusado de pertencer a quadrilha nenhuma. Mesmo aceitando a sua condenação por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta, não é que ele participasse de todo o “projeto”, digamos assim, do PT e dos mensaleiros.
Fez-se, na verdade, uma acusação de “ponta-cabeça”, imaginou-se uma quadrilha “às avessas”. Verifica-se a ocorrência de vários delitos, vê-se que várias pessoas os praticaram em conjunto, e constrói-se, a partir daí, a acusação de que houve quadrilha.
O certo, segundo o raciocínio da defesa, seria começar da outra ponta. Primeiro, é preciso provar a existência de uma associação estável, visando a cometer crimes. Depois, se for o caso, cumpre provar os crimes cometidos, que se somariam ao crime inicial, o de ter formado uma quadrilha.
Representando Kátia Rabello, o advogado Theodomiro Dias Netto resumiu a mesma ideia. Haverá crime de quadrilha quando existir essa organização estável, até mesmo se nenhum crime for cometido. Elimine-se, por hipótese, a lavagem de dinheiro cometida por Kátia Rabello: não restaria nada indicando que ela pertencesse à “quadrilha” de Dirceu.
Seria, portanto, apenas um mecanismo para aumentar a pena de crimes já cometidos e julgados.
Foi a vez de Rodrigo Janot, pela acusação, responder a esses argumentos. Para o Ministério Público, não houve “quadrilha às avessas”, nem raciocínio de ponta-cabeça.
O que houve foi a conclusão, com base nos crimes provados, de que tudo só foi possível graças à constituição de uma organização criminosa. Deduziu-se, com lógica difícil de contestar, a existência de uma quadrilha –uma vez que lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e outros delitos só ocorreram porque havia uma quadrilha em funcionamento…
Modos diversos, como se vê, de qualificar os mesmos fatos. Na semana que vem, os ministros decidem de vez a questão.

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Tiro, porrada e bomba

Por Folha
19/02/14 03:00

Vestida de rainha, em seu palácio de Cinderela, a funkeira Valesca Popozuda ameaça com “tiro, porrada e bomba” as inimigas que invejam sua emergência social.

Foi o tema do artigo que escrevi na semana passada. Mas essa celebração de tudo que é “tiro, porrada e bomba” encontra, infelizmente, outros exemplos no Brasil de hoje.

Desde que a esquerda abandonou a luta armada, há coisa de quarenta anos, ninguém mais pensava em promover grandes transformações sociais pela violência. Com nuances, um discurso mais simpático a essa atitude, inspirado sem dúvida pelas bizarrices do filósofo Slavoj Zizek, encontra alguns adeptos por aqui.

Toda essa aproximação, ainda que vaga, com a tática dos “black blocs” não faz mais do que jogar lenha na vasta fogueira inquisitorial da direita.

Será fácil, como nos anos 1970, associar todo pensamento democratizador, igualitário e timidamente socialista aos “baderneiros”, aos “terroristas”, aos “black blocs” e, por que não, aos “comunistas”. Como se não vivêssemos, no panorama internacional, a verdadeira baderna criada por George Bush, pelos neocons e pelos irresponsáveis do mercado financeiro —sempre aplaudidos pela direita local.

No horror aos desatinos persecutórios da direita, há quem se confunda. O moderado de esquerda muitas vezes toma as dores dos sectários, dos fanáticos, dos radicais, porque reconhece e abomina a caça às bruxas.

Mas esses grupinhos violentos de esquerda não têm por que serem vistos como aliados de quem quer mais progresso social. Os “black blocs”, ou seja lá quem for, atrapalham, combatem, inviabilizam esse caminho.

O progressismo, ao ser moderado, não necessita ser menos firme por causa disso. Rejeita com firmeza a direita do “prende e arrebenta”, assim como rejeita o suposto charme radical do “bota pra quebrar”.

Reconheço que é uma atitude meio sem graça, que de tanto olhar para os dois lados se imobiliza na inação. Infelizmente, as pessoas sensatas às vezes são as mais desinteressantes, e do bom senso não se pode esperar grandes novidades.

O mais preocupante é que o vandalismo, de certa forma, interessa a muita gente ao mesmo tempo. Ajuda o campo truculento das forças policiais, que precisam legitimar os excessos em que incorrem, por vício de formação. Ajuda o campo conservador, que pode colocar no mesmo saco toda crítica ao capitalismo e ao autoritarismo de Estado.

Ajuda, ao mesmo tempo, petistas e antipetistas. Os críticos do PT podem atacar as tentativas de “diálogo” com os “black blocs”. O PT e aliados podem se livrar dos ataques que recebiam durante as manifestações.

Não se sabe quem são, e em que medida existem, os financiadores do vandalismo. Mas, pela quantidade de forças a quem os vândalos terminaram ajudando, o caixa dessa turma já poderia estar maior do que o do tio Patinhas.

Curiosamente, produziu-se uma espécie de “anticonsenso”. Durante as manifestações de junho, sempre havia alguém defendendo alguma coisa com a qual milhares de outros podiam concordar. Havia caminho para um grande (não digo que fácil) acordo nacional.

A situação se inverteu: o caminho está aberto para o desacordo acirrado e completo, em que cada Valesca mostra unhas e dentes para as rivais.

Caso exemplar desse tom agressivo foi o da comentarista Rachel Sheherazade. Diante da foto do menor de rua amarrado nu a um poste, ela foi longe: é uma reação de “legítima defesa” da sociedade, e a quem se apieda do “marginalzinho”, ela lançou a campanha “adote um bandido!”.

O seu raciocínio não poderia ser mais típico da mentalidade extremista. Ou você acha certo amarrar um marginalzinho a um poste, ou então você deve adotar o garoto, acolhendo-o em sua própria casa.

Não há, nesse raciocínio, atitude intermediária. Todo caminho médio é “irrealista”. Ou você mata ou beija. Quem não conhece a típica frase dos torturadores, segundo a qual você “não trata bandidos com luvas de pelica”? É nessa mentalidade, mas do lado oposto, que Joaquim Barbosa vira “torturador” e que José Dirceu vira “preso político”.

De onde vem tanto extremismo? Há uma “policialização” do ambiente, irrompendo através da nossa película mais civilizada.

Afinal, no mundo da classe baixa, correm soltas as divisões: quem não está com o traficante está com a polícia, quem não é evangélico fundamentalista está entregue a Satanás. Suba um andar nesse barraco: quem é contra o PT é golpista, e quem é de esquerda apoia Pol Pot e Fidel.

Quem não está comigo é meu inimigo, e, como diria Valesca Popozuda, merece “tiro, porrada e bomba”. O castelo encantado dessa rainha é o favelão da nossa atual miséria ideológica.

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Aborto: "saúde pública"?

Por Marcelo Coelho
16/02/14 14:38

A mutilação genital feminina é proibida na Inglaterra, como deveria ser em qualquer país civilizado. Reportagem da BBC, publicada hoje, mostra que em Cingapura –onde a prática é legal—oferecem-se serviços aos pais de meninas britânicas que queiram extirpar-lhes o clitóris.

Serão confiáveis essas clínicas? Não haverá, mesmo na Inglaterra, clínicas clandestinas ou mesmo senhoras amadoras capazes de resolver isso pelas próprias mãos, conforme aliás as melhores tradições tribais?

Carrego um pouco na ironia para tratar o assunto de outro ângulo.
Já escrevi várias vezes, na Folha, a favor da legalização do aborto. Cito:
O embrião é sem dúvida uma vida humana. Mas não consigo me convencer de que seja uma pessoa. Pode alguém ser uma pessoa antes de nascer? Pode alguém ser “alguém” antes de nascer? Seus direitos nascem antes do nascimento? Como posso dizer que sejam “seus”?

Mas o que não me convence é a tese, tão frequente entre políticos quando pressionados a falar sobre o assunto, segundo a qual o aborto “é uma questão de saúde pública”.
Por isso comecei falando da mutilação genital feminina.
Imagine que existam clínicas clandestinas e curandeiras fazendo isso no país.

Seria, também, uma questão de “saúde pública”? Melhor, então, legalizar a prática e zelar para que seja feita em perfeita condições de higiene…?

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Luxo e miséria das popozudas

Por Folha
12/02/14 03:02

O clipe me chegou pelo Facebook, e é tão delirante que merece comentário. Chama-se “Beijinho no Ombro”, e o título só na aparência transmite mensagens amorosas.

Trata-se da produção mais recente da musa funk Valesca Popozuda. O vídeo, disponível no YouTube, começa em grande estilo: sobre um fundo negro, as letras brancas de “Map Style Entertainment” se destacam com elegância, em perfeita imitação do que seria o começo de um filme indicado ao Oscar.

Sons de filme gótico introduzem o ambiente, um castelo branco-azulado, como nas melhores produções de terror dos estúdios ingleses da Hammer, na década de 1970. Monges de capuz avançam lentamente na penumbra, prestando reverência a uma rainha coberta de vison preto.

É ela, Valesca: uma loira de traços algo masculinos, cabelos presos em coque, brincos de brilhante. Não chega a ser inconvincente na imagem de “grande dama”, algo que só mais adiante, quando ela começa a cantar, sua voz e seu sotaque irão comprometer.

O close no seu rosto se interrompe, há um corte no filme, para dar lugar a outra cena… em que aparece a mesma Valesca, no mesmo cenário, só que agora com outra roupa, descendo a escada do palácio.

Ela está vestida de rainha, até que bem, com mangas bufantes de cetim cor de vinho rosé, um diadema na testa, o mesmo olhar imperioso e classudo. Em primeiro plano, um lustre dourado de cristal. Não é tão de mau gosto como dou a imaginar nesta descrição. Estamos, talvez, num belo desfile de Carnaval, mas certamente longe da 25 de Março.

Só depois disso vemos que, da cintura para baixo, Valesca abandonou o estilo renascentista para adotar o visual típico da Xuxa em sua primeira fase. Botas, shortinho, meias fosforescentes. Os monges que a acompanhavam na primeira cena agora são bailarinos maquiados de calçãozinho preto, numa estética de strip-tease gay.

Agora ela entoa, com a mais assumida vulgaridade, o seu canto de guerra. Os plurais se atropelam. “Desejo a todas inimigas vida longa/ pra que elas veja cada dia mais nossa vitória.”

O “beijinho no ombro” não é uma carícia no namorado, mas o gesto de quem vira o rosto com desprezo antes de seguir em frente, deixando a fila das invejosas para trás. “Late mais alto que daqui eu não te escuto”, diz Valesca às supostas rivais.

“Do camarote quase não dá pra te ver”, completa a poderosa funkeira, e ameaça: “bateu de frente é só tiro, porrada e bomba”.

A música prossegue, e ela já trocou novamente de roupa e de cenário, toda de arminho, num trono vermelho de Papai Noel com neve artificial; mas volta ao vison, recai na Xuxa veneziana, entregue a um carrossel de fantasias que só termina com o recado definitivo: “rala, sua mandada”.

Muita coisa se mistura nesse clipe. Antes de mais nada, é o hino da emergente social, a que ascendeu “ao camarote”. Seu problema é que, embora tenha dinheiro para gastar, não se desvencilhou do círculo de origem. Não tem amigas nas “altas esferas”: dá-se, ainda, com as colegas mais pobres, tendo de enfrentar a inveja à sua volta.

É triste a situação: nesse enfrentamento, Valesca corre o risco de se revelar a “barraqueira” que não deixou de ser —e ameaça com “tiro, porrada e bomba” as possíveis inimigas. Como prosseguir na nova vida, se para se defender está aferrada aos códigos do tráfico e da polícia?

A solução será a de imitar aqueles que, mesmo privilegiados, tenham sido oprimidos também. Nada melhor que o gay rico em algum lugar do passado: sabe o que é o triunfo e a humilhação.

Valesca Popozuda se veste de rainha e se mostra desdenhosa em seu poder, como se correspondesse, digamos, ao sonho que Clodovil Hernandes tinha a respeito de suas vidas passadas.

É possível que algum gay da velha guarda imaginasse um tipo de mulher dominadora, rainha de conto de fadas, figura de infância inatingível, que lhe tivesse roubado o falo. A funkeira concretiza, na vida real, essa madame imaginária.

Não é apenas uma mulher dona de si mesma, mas uma madame “assumida”, como se falava dos “gays assumidos” 30 anos atrás, ou da “direita assumida” do cenário político atual. Com injeções de silicone, ela pode construir legitimamente, em pleno direito, o corpo feminino que alguns homens gostariam de ter.

Aquele universo infantil de Disneylândia e Parque da Xuxa é também um castelo assombrado, em que a “popozuda” adquire poder invocando os fantasmas de Clodovil e Clóvis Bornay.

O imaginário emergente, com suas fantasias de luxo, medo da inveja e agressividade à flor da pele, exalta o corpo perfeito e o “sucesso merecido”. Mas perde tempo quem procurar sinais de felicidade nisso, tal o peso da violência e do ressentimento.

Há outras formas de celebrar a ascensão social no mundo “funk”, mas ficam para um próximo artigo.

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